Bloco bolsonarista diz ter 233 votos por anistia do 8 de janeiro, mas enfrenta resistência no Centrão
Faltam 24 votos para aprovar urgência do projeto; PSD e União Brasil são alvos prioritários de pressão
O grupo de parlamentares alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro afirma ter reunido 233 votos favoráveis ao projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, data marcada pela invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília. Apesar do avanço, ainda faltam 24 votos para atingir o quórum mínimo de 257 deputados necessário para aprovar o regime de urgência da proposta.
A articulação é liderada pelo PL, sigla de Bolsonaro, que já mobilizou 93% de seus deputados. No entanto, o desempenho do Centrão está aquém do esperado. Até o momento, apenas 43% dos deputados do PSD, 51% do União Brasil, 53% dos Republicanos e 59% do PP declararam apoio formal à proposta de urgência. O objetivo da bancada bolsonarista é pressionar lideranças desses partidos para que fechem questão em torno do tema, considerado central para a base do ex-presidente.
Governadores aliados entram em campo
A estratégia dos bolsonaristas envolve a atuação direta de governadores politicamente alinhados com Bolsonaro. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Junior (PSD-PR), ambos próximos ao ex-presidente, foram acionados para influenciar suas respectivas bancadas na Câmara. A expectativa é que os dois ampliem o apoio ao projeto nos próximos dias.
O movimento ganhou força no último domingo (6), quando sete governadores participaram de um ato na Avenida Paulista em apoio à anistia. O evento foi interpretado como um gesto claro de mobilização institucional a favor do projeto, que ainda enfrenta resistência nos bastidores do Congresso.
Resistência no comando da Câmara
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), eleito com apoio do PL, passou a ser alvo de críticas do próprio grupo bolsonarista por resistir a pautar a votação da urgência. Motta teme o desgaste político que a medida pode gerar, sobretudo diante da repercussão internacional negativa que uma eventual anistia poderia causar.
Internamente, a pressão é conduzida pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido e um dos articuladores mais ativos da proposta. Sóstenes é aliado direto do pastor Silas Malafaia, um dos principais financiadores e promotores das manifestações que defendem a anistia e contestam as decisões do Supremo Tribunal Federal sobre os réus do 8 de janeiro.
A matemática da anistia
Para que o regime de urgência seja aprovado, é necessário o apoio de 257 deputados, o que permitiria a inclusão imediata do projeto na pauta do plenário, sem passar pelas comissões temáticas. Com 233 assinaturas já registradas, os bolsonaristas enxergam viabilidade, mas admitem dificuldades em ampliar a base de apoio fora do PL.
A bancada do PSD, com 42 deputados, e a do União Brasil, com 55, são vistas como decisivas para a consolidação do placar. Parlamentares desses partidos ainda resistem a aderir integralmente, principalmente pela heterogeneidade interna e pelo temor de desgaste eleitoral em 2026.
Polarização e cálculo eleitoral
O tema da anistia reacendeu a polarização entre os grupos de direita e centro-direita no Congresso. Para os bolsonaristas, trata-se de uma medida de justiça e reparação. Para setores mais moderados, porém, a proposta pode ser interpretada como um recuo no enfrentamento ao extremismo político.
Nos bastidores, líderes partidários reconhecem que a votação da urgência será um termômetro político para Bolsonaro, que busca consolidar apoio institucional e testar sua força de mobilização legislativa com vistas às eleições presidenciais de 2026.