Política

Caiado acusa Lula de omissão no combate ao crime e endurece discurso como pré-candidato à Presidência

Governador de Goiás diz que gestão federal é complacente com facções criminosas e que PEC da Segurança é "factoide político"

O governador de Goiás e pré-candidato à Presidência da República, Ronaldo Caiado (União Brasil), intensificou nesta quarta-feira (10) suas críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acusando o Planalto de omissão deliberada no enfrentamento à criminalidade no Brasil. Em entrevista à revista IstoÉ, o chefe do Executivo goiano disse que “o governo Lula não tem qualquer interesse em enfrentar o crime” e classificou a atual Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública como um “factoide político”.

As declarações ocorrem em meio ao agravamento da crise na área de segurança pública em diferentes regiões do país, com o avanço territorial e econômico das facções criminosas. O tema, que historicamente ocupa lugar central nos discursos de Caiado, ganha agora contornos eleitorais e pode se consolidar como uma das principais bandeiras do ex-senador na disputa presidencial de 2026.


“Falta vontade política do governo federal”, diz Caiado

Segundo Caiado, passados dois anos e quatro meses da gestão petista, não há “sinais claros” de que o governo federal tenha assumido um papel efetivo no enfrentamento do crime organizado.

“Até o momento, o que se vê é o avanço cada vez maior das facções, não apenas do ponto de vista territorial, mas também econômico. O governo Lula nunca demonstrou interesse em assumir o protagonismo que lhe cabe nesse cenário de guerra interna”, afirmou o governador.

Caiado também criticou o que classificou como “complacência institucional” da União, mencionando a ausência de políticas estruturadas de inteligência, integração das polícias e combate ao tráfico de armas e drogas nas fronteiras. Para ele, as ações federais têm sido reativas, fragmentadas e insuficientes diante do grau de sofisticação das organizações criminosas.


PEC da Segurança Pública: “um golpe contra os estados”

A proposta de emenda à Constituição, encampada por membros da base aliada do governo federal e que tramita no Congresso Nacional, é vista por Caiado como uma ameaça à autonomia dos estados. A PEC propõe a criação de normas gerais para a Segurança Pública, a Defesa Social e o Sistema Penitenciário, com maior protagonismo da União.

“Esse dispositivo é um golpe sobre todos os estados, porque retira o direito constitucional que é dado aos governadores para administrar as penitenciárias e as forças policiais. Não há necessidade de alterar a Constituição. O que precisamos são leis complementares que facilitem a integração entre as forças, respeitando as peculiaridades regionais”, defendeu.

Para o governador, a proposta surgiu como uma resposta política e midiática à pressão popular por mais segurança, sem apresentar soluções estruturais para os principais gargalos da área, como o controle das fronteiras, a cooperação federativa e o fortalecimento da inteligência policial.


Modelo goiano como vitrine eleitoral

Durante a entrevista, Caiado reforçou os indicadores de segurança pública em Goiás como exemplo de gestão eficiente, destacando medidas consideradas polêmicas, como a proibição de visitas íntimas em presídios e a ausência de câmeras nas fardas dos policiais.

“Em Goiás, o preso não tem direito à visita íntima, o que é contrário ao que deseja o governo federal. Aqui, os policiais não usam câmeras nas fardas, e há uma Corregedoria forte para combater irregularidades, também ao contrário do que o governo federal pretende fazer”, afirmou.

Segundo dados do governo estadual, Goiás registra uma das menores taxas de homicídio do Centro-Oeste, com queda superior a 30% nos últimos cinco anos. Esses números, embora contestados por entidades de direitos humanos e especialistas em segurança, são amplamente utilizados por Caiado para sustentar seu discurso de endurecimento penal.


Eleições de 2026: segurança no centro do debate

A fala de Caiado marca um novo patamar na escalada de críticas ao presidente Lula e antecipa o tom da disputa presidencial que se aproxima. Pré-candidato declarado, o governador goiano busca consolidar uma base de apoio à direita, com foco em temas como segurança, combate à corrupção, federalismo e conservadorismo nos costumes.

Em sua análise, a apresentação da PEC pelo governo seria uma tentativa de responder à pressão social por resultados na segurança, ao mesmo tempo em que amplia o controle da União sobre a área.

“Em Goiás, o cidadão tem esse direito assegurado. No resto do País, há uma sociedade sequestrada pelas diferentes facções existentes”, disse.


Críticas à atuação federal nas fronteiras e na inteligência

O governador também chamou atenção para a ausência de dispositivos na PEC que tratem do combate ao crime nas fronteiras ou do fortalecimento da inteligência policial.

“Não há nada na PEC sobre combate ao crime nas fronteiras ou sobre inteligência apoiada para que as autoridades tenham maior capacidade de chegar ao crime antes que ele aconteça. É um projeto que fala em segurança, mas ignora os instrumentos mais eficazes para alcançá-la”, declarou.


Repercussão política

A fala de Caiado gerou reações no Congresso e nos bastidores do Planalto. Integrantes do governo federal classificaram as declarações como “retórica de palanque” e afirmaram que a PEC busca justamente estruturar o sistema de segurança pública de forma coordenada e nacional. A oposição, por sua vez, vê em Caiado um possível nome para aglutinar forças de centro-direita com perfil técnico e experiência administrativa.

Analistas políticos avaliam que o posicionamento de Caiado visa se diferenciar do bolsonarismo puro, assumindo um discurso de direita moderada, técnica e focada na gestão — com segurança pública como pilar central.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo