Caiado defende frente ampla para salvar estabilidade financeira do agronegócio
Governador critica governo federal, defende seguro rural e cobra políticas estruturantes para garantir produtividade no campo
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), defendeu nesta segunda-feira (31) uma união política robusta em torno da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para enfrentar os desafios que ameaçam a estabilidade financeira do agronegócio brasileiro. A declaração foi dada durante a cerimônia de abertura da Feira de Máquinas e Equipamentos Agrícolas do Agronegócio Mineiro (Femec 2025), realizada em Uberlândia (MG), maior polo do setor no estado de Minas Gerais.
Segundo Caiado, a alta dos juros, a ausência de políticas de proteção financeira e os impactos de uma gestão federal que, segundo ele, atua “de forma perdulária”, colocam em risco a base produtiva que sustenta a economia brasileira. “Hoje, vivemos momentos de inquietação. Com a taxa de juros elevada, quem produz no campo não sabe o que fazer. O produtor rural depende de empréstimos e estes, quando existem, estão atrelados a uma taxa de equalização do governo federal. Mas o setor nunca teve direito a um seguro rural eficaz, como em países que nem têm nossa produtividade”, criticou.
PIB agro: motor da economia em alerta
De acordo com dados preliminares da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio respondeu por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 2024, com destaque para a produção de grãos, carnes e bioenergia. Em Goiás, o peso do agro é ainda maior: segundo o Instituto Mauro Borges (IMB), o setor representou mais de 30% do PIB estadual no último ano.
Diante desse cenário, Caiado reforçou que a falta de previsibilidade econômica e de políticas estruturantes pode minar um dos poucos setores que seguem sustentando o país. “O homem e a mulher do campo são os verdadeiros responsáveis por manter a cesta básica acessível. Mas, no momento em que ela encarece, o governo federal lava as mãos e transfere a responsabilidade para os governadores e prefeitos”, atacou.
Zema reforça apoio e critica invasões
Governador anfitrião da feira, Romeu Zema (Novo) exaltou a presença de Caiado e reforçou a importância da união dos estados em defesa do produtor rural. “Queremos dar segurança a quem produz no campo, que alimenta o Brasil e o mundo. Também estamos prontos para combater invasões de propriedades, garantindo paz e tranquilidade para quem trabalha na terra”, declarou.
O prefeito de Uberlândia, Paulo Sérgio Ferreira, destacou a relação de longa data de Caiado com a cidade mineira. “O senhor é um uberlandense de coração. Somos irmãos. Agradeço pelo trabalho que tem feito em Goiás e pelo apoio ao agro de todo o país.”
Inteligência artificial e eficiência no campo
Além das questões políticas e econômicas, a Femec 2025 também tem como foco o uso de inteligência artificial (IA) no campo, com debates e exposições sobre automação, gestão de dados em tempo real e máquinas autônomas. O evento, considerado o maior do agronegócio mineiro, vai até sexta-feira (4/4) e é palco de negócios, inovação e formação técnica.
Durante sua participação, Caiado defendeu o uso de tecnologia como ferramenta para melhorar a produtividade e reduzir custos. “A parceria entre o Governo de Goiás e o Centro de Excelência em Inteligência Artificial da UFG é um exemplo de como impulsionar soluções no campo. Precisamos democratizar o acesso à tecnologia para pequenos e médios produtores também”, afirmou.
Especialista defende seguro rural nacional
Para o economista agrícola André Bittencourt, pesquisador da FGV Agro, a fala de Caiado sobre a ausência de um seguro rural eficaz é uma das mais relevantes do atual debate nacional. “O Brasil é um dos poucos países com produção em larga escala que ainda não implementou uma política nacional de seguro rural eficiente. Isso fragiliza o planejamento financeiro do produtor e aumenta a dependência do crédito com juros subsidiados, que são instáveis e sujeitos a contingenciamentos políticos”, explica.
Segundo Bittencourt, a criação de um fundo nacional de garantia de safra baseado em modelos atuariais modernos seria um avanço fundamental para o agro brasileiro. “Sem estabilidade, o risco de quebra não é apenas para o produtor. É para a balança comercial, para o emprego no interior e para a inflação nos centros urbanos.”
Femec 2025 movimenta bilhões
A Femec é promovida pelo Sindicato Rural de Uberlândia e, em 2024, movimentou R$ 2,28 bilhões em negócios, além de atrair cerca de 150 mil visitantes. Neste ano, a expectativa é ultrapassar esses números com a presença de representantes de grandes grupos agroindustriais, startups do agro e especialistas em tecnologia aplicada ao campo.
Para o presidente do sindicato, Thiago Fonseca, o evento vai além das vitrines de máquinas. “A Femec é um espaço de inovação, de negócios e de troca de conhecimento. Máquinas mais inteligentes, automação, dados em tempo real: tudo isso já é realidade no campo. O que falta é política pública que acompanhe essa revolução”, afirmou.
Cenário instável exige coordenação federativa
A defesa feita por Caiado pela articulação de governadores, prefeitos, Congresso e entidades rurais em torno da FPA reflete a crescente preocupação do setor com a falta de coordenação do governo federal em políticas para o campo. A tensão fiscal, os cortes em subsídios agrícolas e a pressão inflacionária aumentam a instabilidade — e podem afetar diretamente a próxima safra, ainda em fase de planejamento.
A partir de Uberlândia, o governador goiano sinalizou que os estados produtores devem assumir protagonismo e pressionar por soluções nacionais. “É preciso parar de improvisar. O campo precisa de segurança jurídica, previsibilidade econômica e acesso real ao crédito. Se o Brasil ainda cresce, é porque o agro resiste”, concluiu.