Com tarifa de 104%, EUA reabrem guerra comercial com a China e acendem alerta em mercados globais
Medida anunciada por Donald Trump ameaça cadeias produtivas, pressiona inflação mundial e coloca Brasil em posição estratégica nas exportações\
Washington, 8 de abril de 2025 – A guerra comercial entre Estados Unidos e China, que marcou a geopolítica global durante o primeiro mandato de Donald Trump, acaba de ganhar novos contornos explosivos. Nesta terça-feira (8), a Casa Branca confirmou que o governo norte-americano começará a aplicar, a partir de quarta-feira (9/4), uma tarifa adicional de 50% sobre produtos chineses, elevando a alíquota total de importação para 104% em alguns setores estratégicos.
A medida, segundo a porta-voz Karoline Leavitt, visa “proteger a segurança econômica e militar dos Estados Unidos” e condiciona futuras negociações à adesão de aliados a um novo modelo de acordos comerciais “one-stop”, que incluirá temas como presença militar, alinhamento diplomático e ajuda internacional.
“O presidente quer fazer um acordo com a China, mas não sabe como começar. Se a China fizer um acordo, ele ficará afável”, disse Leavitt, em tom dúbio, durante coletiva em Washington.
🧨 Um gesto com múltiplos alvos: Pequim, Teerã e Tel Aviv
Embora as tarifas tenham como alvo direto os produtos chineses — sobretudo nos segmentos de tecnologia, insumos industriais e componentes eletrônicos —, o anúncio feito pela Casa Branca atinge em cheio o contexto diplomático atual, ao relacionar a política comercial com alianças militares e negociações paralelas com países como Israel e Irã.
Segundo Leavitt, já estão em curso conversas bilaterais com Israel sobre tarifas preferenciais, enquanto as negociações com o Irã, previstas para sábado (12), serão “diretas”, num raro reconhecimento formal de diálogo com Teerã.
A sinalização de que parâmetros militares e geopolíticos passarão a interferir diretamente em tratados comerciais é inédita desde a institucionalização da OMC (Organização Mundial do Comércio), em 1995.
“Estamos diante de um novo tipo de diplomacia coercitiva, onde a tarifa aduaneira vira moeda geopolítica. É uma ruptura com o multilateralismo tradicional”, avalia o economista e consultor internacional Carlos Aranha, especialista em relações econômicas China-EUA.
🌎 Impacto global: inflação, insumos e produção descentralizada
A decisão de Trump afeta diretamente as cadeias produtivas globais, sobretudo em setores onde a China é dominante como fornecedora de insumos, semicondutores, baterias e equipamentos eletrônicos. Para países importadores, isso pode significar:
-
Pressão inflacionária sobre produtos industrializados;
-
Interrupções logísticas nas cadeias de suprimento;
-
Reorientação de contratos e fornecedores, com possível migração para mercados alternativos na Ásia e América Latina.
O mercado de tecnologia é um dos mais impactados. Segundo levantamento da McKinsey & Company, mais de 78% das multinacionais americanas dependem de insumos oriundos da China para montagem de eletrônicos, automóveis e equipamentos médicos.
“O aumento tarifário é transferido diretamente ao consumidor final, e isso, somado à alta nos combustíveis e alimentos, pode reacender a inflação global”, explica Aranha.
🇧🇷 E o Brasil? Oportunidade e risco caminham juntos
A nova rodada da guerra comercial coloca o Brasil em posição estratégica, especialmente em setores como:
-
Minério de ferro e soja, caso a China redirecione sua demanda para parceiros sul-americanos;
-
Indústria de alimentos processados, como alternativa aos produtos industrializados asiáticos;
-
Equipamentos médicos e farmacêuticos, diante da reconfiguração das cadeias globais.
Contudo, analistas alertam que o Brasil também pode sofrer efeitos colaterais, como a volatilidade cambial, pressão sobre o custo de produção industrial e aumento na competição por mercados que antes eram ocupados pelos chineses.
“Essa tensão eleva o grau de incerteza global. O Brasil precisa estar preparado para um novo tipo de protecionismo, com impactos econômicos e diplomáticos”, afirma o consultor econômico Leonardo Vaz, especialista em Comércio Exterior.
🧭 O que vem agora?
A imposição da tarifa de 104% marca a maior sobretaxa sobre a China desde 2018, quando Donald Trump iniciou a primeira ofensiva comercial contra o país asiático. Especialistas acreditam que, diferentemente daquela época, agora o governo chinês poderá revidar com mais agressividade, com retaliações tarifárias ou suspensão de contratos estratégicos.
A Organização Mundial do Comércio ainda não se manifestou oficialmente sobre a medida, mas fontes próximas indicam que países europeus e asiáticos pressionam por uma mediação diplomática urgente, para evitar efeitos dominó no comércio global.
📌 Conclusão: mais que tarifas, uma redefinição do comércio global
A decisão dos Estados Unidos de atrelar tarifas comerciais a acordos militares e alianças políticas pode representar um divisor de águas no comércio internacional contemporâneo. Em vez de regras multilaterais, o que se observa é o fortalecimento de um modelo transacional e condicional, que desafia instituições como a OMC e altera a lógica do livre mercado.
Para países como o Brasil, o cenário impõe o desafio de agir com agilidade diplomática e inteligência estratégica para se posicionar entre os blocos em tensão — evitando os riscos e aproveitando oportunidades que podem surgir com a fragmentação de mercados dominados por China e EUA.
Leia também: