O déficit no saneamento básico continua afetando a saúde da população goiana. Em 2023, o estado registrou a segunda maior taxa de mortalidade do país por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), com 11,5 mortes para cada 100 mil habitantes. Foram 818 óbitos no total, número inferior apenas ao de Roraima. O levantamento foi divulgado pelo Instituto Trata Brasil com base em dados dos Ministérios das Cidades e da Saúde.
Além da alta mortalidade, Goiás também se destacou negativamente no número de hospitalizações. Em 2024, foram registradas 21.476 internações por doenças ligadas ao saneamento, com taxa de 29,2 casos para cada 10 mil habitantes. O estado liderou o ranking da região Centro-Oeste e ficou entre os três com mais hospitalizações no Brasil.
Dengue impulsiona internações no estado
O levantamento apontou que a epidemia de dengue teve um papel significativo nesse cenário. A doença foi responsável por mais da metade das internações por DRSAI em Goiás. Em 2024, foram registrados 321 mil casos e 429 mortes no estado. Goiânia, por sua vez, contabilizou 48.283 casos no ano passado, com 113 ocorrências graves e 70 óbitos confirmados.
Até março de 2025, o estado já registrou 22.487 novos casos da doença, com 5.712 ocorrências apenas em Goiânia. Desses, 22 casos foram classificados como graves, e 15 óbitos estão em investigação. O acúmulo de lixo, a ausência de drenagem eficiente e a falta de tratamento adequado de esgoto contribuem para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
Além das doenças transmitidas por insetos, as enfermidades de transmissão feco-oral, como gastroenterites virais e bacterianas, seguem sendo um desafio. A ingestão de água contaminada e a falta de saneamento adequado são fatores determinantes para o aumento desses casos, principalmente entre crianças pequenas e idosos. Em Goiás, foram contabilizadas 5.578 internações desse tipo em 2024.
Impacto financeiro e necessidade de investimentos
As hospitalizações por doenças ligadas ao saneamento também resultam em gastos elevados para o sistema público de saúde. Apenas em 2024, Goiás destinou R$ 10,86 milhões ao tratamento desses pacientes. A maior parte desse montante – R$ 7,08 milhões – foi utilizada para atender casos de doenças transmitidas por insetos, principalmente dengue.
O impacto social também preocupa. O estudo revelou que a população mais vulnerável é a mais afetada. Em todo o Brasil, 64,8% das internações por DRSAI ocorreram entre pessoas pretas ou pardas, enquanto a população indígena apresentou a maior taxa de hospitalizações, com 27,4 casos a cada 10 mil habitantes.
A presidenta-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretro, destacou que os números de internações e óbitos diminuíram ao longo dos anos devido aos investimentos em saneamento. No entanto, a epidemia de dengue mostrou que a infraestrutura ainda é insuficiente. Segundo o instituto, a universalização do saneamento poderia reduzir em até 70% as internações por essas doenças, além de gerar uma economia de R$ 43,9 milhões ao ano.