Pequenas empresas enfrentam cenário de cautela e alta nos custos, mas mantêm esperança no consumo interno
Nova edição da Sondagem Omie revela que 51% dos pequenos empresários veem piora no cenário econômico, mesmo com otimismo no faturamento próprio; juros altos e custo da mão de obra são principais dores do setor
A quarta edição da Sondagem Omie das Pequenas Empresas, realizada entre fevereiro e março deste ano, revela um cenário ambíguo para os pequenos negócios no Brasil: enquanto os empresários seguem confiantes no crescimento do próprio faturamento, cresce o pessimismo em relação à economia nacional como um todo. Segundo o levantamento, 51% dos empreendedores preveem piora no ambiente econômico até o fim do semestre, número superior aos 39% registrados na edição anterior, em setembro de 2024.
Esse salto no pessimismo está associado ao aumento das taxas de juros, à inflação persistente e à percepção de desaquecimento do PIB, sobretudo nos setores de Serviços e Indústria.
Pressão econômica e resiliência interna
O Brasil conta atualmente com mais de 10 milhões de micro e pequenas empresas ativas, e cerca de 65% delas estão no Simples Nacional, segundo dados da Receita Federal. Esse segmento é vital para a economia brasileira, sendo responsável por cerca de 30% do PIB e cerca de 70% dos empregos formais no país.
Apesar das dificuldades externas, 84% dos empresários esperam aumento no faturamento dos próprios negócios nos próximos seis meses. Para o economista Felipe Beraldi, gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, esse dado mostra que, mesmo em um cenário macroeconômico instável, os pequenos empreendedores seguem encontrando brechas para crescer.
“O resultado positivo surpreende diante do desaquecimento detectado nos dados do IODE-PMEs. Mas o crescimento da renda real do trabalho e o bom desempenho do comércio sustentam uma visão otimista em vários segmentos”, afirma Beraldi.
Contratações seguem, mas com cautela
A sondagem também investigou as intenções de contratação. Os números revelam que 43% pretendem abrir novas vagas, crescimento em relação aos 37% da edição anterior. Outros 29% podem contratar em caso de reposições, enquanto 28% não têm planos de ampliar o quadro de funcionários no curto prazo.
Esse movimento acompanha uma realidade de admissões contidas, com foco na substituição de pessoal. Das empresas que contrataram recentemente, apenas metade o fez para novas vagas.
Segundo Beraldi, isso reflete um cenário de ajustes estratégicos:
“Há uma ampliação do grupo de empresas que não estão contratando — foi de 40% para 46% em um ano. Isso revela uma postura de maior cautela, típica de momentos de transição econômica.”
Faturamento e custos sob pressão
Nos últimos meses, 52% das empresas relataram aumento de faturamento, mas 48% apontaram estagnação ou retração. Os dados estão alinhados com o desempenho do IODE-PMEs, que apontou crescimento modesto de 3% no acumulado dos últimos seis meses até fevereiro de 2025. A partir de dezembro, o índice mostra sinais de retração, especialmente nos setores industriais e de serviços.
Além disso, 80% dos empresários relatam aumento nos custos e despesas, tendência reforçada pela alta do IGP-M (8,6% em 12 meses até março) e pelos aumentos no salário mínimo e encargos trabalhistas. Para Beraldi, o impacto é claro:
“O aumento dos custos com mão de obra e a elevação da Selic estão pressionando as margens das pequenas empresas, que precisam reajustar estratégias para manter o equilíbrio financeiro.”
Principais dores do setor: juros, folha e crédito
A pesquisa também mapeou os principais entraves enfrentados pelas PMEs em 2025. Quase metade dos entrevistados (45%) apontou os juros altos como principal obstáculo, seguido por altos custos com a folha salarial (45%) e elevada competitividade (42%). Em crescimento, o item falta de capital de giro foi citado por 36% dos respondentes, enquanto a baixa demanda caiu de 30% para 26%.
“O custo do crédito está muito alto e os bancos estão mais seletivos, o que impede uma expansão saudável”, explica Beraldi. “A queda da preocupação com a demanda indica que o consumo interno ainda está aquecido, mas o acesso a crédito é o gargalo do momento.”
Crédito mais caro e seletivo
Dados do Banco Central, divulgados pela Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC) em fevereiro, confirmam o cenário: as instituições financeiras esperam piora nas condições de crédito em todos os segmentos, com maior exigência de garantias e juros mais elevados.
Esse cenário é especialmente desafiador para pequenos negócios com menor estrutura de capital, que dependem de linhas de crédito emergenciais ou financiamento para manter fluxo de caixa.
Perfil da pesquisa
A Sondagem Omie das Pequenas Empresas foi realizada com mais de 460 empresários do Simples Nacional, entre os dias 11 de fevereiro e 17 de março de 2025. A maioria dos respondentes ocupa cargos de liderança, como CEOs, sócios, diretores e gerentes, sendo responsáveis pelas decisões operacionais e financeiras de seus negócios.