BrasilNotícias
Tendência

Brasil busca alternativas comerciais diante de novas tarifas dos EUA​

Governo Lula intensifica negociações com Ásia, Europa e África após aumento de tarifas impostas por Trump sobre produtos brasileiros

O anúncio do governo dos Estados Unidos, em fevereiro de 2025, de restabelecer tarifas sobre a importação de produtos brasileiros — com foco no aço e no alumínio — causou impacto imediato nas cadeias produtivas e acendeu um sinal de alerta na equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais do que um revés pontual, o episódio é interpretado por analistas de comércio exterior como um ponto de inflexão nas relações comerciais entre os dois países e motivou um movimento estratégico de reposicionamento global das exportações brasileiras.

A medida adotada por Donald Trump, de reinstaurar tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio provenientes do Brasil, é vista como um gesto de endurecimento protecionista que deve marcar o tom do seu novo mandato. A justificativa da Casa Branca foi “proteger a indústria americana diante de práticas desleais de mercado e ameaças à segurança nacional”. O Brasil foi incluído em um pacote que também atinge Coreia do Sul, Vietnã e México.


Impacto imediato: siderurgia, agronegócio e aviação atingidos

Segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria do Aço, a medida americana pode causar uma perda direta de US$ 2,1 bilhões em exportações anuais. Estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Pará, que concentram polos siderúrgicos, já registram revisões em contratos e adiamento de embarques.

Além do aço, outros setores sentem os reflexos do ambiente de incerteza comercial. O agronegócio, responsável por cerca de 25% das exportações brasileiras aos EUA, teme que outras medidas possam atingir carnes, soja e milho. A Embraer, com presença estratégica no mercado aeronáutico americano, divulgou nota reservada alertando para o “risco de aumento de custos operacionais devido ao novo ambiente tarifário”.


Estratégia: diversificação para evitar dependência

Em resposta à nova postura da Casa Branca, o governo federal iniciou um plano de redirecionamento das exportações com base em três eixos: diversificação de parceiros comerciais, fortalecimento do Mercosul e reativação de acordos bilaterais com Ásia, África e Europa Oriental.

Segundo fontes do Itamaraty, já foram abertas frentes de negociação com Indonésia, Vietnã, Bangladesh, África do Sul, Egito e Turquia, além de tratativas para ampliar as exportações para a Índia, que tem apresentado forte crescimento em consumo interno.

“O mundo mudou. Não podemos depender de um parceiro instável. A diversificação é uma resposta geopolítica necessária. O Brasil precisa atuar como potência agroindustrial e energética nos mercados do Sul Global”, afirma um analista de comércio exterior com experiência em acordos multilaterais.

O Ministério da Agricultura também prepara uma missão comercial à Indonésia, Vietnã e Malásia, com previsão de embarque em junho, para promover produtos brasileiros como carnes processadas, grãos, celulose e açúcar refinado.


União Europeia e Mercosul: aceleração de acordos

Outra frente mobilizada pelo governo é a tentativa de concluir ainda em 2025 o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, cuja tramitação estava travada por impasses ambientais. Com a saída dos EUA da COP30 e o isolamento americano em fóruns climáticos, o Brasil tenta se reafirmar como ator confiável da transição ecológica, abrindo espaço para concessões mútuas com o bloco europeu.

“A diplomacia econômica brasileira se dá hoje sob forte pressão. A estratégia é ocupar os espaços deixados pelos Estados Unidos com acordos sustentáveis, que reforcem a imagem do Brasil como parceiro confiável”, avalia um especialista em integração regional.

No âmbito do Mercosul, as negociações para uma zona de livre comércio ampliada com o Chile, Colômbia e Peru foram retomadas com força, e uma proposta de protocolo aduaneiro único deve ser apresentada na cúpula do bloco em Assunção, em julho.


China e Índia: expansão sem ideologia

Embora o governo brasileiro evite politizar as relações internacionais, especialistas observam uma aproximação mais objetiva com China e Índia, países que já figuram entre os três maiores destinos das exportações nacionais.

“O Brasil tem potencial para dobrar sua presença nos mercados asiáticos sem depender de alinhamento político. É uma relação baseada em interesse mútuo: eles precisam de alimentos e recursos, nós precisamos de demanda”, resume um economista com foco em Ásia.

A China já demonstrou interesse em ampliar as compras de soja, café e carne suína brasileira, enquanto a Índia negocia cotas preferenciais para fertilizantes, etanol e algodão, setores que têm enfrentado gargalos logísticos internos.


Impacto regional: Goiás se posiciona como novo polo logístico

O estado de Goiás, que tem ganhado destaque nas exportações de grãos, carnes e energia renovável, está entre os que podem se beneficiar da nova orientação comercial brasileira. A localização estratégica, a modernização da malha ferroviária e os investimentos em infraestrutura de armazenagem transformam o estado em uma alternativa logística frente ao eixo Sudeste.

“O Centro-Oeste será a chave para conectar o Brasil a novos mercados asiáticos e africanos. Aparecida de Goiânia, Anápolis e Rio Verde têm capacidade logística e produtiva para integrar esse novo momento”, avalia um especialista em economia regional.

Empresas de armazenagem e distribuição instaladas na Região Metropolitana de Goiânia já relatam aumento na demanda de clientes interessados em escoar cargas com destino ao porto de Itaqui (MA) e ao Arco Norte.


Desafios: proteger a indústria nacional sem provocar retaliação

Apesar da estratégia em curso, o governo enfrenta críticas de setores industriais que pressionam por retaliações contra os Estados Unidos por meio de medidas de reciprocidade tarifária. O Planalto, no entanto, tenta manter equilíbrio.

“O Brasil não tem margem para um conflito direto com os EUA. A resposta precisa ser inteligente, baseada em reposicionamento, não em retaliação. O ideal é evitar escalar a crise e trabalhar nos bastidores com diplomacia e estratégia comercial”, afirma um consultor com atuação em fóruns multilaterais.


Conclusão: crise como catalisador de mudança

Para analistas e agentes do setor privado, a tensão atual representa uma oportunidade histórica de remodelar o perfil exportador brasileiro. Se até 2022 mais de 50% das exportações iam para três grandes blocos (China, EUA e União Europeia), o Brasil agora vislumbra um mapa mais distribuído, com presença em África, Sudeste Asiático e Oriente Médio.

“A crise imposta pelas tarifas americanas pode ser a alavanca para um novo Brasil comercial: menos dependente, mais estratégico e com vocação global”, sintetiza um diplomata envolvido nas negociações comerciais multilaterais.

O caminho será longo e exigirá coordenação entre governo, iniciativa privada e diplomacia. Mas os primeiros passos já foram dados.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo