Goiás amplia protagonismo no mercado de arte com evento exclusivo para colecionadores
Encontro exclusivo com colecionadores em Goiânia antecipa temas centrais da FARGO 2025 e discute os caminhos para consolidar o Brasil entre os protagonistas do mercado global de arte
A menos de dois meses da abertura da FARGO – Feira de Arte de Goiás, a capital goiana sediou, na última semana, um encontro exclusivo para colecionadores que marcou o início das movimentações em torno da 7ª edição da feira, prevista para ocorrer entre 14 e 18 de maio, no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC).
Realizado no sofisticado espaço do Flamboyant Urbanismo, o evento reuniu um grupo seleto de investidores, galeristas e especialistas para discutir o tema “Colecionismo e o mercado contemporâneo de arte”. A palestra principal foi conduzida por Nei Vargas, mestre e doutor em Artes Visuais, pesquisador premiado da Fundação Bienal de São Paulo e uma das maiores referências nacionais em economia da arte.
Brasil no radar do mercado global de arte: desafio e oportunidade
Durante o encontro, Vargas apresentou dados recentes que mostram um cenário em expansão, mas ainda carente de protagonismo global. O Brasil integra o grupo de países que compõem 8% do mercado mundial de arte, atrás de potências como Estados Unidos, China e Reino Unido. A meta, segundo o pesquisador, é clara: “Para alcançarmos relevância internacional, precisamos atingir pelo menos 1% do volume total de vendas. Atualmente, estamos em 0,89% — muito próximos, mas ainda aquém do potencial brasileiro”, afirmou.
O dado mais promissor vem das exportações: o aumento de 24% no valor das obras de arte brasileiras comercializadas para o exterior em 2023 aponta para um novo ciclo de visibilidade internacional. Internamente, 77% das vendas continuam sendo destinadas a compradores locais, o que reforça a relevância do colecionismo privado como sustentação do mercado.
Perfil dos colecionadores e o papel das galerias
Segundo estudo conduzido por Nei Vargas, o mercado brasileiro movimentou cerca de R$ 2,9 bilhões em 2023, um crescimento de 21% em relação ao ano anterior. Ainda assim, o valor permanece 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (2019). O levantamento revela também que 58% das galerias brasileiras faturam até R$ 5 milhões por ano e que apenas 1% dos colecionadores investem mais de R$ 1 milhão anualmente em arte.
O recorte de gênero também chama atenção: 67% dos colecionadores brasileiros são homens e 32% são mulheres, com um percentual residual não identificado em pesquisas formais.
A profissionalização das galerias foi apontada como eixo essencial para o amadurecimento do setor, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo. Em regiões como Goiás, Norte e Nordeste, ainda predomina um modelo informal de venda direta entre artistas e compradores.
“A emissão de certificados de autenticidade, a organização de catálogos e a formação de curadores são ferramentas essenciais para consolidar valor e rastreabilidade nas coleções. Sem isso, o mercado perde credibilidade e liquidez”, explicou Vargas.
Goiás no mapa da arte contemporânea
A diretora da Arte Plena Produção em Cultura, Wanessa Cruz, ressaltou a importância de ampliar o acesso e combater a percepção de elitismo que ainda afasta novos compradores.
“Temos colecionadores relevantes em Goiás, mas o universo do colecionismo ainda é muito novo por aqui. Há uma crença equivocada de que arte é inacessível, quando, na verdade, o mercado oferece excelentes oportunidades para quem está começando. E temos talentos goianos com projeção nacional, como Dalton Paula, que já está em coleções internacionais”, destacou.
FARGO 2025: expansão, intercâmbio e projeção nacional
A FARGO, que chega à sua sétima edição em 2025, já se consolida como a principal feira de negócios em arte do Centro-Oeste. Nesta edição, a feira contará com galerias de São Paulo, Brasília, Cuiabá e representantes de Belém, Salvador, Natal e Belo Horizonte, além de colecionadores convidados de todo o país.
A proposta da FARGO é conectar artistas, colecionadores e investidores, promovendo o intercâmbio entre diferentes regiões e valorizando a produção artística contemporânea fora do eixo tradicional do mercado.
“Estamos preparados para uma edição histórica, com mais expositores, público qualificado e maior visibilidade para artistas emergentes. Acreditamos que a arte tem papel central no desenvolvimento cultural e econômico do Brasil, e a FARGO é uma resposta concreta a essa missão”, afirmou Wanessa Cruz.
Conclusão
O evento pré-FARGO 2025 deixou claro que o colecionismo privado não é apenas uma expressão de gosto pessoal, mas um motor estratégico para o crescimento do mercado de arte brasileiro. Em um momento de expansão e reorganização do setor, iniciativas como esta reforçam o papel de Goiás como um território fértil para novos investidores, criadores e curadores.
Com a chegada da FARGO 2025, Goiânia reafirma sua vocação como polo de arte contemporânea e amplia sua presença no mapa cultural do Brasil — com o colecionador no centro desse movimento.