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Presidente do Goianésia revela proposta de R$ 500 mil para manipular resultados: “Era uma máfia”

Delegado e ex-dirigente esportivo, Marco Antônio Maia expôs tentativas de corrupção no futebol goiano e colaborou com investigação da Operação Carta Marcada, que já prendeu seis pessoas em seis estados

O presidente do Goianésia Esporte Clube e delegado da Polícia Civil de Goiás, Marco Antônio Maia, revelou ter recebido uma proposta de até R$ 500 mil para manipular o resultado de uma partida do time goiano. A denúncia foi decisiva para o desencadeamento da Operação Carta Marcada, conduzida pela Polícia Civil de Goiás (PC-GO), que investiga um esquema nacional de corrupção e manipulação de resultados em competições do futebol brasileiro.

De acordo com as autoridades, a organização criminosa visava interferir diretamente em jogos das Séries C e D do Campeonato Brasileiro, além de estaduais, com foco em apostas esportivas realizadas por meio de plataformas digitais. A operação apura movimentações superiores a R$ 11 milhões.


Proposta milionária e “tentação facilitada” em clubes menores

O delegado Marco Antônio relatou que a abordagem ocorreu durante sua gestão no Goianésia, entre 2018 e 2024. Segundo ele, os criminosos ofereceram valores que variavam entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, dependendo do tipo de interferência exigida — como a manipulação do número de escanteios, expulsões, gols e até o placar final.

“Aqui fica mais fácil, porque, em tese, cairia em uma tentação mais fácil. Mas não foi o que aconteceu com o Goianésia. Isso é uma máfia”, afirmou o delegado, destacando a vulnerabilidade de clubes pequenos e com menor capacidade financeira.

Ele ainda comparou o valor ofertado ao Goianésia com premiações oficiais. “Na Copa do Brasil, o prêmio do Flamengo é de R$ 3 milhões. Nesse caso, R$ 500 mil para o Goianésia é muito mais dinheiro do que chegar ao Flamengo e oferecer R$ 500 mil”, argumentou.


Bastidores da denúncia e desdobramentos da operação

Ao ser abordado pela organização, Marco Antônio Maia disse ter recusado a proposta e comunicado imediatamente à Polícia Civil. Segundo ele, decidiu não atuar diretamente na investigação para preservar a lisura e a transparência do processo.

“Eu nunca fiz uma investigação contra esse pessoal. Apenas repassei todo o material que tinha, ouvi como testemunha e garanti a continuidade das apurações”, explicou.

A investigação, iniciada em 2023, identificou tentativas similares de manipulação em outros estados, envolvendo dirigentes, árbitros, ex-jogadores e intermediários. Até o momento, seis pessoas foram presas durante o cumprimento de mandados em seis unidades da Federação, entre elas, ex-dirigentes de clubes como o Crato (CE) e árbitros de fora do estado.


Envolvimento de dirigentes e conivência silenciosa

A denúncia de Marco Antônio coincide com relatos feitos por outros dirigentes esportivos, como Hugo Jorge Bravo, do Vila Nova, que também expôs tentativas de aliciamento semelhantes em 2023, no âmbito da Operação Penalidade Máxima.

“Por coincidência, tem vários dirigentes esportivos brasileiros que são policiais. Mas aqui em Goiás, eles deram azar que era logo eu no Goianésia e o Hugo no Vila, o que repercutiu. O Hugo é meu amigo pessoal. Ele já sabia dessa operação, eu contei para ele, trocamos informações”, revelou Marco Antônio.

O delegado relatou ainda que, em uma das abordagens, houve tentativa de ampliar o escopo da manipulação para incluir indicações de outros jogadores e clubes. Em uma dessas ocasiões, foi oferecido um valor adicional para influenciar a contratação de atletas com potencial de interferência direta em partidas futuras.

Impacto e posicionamento do clube

O Goianésia Esporte Clube publicou uma nota oficial reforçando seu compromisso com a ética e a integridade esportiva:

“O clube não compactua com nenhuma prática ou prejuízo à integridade das competições e continuará colaborando com as investigações para que todos os responsáveis sejam devidamente identificados e punidos.”

A diretoria destacou que a atitude de Marco Antônio Maia foi decisiva para deflagrar a operação policial e que o clube segue à disposição das autoridades.


Operação Carta Marcada e os próximos passos

A Operação Carta Marcada é coordenada pelo delegado Eduardo Gomes, que apontou o uso de clubes menores como “porta de entrada” para a manipulação de partidas. Segundo ele, o telefone usado pelos criminosos chegou a ser registrado em nome de um clube goiano, o que reforça o nível de infiltração da quadrilha.

“O telefone do presidente constava como se fosse a secretaria. Então, provavelmente, esse aliciador achou que era um aliado, mas se deu mal”, concluiu o delegado.

A Polícia Civil segue com as investigações para identificar outros envolvidos e rastrear os valores movimentados por meio de apostas. Fontes da corporação afirmam que novas fases da operação devem ser deflagradas ainda neste mês, com foco em dirigentes e atletas que atuaram nas Séries C e D em 2022 e 2023.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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