Exportação de carne de frango é suspensa por 20 países após surto de gripe aviária no RS
Com o Brasil na liderança mundial do setor, interrupções afetam mercados estratégicos e colocam a gripe aviária como novo vilão da economia do agronegócio. Governo tenta evitar efeito dominó nas exportações.
O Brasil, maior exportador de carne de frango do mundo, enfrenta um dos episódios mais delicados de sua cadeia agropecuária nos últimos anos. Desde a confirmação do primeiro foco de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, 20 países já suspenderam total ou parcialmente as compras do produto brasileiro — entre eles, China, União Europeia, África do Sul, Argentina e México, todos considerados mercados estratégicos.
Outros países, como Reino Unido, Cuba e Bahrein, optaram por restrições regionais, interrompendo apenas as importações oriundas do Rio Grande do Sul.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, os bloqueios se baseiam em normas sanitárias internacionais, que impedem a compra de carne de frango de regiões com registro ativo da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (HPAI). O governo afirma que o surto está controlado e isolado, mas reconhece o impacto comercial.
“Estamos lidando com uma situação crítica. É uma crise sanitária, mas também econômica. O Brasil tem credibilidade e controle sanitário, mas precisa demonstrar isso rapidamente ao mundo”, disse o ministro Carlos Fávaro.
Gripe aviária: o novo vilão da balança comercial
Até então restrita a episódios em aves silvestres, a gripe aviária agora entra como fator de risco real na economia do agronegócio brasileiro. O setor de frango é um dos pilares das exportações alimentares nacionais: só em 2024, o Brasil exportou 5,1 milhões de toneladas de carne de frango, gerando uma receita superior a US$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões), com embarques para mais de 150 países.
Com cerca de 70% da produção destinada ao mercado interno, o país mantinha estabilidade diante de choques externos. Mas a interrupção simultânea de embarques por 20 países representa um baque relevante na balança comercial agropecuária, e ameaça a liderança brasileira no setor de proteína animal.
“A gripe aviária assumiu o papel de vilão imediato da economia agroexportadora. Mais do que risco sanitário, ela virou problema de reputação internacional. Isso afeta a confiança em toda a cadeia, do produtor ao importador”, avalia o economista rural Rodrigo Spengler
Principais mercados afetados
Entre os países que suspenderam as importações estão os maiores compradores da carne de frango brasileira:
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🇨🇳 China – maior mercado individual;
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🇪🇺 União Europeia – exige status de “livre de HPAI”;
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🇿🇦 África do Sul – destino crescente nos últimos anos;
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🇦🇷 Argentina – vizinha e compradora histórica;
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🇲🇽 México – um dos maiores mercados da América Latina.
Esses destinos representam mais de 50% do volume exportado, segundo dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). O setor teme que a suspensão afete também contratos futuros e gere queda de preços no mercado internacional.
Medidas de contenção
O governo federal afirma que os focos da doença estão restritos ao Rio Grande do Sul, e que não há risco de desabastecimento interno. A produção nos estados do Paraná e Santa Catarina — que, junto com o RS, concentram quase 80% das exportações — continua operando sob rígido monitoramento.
As ações emergenciais incluem:
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Intensificação da vigilância sanitária em granjas comerciais;
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Adoção de protocolos de biossegurança nos centros produtores;
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Diálogo direto com os países compradores para prestação de esclarecimentos técnicos.
“Estamos seguindo todos os protocolos internacionais e fornecendo relatórios técnicos para reverter as suspensões. Já passamos por situações similares e superamos”, afirmou Fávaro.
Preço do frango deve se manter estável no Brasil
Apesar do impacto nas exportações, o ministro da Agricultura afirmou que o consumidor brasileiro não deve sentir aumento no preço da carne de frango nos próximos meses. Isso porque o mercado interno absorve cerca de 70% da produção nacional, e a demanda doméstica permanece estável.
“O cenário é desafiador no comércio internacional, mas o abastecimento interno está garantido. Não há motivos para aumento de preços na ponta”, garantiu Fávaro.
Caminho para a retomada
A expectativa do setor é que os bloqueios sejam temporários e revertidos à medida que o Brasil comprove, com base técnica, que o surto está contido. O país já enfrentou restrições similares no passado e recuperou seus mercados após auditorias sanitárias internacionais.
Enquanto isso, o impacto imediato recai sobre indústrias exportadoras, transportadoras, pequenos integradores e cooperativas, que já relatam perdas logísticas e renegociação de contratos com embarcadores internacionais.
📉 Resumo: impacto da suspensão nas exportações de carne de frango
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❌ 20 países suspenderam total ou parcialmente as compras de frango brasileiro após surto de gripe aviária no RS
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📉 Exportações podem perder bilhões em contratos nos próximos meses
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🇨🇳🇪🇺🇲🇽 Principais mercados afetados: China, União Europeia, México, África do Sul e Argentina
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🐔 Cerca de 70% da produção segue para consumo interno, o que deve manter os preços estáveis no Brasil
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⏳ Governo espera reverter as suspensões com protocolos sanitários e articulação diplomática