Em São Paulo, Caiado se aproxima de Bolsonaro e diz: “Meu presidente”
Pré-candidato à Presidência, governador de Goiás adota discurso conciliador e reforça defesa pela anistia em ato bolsonarista na Avenida Paulista. Especialista vê movimento como estratégia de reposicionamento nacional.
Dois dias após oficializar sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), participou neste domingo (6) de um dos maiores atos pró-anistia promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. O evento, realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, foi marcado por discursos em defesa dos presos pelos atos de 8 de janeiro e serviu também para sinalizar uma reaproximação política entre Caiado e Bolsonaro, após meses de distanciamento.
Durante a manifestação, Caiado fez questão de adotar um tom conciliador. Em suas redes sociais, publicou seis mensagens nas quais reforça o discurso de união nacional e se refere a Bolsonaro como “meu presidente”. A declaração marca uma inflexão no posicionamento do governador, que vinha tentando construir uma imagem de independência política desde o fim de 2023.
“Seguimos juntos, com fé no Brasil e unidos pela anistia humanitária. Estamos ao lado de milhares de famílias que têm sofrido com injustiças. Contra a crueldade, contra o abuso de poder e por um país livre, onde prevaleça o respeito à Constituição, à liberdade de expressão e à democracia”, escreveu Caiado. “Conte conosco, presidente Jair Messias Bolsonaro”, completou.
Ato sela trégua após disputa em Goiânia
A presença de Caiado no ato também simboliza uma trégua política com Bolsonaro, após a disputa eleitoral travada em 2024 pela Prefeitura de Goiânia. Na ocasião, o governador conseguiu eleger seu aliado Sandro Mabel, em confronto direto com Fred Rodrigues, apoiado por Bolsonaro. A vitória fortaleceu Caiado regionalmente, mas evidenciou o racha entre os dois líderes do campo conservador.
No entanto, segundo analistas políticos, a recente aproximação em torno da pauta da anistia pode servir como ponto de convergência. Para o cientista político Fernando Matos, professor da PUC-GO, o gesto de Caiado indica um realinhamento estratégico:
“Caiado percebe que, para consolidar sua pré-candidatura à Presidência em 2026, precisará dialogar com a base bolsonarista. Ao chamá-lo de ‘meu presidente’, ele sinaliza disposição de pacificação, mas também busca ocupar espaço dentro do eleitorado conservador que ainda é majoritariamente fiel a Bolsonaro”, analisa.
Anistia pressiona Câmara e vira teste de força política
A anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro voltou ao centro do debate em Brasília. O projeto, travado desde outubro de 2024, aguarda a criação de uma comissão especial na Câmara dos Deputados. Durante o ato, parlamentares reforçaram a cobrança ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que paute o requerimento de urgência.
Na última semana, Motta afirmou que só tomará qualquer decisão após consultar os líderes partidários. Enquanto isso, a base aliada do PL intensifica o movimento de mobilização nas ruas. O próprio Caiado tem insistido que foi um dos primeiros a defender publicamente a anistia.
“Fui um dos primeiros a defender a pacificação do país, em fevereiro do ano passado. O Brasil precisa virar essa página e focar no que realmente importa para o nosso povo: segurança pública, combate à inflação, saúde de qualidade e educação eficiente”, declarou Caiado no evento, ecoando falas anteriores feitas no Rio de Janeiro.
Caiado nacionaliza sua imagem
A participação no ato de São Paulo marca mais um passo na tentativa de nacionalização da imagem de Ronaldo Caiado, que já tem intensificado agendas em outros estados, como Bahia, Minas Gerais e Paraná. Em Salvador, na sexta-feira (5), ele lançou oficialmente sua pré-candidatura em um evento com presença de empresários, religiosos e lideranças políticas.
Ao discursar na ocasião, o governador goiano declarou não ser “candidato de colete, nem de barra de saia de ninguém”, numa referência à sua independência política frente às máquinas partidárias tradicionais e à direita mais radical. Contudo, seu gesto em São Paulo mostra que alianças pontuais com o bolsonarismo não estão descartadas.
Próximos passos na disputa presidencial
Com a pré-candidatura lançada, Caiado busca agora consolidar apoios no Congresso Nacional e entre governadores. Sua aposta está em apresentar-se como alternativa conservadora com trajetória de gestão eficiente, capaz de dialogar com diferentes setores.
A adesão à pauta da anistia e o discurso de união nacional também são vistos como uma tentativa de capturar a narrativa de pacificação, diante de um cenário eleitoral ainda polarizado.