Brasil

Morre Marcos Vinicios Vilaça, imortal da ABL e referência da cultura brasileira

Imortal desde 1985, Marcos Vilaça foi uma das vozes mais influentes da cultura nordestina no século XX e presidiu a Academia Brasileira de Letras em dois mandatos.

O Brasil perdeu, neste sábado (29), uma de suas vozes mais respeitadas no campo da cultura, da literatura e da administração pública. Faleceu em Recife, aos 85 anos, o advogado, jornalista e escritor Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos, segundo comunicado da ABL.

Internado na Clínica Florença, no bairro das Graças, em Recife (PE), Vilaça era uma das figuras mais influentes do pensamento nordestino contemporâneo e ocupava a cadeira 26 da ABL desde 1985, sucedendo à escritora Rachel de Queiroz. A morte ocorreu apenas um dia após o falecimento da escritora Heloísa Teixeira, também membro da Academia.

Trajetória marcada pela cultura, política e pensamento nordestino

Nascido em 30 de junho de 1939, em Nazaré da Mata (PE), Vilaça construiu uma carreira múltipla. Formado em Direito, atuou como advogado, professor universitário, dirigente cultural e intelectual público. Foi professor de Direito Internacional na Universidade Católica de Pernambuco, diretor da Caixa Econômica Federal, secretário de Cultura do Ministério da Educação e Cultura e presidente de entidades culturais como a Funarte e a Fundação Pró-Memória.

Na área literária, Vilaça é autor de títulos que se tornaram referência na reflexão sobre o Nordeste e o Brasil:

  • Nordeste: Secos & Molhados

  • Recife Azul, Líquido do Céu

  • O Tempo e o Sonho

  • Em Torno da Sociologia do Caminhão

  • Por uma Política Nacional de Cultura

  • Coronel, Coronéis: Apogeu e Declínio do Coronelismo no Nordeste (com Roberto Cavalcanti)

Este último, considerado um clássico, disseca as estruturas de poder do coronelismo nordestino, sendo amplamente citado em estudos sobre política e cultura brasileira.

Duas vezes presidente da Academia Brasileira de Letras

Imortal desde 1985, Vilaça presidiu a Academia Brasileira de Letras em dois mandatos: entre 2006 e 2007 e novamente entre 2010 e 2011. Durante sua gestão, fortaleceu o papel da instituição como promotora de debate cultural e reformulou os projetos de divulgação da literatura nacional.

Era conhecido por seu estilo elegante, olhar crítico sobre a cultura brasileira e pela defesa incansável da valorização do Nordeste no cenário intelectual.

Vínculos políticos e familiares

Marcos Vilaça teve forte ligação com o ex-presidente José Sarney, que o nomeou para o TCU e o recebeu como imortal na ABL. Era viúvo de Maria do Carmo Duarte Vilaça, com quem teve três filhos. Era sogro do deputado federal Mendonça Filho, que também ocupou cargos públicos no Ministério da Educação.

Cremado à beira-mar, como desejava

Segundo familiares, o corpo de Marcos Vinicios Vilaça será cremado, e suas cinzas lançadas na Praia de Boa Viagem, em Recife, como foi o desejo do próprio escritor e também o destino final de sua esposa. A despedida simbólica marca a ligação profunda entre o autor e sua terra natal.

Nota de pesar: Caiado homenageia o “homem de vasta cultura”

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, publicou nota de pesar em suas redes sociais, lamentando o falecimento do escritor. Ao lado da primeira-dama Gracinha Caiado, o governador destacou o legado de Vilaça:

“Advogado, jornalista, poeta, ex-ministro, ex-presidente do Tribunal de Contas da União e membro da Academia Brasileira de Letras, foi um homem de vasta cultura e vida pública exemplar”, escreveu.

Caiado ainda estendeu solidariedade aos familiares, em especial ao deputado Mendonça Filho, e destacou o legado literário e institucional de Vilaça como “marcante e inspirador”.


O  adeus a um intelectual brasileiro completo

A morte de Marcos Vinicios Vilaça representa a perda de uma geração de intelectuais brasileiros que transitaram com fluidez entre a cultura, a política e a vida pública. Seu pensamento, profundamente enraizado no Nordeste, deixa como herança uma obra consistente, um exemplo de dedicação ao serviço público e à literatura, e um modelo de intelectual engajado e elegante.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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