Para prevenir incêndios florestais, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) tem feito aceiros queimados nas Unidades de Conservação de Goiás. A técnica faz parte do Plano Estadual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais e é autorizada legalmente como modalidade de manejo integrado do fogo — conceito que une conhecimentos tradicionais, ciência e gestão adaptativa.
O gerente de gestão e prevenção de incêndios e acidentes ambientais da Semad, Sayro Reis, explica que os aceiros queimados são faixas de terra sem vegetação que reduzem o material combustível (como folhas secas, galhos e capim) em faixas estratégicas do território, criando barreiras de proteção. Assim, caso ocorra uma ignição, ou seja, o início de um fogo acidental ou criminoso, essas áreas com menos combustível impedem que o fogo se espalhe e atinja grandes proporções.
“Temos equipamentos, efetivo especializado para realizar um trabalho seguro, viaturas do Corpo de Bombeiros com um kit picape, que consegue transportar 600 litros de água em toda a extensão do nosso aceiro, utilizamos um equipamento para colocar o fogo de maneira segura, que é pinga-fogo e todo o material e EPI necessário”, destaca.
A execução da atividade é acompanhada por servidores da Semad e realizada em parceria com o Corpo de Bombeiros e a Brigada Aliança da Terra. No Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco, por exemplo, a ação teve início no começo do mês, e já foi finalizada.
O Parque Altamiro de Moura Pacheco, com mais de 2 mil hectares, abriga uma rica diversidade de fauna e flora e cumpre papel importante como área de recarga do aquífero Meia Ponte, responsável pelo abastecimento de água da Região Metropolitana de Goiânia.
O subsecretário de licenciamento, fiscalização e controle ambiental da Semad, Robson Disarz, reforça que a população deve estar atenta à presença de fumaça, mas também consciente de que ações como os aceiros queimados são planejadas, seguras e fundamentais para evitar tragédias ambientais maiores.
Fogo como estratégia
Dados da Semad revelam a urgência dessa estratégia. De acordo com o relatório “Ações de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – 2024”, o estado registrou quase 449 mil hectares queimados em 2023, com quase 29 mil hectares dentro de Unidades de Conservação. O Parque Altamiro de Moura Pacheco, por exemplo, teve 15,6 hectares afetados.
Os números também indicam que a grande maioria das queimadas – 98,58% – ocorreu em áreas sem licenciamento ambiental, apontando para ações irregulares ou criminosas. Em contraste, a Semad destaca que a adoção de aceiros queimados no Parque Altamiro em anos anteriores foi crucial para evitar incêndios de grandes proporções.
“Essa técnica nos permite antecipar um problema. Em vez de combater o fogo quando ele já está se alastrando, criamos barreiras que evitam que ele se propague. É uma mudança de postura diante de um cenário de crise climática”, enfatiza Disarz, reforçando a visão estratégica por trás da medida.
Contexto climático e legislação
A iniciativa dos aceiros queimados ocorre em um período de alerta crítico. Em 2024, Goiás enfrentou uma das secas mais severas da última década, com mais de 150 dias consecutivos sem chuva em algumas regiões, como Goiânia. Os índices de umidade do ar chegaram a alarmantes 7%, o menor do país naquele ano. Essa combinação de calor extremo, seca prolongada e vegetação ressecada cria um cenário propício para incêndios florestais de grandes proporções.
Diante desse panorama, o Estado de Goiás tem implementado medidas estruturais robustas. Além do plano anual de prevenção, decretos foram editados para reconhecer a situação de emergência ambiental, agilizando contratações e aquisições. Em setembro, foi sancionada a Política Estadual de Prevenção e Combate ao Incêndio Criminoso (Lei nº 22.978/2024), que visa responsabilizar infratores e fortalecer a ação interinstitucional.
No âmbito federal, a Lei nº 14.944/2024, que instituiu a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, consolida ainda mais essa estratégia como um instrumento vital para a conservação ambiental e a proteção de comunidades vulneráveis.