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A aridez mental daquele homem

Sinésio Dioliveira é jornalista e funcionário público municipal

“Vocês têm de acabar com essas pragas da avenida.” Essa frase foi dita por um homem de quase 70 anos a uma equipe da Agência Municipal de Meio Ambiente que realizava o plantio de árvores no Parque Beija-Flor, no Setor Jaó. Isso no último sábado. As pragas a que se referiu são as árvores gameleiras (ficus elástica) que, junto a outras espécies, compõem o cenário arborístico da Avenida Professor Venerando de Freitas Borges.

O homem, em sua aridez mental, relatou que sempre fica contrariado ao passar pela avenida e ver tais árvores. Seu incômodo, conforme disse, vem do fato de elas gerarem transtornos aos moradores mais próximos delas, que é o seu caso, devido às raízes, que destroem calçadas. Mesmo ouvindo que tais árvores estão plantadas na ilha da via, bem longe das casas, e que são importantes na beleza e sombra que propiciam, ele continuou na tecla da extirpação.

Seu relato de contrariedade ao circular pela respectiva avenida me fez associá-lo àquelas pessoas que, de acordo o escritor russo Leon Tolstói, veem lenha para fogueira ao passar por um bosque. Peter Wohlleben, engenheiro florestal alemão e autor do livro “A vida secreta das árvores”, diz algo, no prólogo da obra, de certa forma pertinente a essa cegueira ambiental citada Tolstói de só ver a árvore como lenha: “Quando comecei a carreira como engenheiro ambiental, eu sabia tanto sobre a vida secreta das árvores quanto um açougueiro sabe sobre os sentimentos dos animais”.

Certamente o professor Venerando de Freitas Borges, lá do outro lado da vida, não deve ter gostado do posicionamento radical do homem sobre as gameleiras, que nem na calçada dele estão, pois aí se justificaria uma avaliação mais meticulosa da situação. Enquanto primeiro prefeito de Goiânia, Venerando deu início ao processo de arborização da cidade durante sua gestão, que foi de 1935 a 1945, quando a cidade não possuía árvores em suas ruas. Ele plantou muitos flamboyants e mungubas em determinadas ruas do Centro; nessa época não se sabia das consequências delas em calçadas e redes elétricas; daí hoje não se plantá-las mais em vias públicas. Poucas deles existem atualmente, pois a maioria chegou ao fim de ciclo de vida.

E foi justamente o fim de ciclo de vida de algumas mungubas no Parque Beija-Flor que levou a Amma a plantar cássia-javânica, cega-machado e calabura no lugar delas. Isso foi informado ao homem pelo pessoal da Amma, mas sua aridez mental impediu-o de escutar, visto que seu único propósito era que o órgão extirpasse as belas e frondosas gameleiras da avenida, cumprindo um papel de grande importância ambiental, gerando sombra e beleza.

Sinésio Dioliveira é jornalista e servidor público municipal

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