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Operação revela tentativa de compra de resultados no futebol goiano com promessa de até R$ 1 milhão por manipulação

Dirigente do Goianésia que é delegado da Polícia Civil recusou proposta e denunciou esquema que pode ter movimentado mais de R$ 11 milhões em apostas ilegais no Brasil

Uma tentativa de suborno feita em 2023 ao então presidente do Goianésia Esporte Clube, Marco Antônio Maia — que também é delegado da Polícia Civil de Goiás — desencadeou uma das mais abrangentes investigações de manipulação de resultados no futebol brasileiro. A denúncia levou à deflagração da Operação Jogada Marcada, realizada nesta quarta-feira (9), com mandados de prisão e busca e apreensão em seis estados: Goiás, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Ceará e Pernambuco.

Segundo a Polícia Civil, os alvos da operação fazem parte de uma organização criminosa que atuava infiltrada em clubes, jogadores e até árbitros, com o objetivo de manipular jogos e favorecer apostas esportivas em plataformas digitais. A estimativa é de que o grupo já tenha movimentado cerca de R$ 11 milhões de forma ilícita, envolvendo jogadores das Séries A, B e D do Campeonato Brasileiro e de torneios estaduais.

Oferta de R$ 500 mil e tentativa de cooptação de dirigentes

De acordo com o depoimento de Marco Antônio Maia, o aliciador ofereceu inicialmente R$ 500 mil para que o Goianésia manipulasse resultados de partidas, como número de gols, cartões e placar final. O esquema previa comissões ainda maiores, de até R$ 1 milhão, caso outros clubes fossem trazidos para o esquema. A proposta foi feita via mensagem após o suspeito localizar o contato do dirigente no site da Federação Goiana de Futebol (FGF).

“Assim que recebi a proposta, encaminhei imediatamente à PC-GO e optei por não seguir com as tratativas, para preservar a investigação e agir com total transparência”, afirmou Maia ao jornal O Popular. Ele relatou que juntou as provas e foi ouvido como testemunha na apuração.

Segundo a polícia, o grupo tinha como estratégia abordar dirigentes de clubes de menor expressão, considerados mais suscetíveis à cooptação, e oferecia quantias variáveis para que os dirigentes aceitassem influenciar atletas, treinadores e até árbitros.

Alvo empresarial e estrutura financeira do esquema

Entre os investigados estão dois aliciadores, um ex-jogador, um árbitro da Paraíba, um ex-presidente de clube e um empresário goiano suspeito de financiar o esquema. Este último, segundo o delegado Eduardo Gomes, seria responsável por injetar recursos nas ações criminosas para viabilizar o pagamento aos alvos.

“As investigações apontam que parte do núcleo financeiro atuava com empresários que não necessariamente participavam das manipulações, mas investiam dinheiro para obter retorno nas apostas. Eles mantinham contato com atletas, dirigentes e profissionais da arbitragem”, explicou o delegado.

As informações ainda indicam que o suspeito ofereceu R$ 300 mil a um ex-presidente de clube para intermediar o aliciamento de outros times, prometendo bônus de R$ 1 milhão para cada clube que aderisse ao esquema.

Futebol vulnerável e ramificações internacionais

De acordo com o delegado Eduardo Gomes, o foco do grupo criminoso eram jogos com baixa visibilidade midiática, o que favorecia o acesso e diminuía os riscos de detecção. “Nos pequenos clubes é mais fácil corromper e manipular sem chamar atenção. Isso favorece a atuação dessas organizações”, afirmou.

O dirigente Marco Antônio Maia também destacou que o ambiente do futebol brasileiro ainda é vulnerável a esse tipo de crime. “Às vezes você planeja tudo para o ano inteiro e um apostador interfere por causa de um jogo. A preocupação é geral. Isso é uma máfia com ramificações que vão além do Brasil”, declarou.

Segundo ele, o valor oferecido ao Goianésia é irrisório se comparado a prêmios de grandes clubes. “Ofereceram R$ 500 mil. Na Copa do Brasil, a premiação de um time como o Flamengo chega a R$ 3 milhões por fase. Para clubes menores, o risco compensa mais para os criminosos”, avaliou.

MPGO nega envolvimento; clube afasta suspeito imediatamente

Em nota, o Ministério Público de Goiás informou que não participa da operação e nem acompanha o desdobramento do caso, deixando claro que qualquer manifestação institucional sobre o assunto caberá exclusivamente à Polícia Civil.

Já o Goianésia Esporte Clube, ao tomar conhecimento da proposta feita ao seu dirigente, afastou imediatamente o suspeito envolvido, segundo nota publicada pelo próprio clube

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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