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Medicamentos têm menor reajuste médio desde 2018: veja o que muda no seu bolso e por que isso acontece

Reajuste autorizado varia entre 2,6% e 5,06%, mas maioria dos remédios ficará no menor patamar. Especialista explica impacto para consumidor e mercado.

O reajuste de preços dos medicamentos em 2025 será o menor, em média, desde 2018, segundo a resolução publicada nesta segunda-feira (31) pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), no Diário Oficial da União. Embora o teto de aumento autorizado tenha sido fixado em 5,06% — mesmo valor da inflação oficial acumulada nos últimos 12 meses — a maioria dos medicamentos terá um reajuste médio de apenas 2,6%.

O índice máximo de 5,06% será aplicado somente a uma pequena parcela do mercado: cerca de 7,8% dos remédios, classificados como de “nível 1”, ou seja, produtos que operam em mercados com maior concorrência. A maior parte dos medicamentos (77,2%) está no chamado “nível 3”, cujo aumento autorizado é de 2,6%. Já os de “nível 2”, que respondem por 15% do total, terão reajuste de 3,83%.

Os três níveis de reajuste autorizados pela CMED:

  • Nível 1 (mercado competitivo): 5,06% (7,8% dos medicamentos)

  • Nível 2 (concorrência moderada): 3,83% (15%)

  • Nível 3 (mercado concentrado): 2,6% (77,2%)

Segundo o economista especializado em regulação de preços, Dr. Ricardo Menezes, professor da Universidade de Brasília (UnB) e consultor em políticas públicas de saúde, o índice médio mais baixo reflete uma conjunção de fatores técnicos e conjunturais. “O fator X, que mede a produtividade da indústria farmacêutica, subiu neste ano, o que ajudou a conter o reajuste. Além disso, o fator Y, que incorpora custos não captados pelo IPCA, como energia e câmbio, teve valor negativo, o que também contribuiu para o índice final mais moderado”, afirma.

Entenda como o reajuste é calculado

O reajuste anual é regulado pela Lei 10.742/2003, que estabelece diretrizes para a definição de preços de medicamentos. O modelo utilizado pela CMED considera:

  1. Inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) – neste ano, acumulada em 5,06%;

  2. Fator X (produtividade da indústria farmacêutica);

  3. Fator Y (custos não mensurados pelo IPCA, como energia, câmbio e insumos importados);

  4. Fator Z (grau de concorrência no mercado de medicamentos).

De acordo com nota técnica publicada pela CMED, houve ganho de produtividade de 2,459% na indústria farmacêutica entre 2024 e 2025, o que reduziu o impacto inflacionário no cálculo final. Já o fator Y foi negativo em -0,70904, sendo arredondado para zero. Isso significa que os custos extras como energia elétrica e importações não pressionaram os preços este ano.

Por que a maioria dos medicamentos teve o menor reajuste desde 2018

A última vez que os reajustes ficaram em patamares semelhantes foi em 2018, quando os índices foram de 2,47% para medicamentos de nível 2 e de 2,09% para o nível 3. Segundo a CMED, essa queda média reflete tanto a melhora na eficiência da indústria quanto uma menor pressão de custos — especialmente os de importação, que haviam subido muito nos anos anteriores com a valorização do dólar.

O farmacêutico e pesquisador da área de economia da saúde Dr. Caio Ribeiro, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, aponta que essa desaceleração é uma boa notícia para o consumidor. “Com o Brasil ainda enfrentando desafios de renda e desemprego, manter os reajustes sob controle é essencial para garantir o acesso aos tratamentos. A maioria dos medicamentos que as pessoas usam no dia a dia, como antialérgicos, anti-hipertensivos e antidepressivos genéricos, está no nível 3, com o menor reajuste”, explica.

Reajuste não é automático: o que muda na prática

Embora a autorização de reajuste tenha sido publicada hoje, os aumentos não entram em vigor de imediato. As empresas farmacêuticas precisam primeiro apresentar os relatórios de comercialização à CMED. Só depois disso os reajustes podem ser aplicados — e apenas sobre os novos estoques que chegarem às farmácias.

Além disso, o reajuste funciona como um teto legal: cada fabricante decide, dentro desse limite, se vai aplicar o aumento integral, parcial ou nenhum. Muitas redes varejistas mantêm promoções e descontos para produtos populares, o que suaviza ainda mais o impacto no bolso do consumidor.

Reajuste anual protege consumidores e indústria

A lógica da regulação de preços da CMED é proteger o consumidor contra aumentos abusivos, mas também garantir viabilidade econômica à indústria farmacêutica. “É um sistema de equilíbrio. De um lado, impede que o setor farmacêutico aplique aumentos acima da inflação. De outro, permite algum reajuste para manter a sustentabilidade financeira das empresas, especialmente em um mercado sujeito a variações cambiais e aumento de custos logísticos”, explica o economista Ricardo Menezes.

Para ele, o fato de o reajuste estar abaixo da inflação para 92% dos medicamentos é um indicativo de que o modelo de regulação tem funcionado: “Há um esforço de calibragem técnica, e não política, na definição desses índices. Isso é fundamental para a previsibilidade do setor”, completa.

Como conferir os preços dos medicamentos

Os consumidores podem consultar a lista oficial de preços máximos diretamente no site da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que também publica mensalmente os valores atualizados.

Além disso, farmácias e drogarias são obrigadas por lei a disponibilizar revistas especializadas com os preços regulados, para que o consumidor possa comparar. Caso o preço esteja acima do teto autorizado, o cidadão pode acionar os Procons, utilizar a plataforma consumidor.gov.br ou mesmo reportar a irregularidade diretamente à CMED.

Impacto prático é pequeno, mas relevante

Embora o reajuste máximo de 5,06% possa causar apreensão, a maioria dos medicamentos terá alta muito inferior, o que deve amenizar os efeitos no orçamento das famílias — especialmente aquelas que dependem de tratamentos contínuos. O controle regulatório da CMED e os ganhos de produtividade do setor permitiram um alívio importante para os consumidores em 2025.

“Mesmo um reajuste pequeno pode impactar famílias que usam vários medicamentos por mês. Por isso, é essencial que a população esteja atenta aos preços, busque descontos e denuncie abusos”, finaliza o farmacêutico Caio Ribeiro.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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