Do campo para o luxo: produtores rurais impulsionam mercado de imóveis milionários no Brasil
Crescimento do agronegócio faz com que parte dos recursos seja direcionada para investimentos imobiliários em regiões com metro quadrado mais valorizado do país
O avanço das exportações do agronegócio brasileiro está gerando efeitos que ultrapassam as fronteiras do campo e começam a impactar outros setores da economia, em especial o mercado imobiliário de alto padrão. A busca de produtores rurais por imóveis de luxo vem crescendo e, em algumas regiões, já representa uma fatia relevante dos compradores.
Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária mostram que, em março deste ano, o setor exportou US$ 15,6 bilhões — alta de 12,5% na comparação com o mesmo período de 2024. O agro responde atualmente por 53,6% das exportações brasileiras. Esse fluxo de recursos tem sido direcionado, em parte, para ativos imobiliários, sobretudo em municípios do litoral catarinense, que concentram alguns dos metros quadrados mais valorizados do país.
Em Balneário Camboriú (SC), cidade que lidera o ranking nacional de preço do metro quadrado, aproximadamente 30% dos compradores de imóveis de luxo são empresários e investidores ligados ao agronegócio, segundo levantamento do corretor Bruno Cassola, especialista no segmento de alto padrão.
— O fortalecimento do agro, com safras recordes e crescimento das exportações, aumentou o poder de compra dos produtores. O investimento em imóveis de luxo passou a ser uma estratégia de diversificação patrimonial, proteção contra inflação e busca por ativos de alta rentabilidade — afirma Cassola, que atua há quase duas décadas no setor.
Imóvel como estratégia financeira
O perfil desse investidor varia. De um lado, há quem adquira imóveis como forma de proteger o patrimônio, com foco na valorização imobiliária e liquidez. De outro, estão os produtores que buscam uma segunda residência, muitas vezes no litoral, para períodos de descanso, sem abrir mão de segurança, privacidade e serviços exclusivos.
A percepção de risco do mercado financeiro tradicional também tem influenciado essa movimentação. Relatórios da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontam que, em 2024, o segmento de imóveis de alto padrão cresceu 17%, puxado, principalmente, por compradores oriundos do agronegócio e do setor de tecnologia.
Construtoras adaptam ofertas ao ciclo do campo
A influência do agro sobre o mercado imobiliário é tamanha que incorporadoras e construtoras passaram a oferecer condições comerciais alinhadas à lógica financeira do setor rural. O pagamento atrelado ao calendário da safra, por exemplo, já se tornou uma prática comum em negociações desse perfil.
— Existe uma compreensão crescente de que o fluxo de caixa do produtor não é linear, mas cíclico, ligado às etapas da produção. Incorporadoras que entenderam isso conseguem acelerar a conclusão de negócios e atender esse novo perfil de cliente — explica Cassola.
Valorização supera índices financeiros
O litoral norte de Santa Catarina lidera o ranking de valorização imobiliária no Brasil. De acordo com o Índice FipeZap de abril de 2025, Balneário Camboriú atingiu R$ 16.719 por metro quadrado, seguido por Itapema (R$ 13.845) e Florianópolis (R$ 12.217). Na prática, a valorização média anual nesses municípios supera os rendimentos de aplicações financeiras tradicionais, como a renda fixa.
A explicação está na combinação de fatores como escassez de terrenos, segurança pública, infraestrutura urbana de alto padrão e atrativos turísticos permanentes. A demanda constante por parte de investidores do agronegócio tem pressionado ainda mais os preços.
— Hoje, o imóvel de luxo não é apenas uma casa ou apartamento. É um ativo financeiro, uma moeda forte, que oferece segurança patrimonial e, ao mesmo tempo, qualidade de vida — pontua Cassola.
Perspectiva de continuidade
O movimento não dá sinais de arrefecimento. Com as projeções de manutenção das safras recordes, alta nas exportações e fortalecimento das commodities, a expectativa do mercado é que o fluxo de capital do agronegócio para o setor imobiliário de luxo se intensifique ao longo de 2025.
— Esse é um fenômeno que veio para ficar. É o encontro de dois dos maiores motores da economia brasileira: o agronegócio e a construção civil — resume Cassola.