Goiás e Goiânia lideram ranking de iluminação pública no Brasil, mas números não refletem realidade enfrentada pela população
Pesquisa do IBGE aponta cobertura superior a 99%, mas especialistas alertam que estrutura não garante funcionalidade nem qualidade do serviço
O Estado de Goiás e sua capital, Goiânia, aparecem nas primeiras posições do ranking nacional de iluminação pública, segundo a Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com os dados mais recentes, 99% da população goiana reside em vias com ao menos um ponto de iluminação pública, enquanto Goiânia atinge 99,6% de cobertura, a maior entre todas as capitais brasileiras.
O levantamento indica uma evolução em relação a 2010, quando os percentuais eram de 97,8% no estado e 99,2% na capital. Entre as demais capitais, Vitória (99,5%) e Campo Grande (99%) completam o pódio.
Apesar da posição de destaque, os dados levantados geram controvérsia entre especialistas e moradores. Isso porque o indicador considera apenas a existência de postes com luminárias, sem avaliar se o equipamento está funcionando adequadamente ou se garante segurança efetiva nas vias públicas.
Estrutura presente, mas funcionalidade comprometida
Para a arquiteta e urbanista Maria Esther, pesquisadora do Observatório das Metrópoles, os resultados são úteis como referência estrutural, mas limitados no diagnóstico da qualidade do serviço prestado.
“O levantamento nos mostra onde há infraestrutura instalada, mas não diz se a luz acende ou se atende às necessidades urbanas. Goiânia, por exemplo, lidera o ranking em presença de postes, mas isso não se traduz em uma cidade bem iluminada. Durante a crise de gestão da iluminação pública, na administração de Rogério Cruz, muitos bairros ficaram literalmente às escuras”, afirma.
A pesquisadora reforça que a análise precisa ir além dos números. “Estamos falando de cidade como um sistema que envolve Estado, mercado e sociedade civil. O papel do poder público é garantir que o equipamento funcione, não apenas que exista”, pontua.
Goiânia também se destaca em vias pavimentadas e circulação urbana
Além da iluminação, Goiânia se manteve bem posicionada em outros critérios da pesquisa. A capital aparece como a segunda colocada em vias pavimentadas, com 99,1% de moradores vivendo em ruas com asfalto, atrás apenas de Belo Horizonte. Em 2010, o índice era de 97,6%.
No aspecto de capacidade de circulação urbana, que considera o suporte das vias para diferentes tipos de transporte (ônibus, caminhões, carros de passeio, motocicletas e bicicletas), a capital goiana também figura entre os destaques, com 98% de cobertura, o terceiro melhor resultado entre as capitais, atrás de Campo Grande (98,8%) e Palmas (98,6%).
Goiás acompanha desempenho elevado no cenário nacional
No comparativo por estados, Goiás ocupa a quarta posição nacional em pavimentação (94%), ficando atrás de São Paulo (96%), Minas Gerais (95,3%) e Distrito Federal (94,2%). O índice representa uma evolução em relação aos 79,6% registrados em 2010, acompanhando a média de crescimento nacional, que chegou a 88,5% neste levantamento.
Já no quesito capacidade de circulação das vias, Goiás apresentou 97,9% de cobertura, índice superior à média nacional (90,8%) e suficiente para colocá-lo como o quarto estado mais bem avaliado nessa categoria.
O que a pesquisa revela – e o que ainda falta medir
A pesquisa do IBGE é considerada o maior levantamento georreferenciado sobre infraestrutura urbana já realizado no país. Ao todo, são avaliados dez elementos do entorno dos domicílios: capacidade de circulação da via, pavimentação, bueiros ou bocas de lobo, iluminação pública, pontos de ônibus ou vans, ciclovias, calçadas, obstáculos nas calçadas, rampas de acessibilidade e arborização.
Contudo, o estudo não inclui informações sobre a qualidade, frequência de manutenção ou efetividade dos serviços urbanos, o que, para especialistas, limita seu uso em decisões estratégicas.
“É preciso dar um passo além. Ter poste não significa ter luz, ter asfalto não significa ter mobilidade. As políticas públicas precisam cruzar esse tipo de dado com indicadores de satisfação da população, sensação de segurança e efetividade do serviço”, conclui Maria Esther.