Goiás lidera alta do etanol no país em maio e acende alerta sobre impacto econômico
Estado registrou aumento de 5,58% no preço do biocombustível, na contramão da média nacional, que teve queda de 0,45%. Alta pode pressionar transporte, logística e inflação regional, avalia economista
Goiânia – Na contramão do restante do país, Goiás registrou a maior alta no preço médio do etanol na primeira quinzena de maio. De acordo com o Índice de Preços Edenred Ticket Log (IPTL), o biocombustível subiu 5,58% no estado, atingindo R$ 4,54 por litro. Enquanto isso, a média nacional recuou 0,45%, com o preço médio do etanol ficando em R$ 4,46.
A variação chamou atenção de analistas e reforçou a pressão sobre cadeias produtivas que dependem intensamente do transporte rodoviário no estado. Goiás foi também um dos únicos estados a registrar aumento simultâneo no preço do etanol e da gasolina, que subiu 0,77%, chegando a R$ 6,55 — acima da média nacional de R$ 6,43.
Alta em meio à queda nacional
Entre os estados brasileiros, Rondônia foi o que apresentou a maior queda no preço do etanol, de 4,30%, com o litro comercializado a R$ 5,12. Já o menor valor foi registrado em São Paulo, com R$ 4,21 após queda de 0,94%. No outro extremo, o etanol mais caro do país foi encontrado no Amazonas, a R$ 5,48, sem variação em relação ao mês anterior.
Segundo o IPTL, a maior parte das regiões brasileiras acompanhou a tendência de estabilidade ou leve queda, com exceção do Centro-Oeste, onde tanto gasolina quanto etanol apresentaram aumento. A região é responsável por boa parte da produção de etanol no país, mas fatores locais como logística, tributação e distribuição influenciam diretamente o preço final.
Especialistas apontam risco inflacionário
Para o economista Carlos Alberto Lima, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador em economia regional, a alta do etanol deve ser observada com atenção:
“O aumento do etanol impacta diretamente o custo de transporte em um estado onde a matriz logística é predominantemente rodoviária. Isso encarece não apenas o deslocamento das pessoas, mas também o frete de mercadorias, com reflexos sobre os preços ao consumidor. A depender da persistência dessa alta, pode haver efeitos sobre a inflação regional.”
O especialista lembra que o etanol, apesar de ser uma alternativa ambientalmente mais limpa que a gasolina, perde atratividade quando o preço se aproxima de 70% do valor da gasolina — ponto de corte geralmente usado como parâmetro para avaliar a viabilidade econômica do combustível.
Tendência pode afetar o consumo
Segundo o levantamento, o etanol ainda é considerado mais vantajoso que a gasolina em 11 estados brasileiros. No entanto, a diferença de preços vem se estreitando, especialmente em estados do Centro-Oeste como Goiás, onde o aumento recente do etanol reduziu a competitividade do biocombustível.
A situação preocupa também setores ligados à agricultura, à distribuição e ao transporte de passageiros. “Em um cenário de desaceleração econômica, o aumento de um insumo essencial como o combustível tende a inibir o consumo e comprometer a margem de pequenos empreendedores”, completa Lima.
Produção em plena safra
A alta acontece em um momento em que parte do país já colhe os efeitos da intensificação da safra da cana-de-açúcar, o que, em tese, deveria baratear o etanol. Especialistas avaliam que, no caso goiano, outros fatores como custos de escoamento, estoques reguladores e dinâmica interna de mercado podem estar pressionando os preços.
Procurada, a Edenred Ticket Log informou que os dados refletem transações reais realizadas em mais de 21 mil postos credenciados em todo o Brasil. O índice é baseado em uma base robusta de dados, com mais de um milhão de veículos geridos pela empresa e média de oito transações por segundo.
Expectativas para o restante do mês
Com o avanço da safra nas próximas semanas e a expectativa de estabilização do mercado internacional de petróleo, analistas esperam uma possível reversão da tendência de alta, mas ainda com incertezas sobre a velocidade desse ajuste.
“O comportamento dos preços nas próximas quinzenas vai depender da agilidade da distribuição e da resposta do consumo. Se o etanol continuar a subir, a demanda pode migrar de volta para a gasolina, pressionando o mercado novamente”, avalia o economista