Rota Agro atrai mais de R$ 7 bilhões em investimentos e promete revolucionar a logística entre Goiás e Mato Grosso
Concessão abrange 490 km de rodovias e prevê implantação de tecnologias modernas, ampliação de faixas, pedágios eletrônicos e preservação ambiental; economistas e engenheiros apontam impactos para o agronegócio e as finanças públicas
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciou nesta quinta-feira (27) a publicação do edital para a concessão do trecho rodoviário BR-060/364/GO/MT, batizado de “Rota Agro”. O projeto contempla aproximadamente 490,065 km de extensão e receberá, ao longo de 30 anos de concessão, um investimento superior a R$ 7 bilhões provenientes da iniciativa privada. O objetivo é destravar gargalos logísticos e modernizar os principais corredores de escoamento da produção agrícola entre Goiás e Mato Grosso — estados que, juntos, representam quase 30% da produção nacional de grãos, segundo a Conab.
A licitação está marcada para o dia 14 de agosto de 2025 e o trecho concedido vai do entroncamento da BR-060 com o contorno de Rio Verde até a entrada da BR-364 no município de Jataí, avançando por regiões estratégicas como Santa Rita do Araguaia (GO) e Alto do Araguaia (MT), até alcançar a BR-163 em Rondonópolis (MT).
Novo padrão de concessão rodoviária
Além da extensão significativa e dos recursos expressivos, o projeto da Rota Agro se destaca pelo modelo inovador de concessão. Estão previstas cinco praças de pedágio com possibilidade de implantação do sistema “Free Flow”, tecnologia que permite a cobrança automática por meio de sensores, sem necessidade de barreiras físicas. Isso elimina filas, reduz o tempo de viagem e diminui o consumo de combustível.
“Esse tipo de inovação representa uma ruptura com o modelo tradicional. O Free Flow é tendência mundial e sua adoção no Brasil coloca o país em linha com o que há de mais moderno na mobilidade rodoviária”, analisa Leandro Carvalho, engenheiro civil e especialista em infraestrutura viária.
A expectativa é que a concessão promova uma transformação logística capaz de beneficiar diretamente setores produtivos que dependem da malha rodoviária para exportar grãos, carne e insumos. Só em Goiás, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária (Faeg), mais de 85% da produção agrícola é transportada por caminhões, o que torna a infraestrutura viária um ponto crítico de competitividade.
Intervenções físicas e segurança viária
A Rota Agro prevê uma série de obras estruturantes. Entre elas:
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45,62 km de duplicação de pista
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150,92 km de faixas adicionais em rodovias de pista simples
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30 paradas de ônibus com infraestrutura adequada
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17 rotatórias alongadas
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21 passagens de fauna
As intervenções são voltadas à melhoria da segurança, da fluidez no tráfego e da preservação ambiental. Também estão previstas a instalação de barreiras acústicas, passarelas para pedestres e caixas de contenção para produtos perigosos, que devem atender exigências da legislação ambiental e da segurança de transporte de cargas tóxicas.
“As passagens de fauna e as barreiras acústicas são estratégias importantes para mitigar os impactos ambientais. É uma abordagem mais integrada da concessão, que considera o território como um ecossistema complexo”, afirma Fernanda Vasques, bióloga e consultora em sustentabilidade rodoviária.
Impacto econômico e financiamento
Com aportes que ultrapassam R$ 7 bilhões em 30 anos, a concessão representa também um novo arranjo de financiamento para infraestrutura, agora com foco no capital privado. Para o economista Felipe Brandão, consultor em logística e políticas públicas, o projeto simboliza um avanço no modelo de Parcerias Público-Privadas (PPPs), com potencial para aliviar o caixa do governo federal e ao mesmo tempo atender demandas do setor produtivo.
“Estamos diante de uma concessão de alto impacto. Não apenas pelos valores envolvidos, mas pela capacidade de retorno em forma de produtividade, exportações e geração de empregos. O agronegócio já é o principal motor da economia brasileira. Investir em logística é multiplicar esse motor”, avalia Brandão.
Segundo ele, com a atual taxa de retorno estimada para o setor de transporte e logística, o investimento poderá gerar um crescimento direto de 0,3 ponto percentual no PIB agrícola regional nos primeiros cinco anos de concessão.
Acesso ao mercado externo e integração logística
O trecho beneficiado é uma das principais rotas de integração do Centro-Oeste ao mercado externo via os portos de Santos (SP) e Itaqui (MA). O acesso mais rápido e seguro a esses pontos de escoamento pode garantir ganhos logísticos consideráveis para a produção de soja, milho, algodão e carne bovina — principais itens da pauta exportadora goiana e mato-grossense.
O empresário rural Cláudio Medeiros, que atua em Itarumã (GO), vê a Rota Agro como uma oportunidade de eliminar gargalos históricos:
“Hoje, levamos até 12 horas para chegar a Rondonópolis com uma carga de soja. Se o fluxo melhorar, podemos reduzir esse tempo em até 25%. Isso impacta o custo do frete, o prazo de entrega e até o preço final do produto na exportação”, relata.
Cronograma e expectativas
A ANTT estima que o contrato será assinado ainda em 2025. A empresa vencedora terá obrigações imediatas, como a sinalização e recuperação de trechos críticos, e metas progressivas para duplicações, implantação de faixas adicionais e tecnologias inteligentes.
O leilão ocorrerá na B3, a bolsa de valores de São Paulo, e avaliará propostas com base em critérios técnicos e financeiros. Vencerá quem apresentar a melhor combinação de tarifa ao usuário e valor de outorga ao Estado.
Resumo do projeto “Rota Agro”
Elemento | Detalhes |
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Extensão total | 490,065 km |
Estados envolvidos | Goiás e Mato Grosso |
Investimento estimado | Mais de R$ 7 bilhões |
Fonte de recursos | Iniciativa privada |
Duração da concessão | 30 anos |
Obras previstas | Duplicações, faixas adicionais, paradas, passagens de fauna, rotatórias, barreiras acústicas |
Tecnologia | Pedágio Free Flow |
Leilão | 14 de agosto de 2025 (B3) |
Objetivos | Redução de acidentes, fluidez no tráfego, eficiência logística, preservação ambiental |