Trump modera discurso contra China e Fed, e acalma mercados: “Recuo estratégico”, avaliam analistas
Pré-candidato republicano promete revisar tarifas e manter Jerome Powell no comando do banco central; Wall Street reage com alta
Por Redação | Diário de Aparecida
Washington (EUA), 23/04/2025 – 10h12
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu sinais de moderação em dois dos principais temas que vinham gerando instabilidade nos mercados internacionais: as relações comerciais com a China e sua tensão histórica com o Federal Reserve. Em discurso realizado na noite de terça-feira (22), o republicano afirmou que pretende revisar a política de tarifas de importação e, pela primeira vez em anos, descartou a possibilidade de demissão do atual presidente do Fed, Jerome Powell.
Tarifas sob nova perspectiva
Durante uma conferência empresarial em Ohio, Trump classificou a tarifa de 145% sobre produtos chineses como “exagerada” e indicou que pretende revisar os percentuais. “Não será zero, mas também não ficará nem perto disso”, declarou, sugerindo que um novo pacote de medidas está em formulação.
Para o economista e consultor em comércio exterior Eduardo Marques, o gesto é estratégico:
“Trump percebeu que as bases eleitorais industriais se assustaram com os custos crescentes das importações. Ele sinaliza que vai proteger o mercado interno, mas sem criar obstáculos intransponíveis para a cadeia produtiva americana.”
Federal Reserve fora da linha de fogo
Outro ponto de inflexão foi a trégua declarada por Trump ao Federal Reserve. Perguntado sobre a continuidade de Jerome Powell, Trump foi direto: “Não pretendo demiti-lo”. A fala interrompe anos de tensão entre o ex-presidente e o banco central, frequentemente acusado por ele de “sabotar a economia” com políticas de juros elevados.
Segundo Marques, o recuo é também uma forma de “acalmar os investidores institucionais”:
“As críticas ao Fed incomodavam Wall Street. Trump, ao manter Powell, quer mostrar que não representa risco sistêmico à governança econômica.”
Mercados reagem com otimismo
A sinalização de moderação teve impacto imediato nas bolsas. O índice Dow Jones fechou em alta de 1,4%, o S&P 500 avançou 1,2% e o Nasdaq subiu 1,6%. O dólar perdeu força frente ao yuan e também se desvalorizou em relação ao real.
Empresas exportadoras e multinacionais com presença na Ásia lideraram os ganhos, em meio à perspectiva de um ambiente comercial menos hostil. Em nota, o banco Goldman Sachs classificou a mudança de tom como “o movimento mais pragmático do republicano desde o início da pré-campanha”.
China continua no radar
Apesar do alívio nos mercados, Trump reforçou que continuará pressionando Pequim por mudanças estruturais. “Eles manipulam o sistema. Vamos buscar um novo acordo, mais justo”, declarou. A postura mais diplomática, no entanto, marca uma guinada em relação ao discurso de confrontação adotado em seu primeiro mandato.
Para Eduardo Marques, o pragmatismo não anula o viés protecionista:
“Trump continua sendo Trump. Ele não abandonou sua estratégia ‘America First’, mas entendeu que o confronto total gera mais perdas do que ganhos — sobretudo em ano eleitoral.”
Impacto no Brasil
A mudança de postura dos Estados Unidos impacta também a economia brasileira. Segundo o economista, a redução de tarifas pode facilitar a retomada de exportações indiretas — especialmente de produtos agrícolas e insumos industriais brasileiros que abastecem fábricas asiáticas.
“Qualquer movimento que reduza tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo é positivo para países exportadores como o Brasil”, conclui Marques.