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Troca de secretários gera apreensão no MDB goiano

Helton Lenine

A decisão do prefeito Rogério Cruz, atendendo ao Republicanos e à Igreja Universal do Reino de Deus e promovendo a troca de nomes no secretariado municipal inicialmente indicados por Daniel Vilela, herdeiro político de Maguito Vilela revoltou cardeais e parlamentares emedebistas. A primeira mudança já ocorreu: Andrey Azeredo, secretário municipal de Governo, foi substituído pelo advogado Arthur Bernardes, que foi secretário de Justiça e Cidadania do Distrito Federal e é ligado à Igreja Universal.

Lideranças do MDB, partido que encabeçou, ano passado, a chapa que disputou a prefeitura da capital com Rogério Cruz na vice, temem a extensão das mudanças que serão feitas para abrigar quadros religiosos e do seu próprio partido, o Republicanos.

A depender do alcance do que já está sendo chamado de “minirreforma administrativa”, poderão ser afastados mais nomes importantes ligados ao emedebismo, como Marcelo Costa (Educação), Luiz Bittencourt (Infraestrutura), Bruno Rocha Lima (Comunicação) e Agenor Mariano (Planejamento Urbano e Habitação). 

Todos eles foram nomeados para a equipe de Rogério Cruz pelo presidente estadual do MDB Daniel Vilela, falando como representante do seu pai, Maguito Vilela, na época internado em estado grave em São Paulo para tratar do ataque da Covid-19 que finalmente o levou a óbito.

Ninguém sabe se Maguito realmente endossou a lista de secretários imposta a Rogério Cruz – que a acatou na integralidade, deixando de lado sua cota pessoal e as possíveis indicações do Republicanos e da Igreja Universal, uma religião que, no Brasil, tem projeto de poder.

O movimento capitaneado pelo Republicanos e pela Igreja Universal comprova que chegou a hora da reação diante da predominância do MDB nos postos de comando do Paço Municipal

Rogério Cruz está sendo pressionado pelo deputado federal João Campos, presidente estadual do Republicanos, pelo deputado estadual Jeferson Rodrigues, estrela do partido em Goiás, pelo pastor Wanderley Tavares (representante do presidente nacional do Republicanos Marcos Pereira e dirigente da sigla no Distrito Federal) e pelo executivo Luciano Ribeiro Neto, da Universal e da TV Record, a realizar a “minirreforma administrativa” para contemplar a legenda e a igreja.

“Todo mundo fica apreensivo e receoso, com essa história de igreja mandar na prefeitura de Goiânia. E isso pode ter um efeito perigoso que é o de tirar uma carta e em seguida desabar o castelo inteiro”, lamentou um dos emedebistas hoje posicionado na equipe de Rogério Cruz. 

Prefeito é acusado de se afastar dos compromissos de Maguito

Lideranças do MDB avaliam que todos os sinais emitidos pelo prefeito Rogério Cruz apontam para uma abertura de espaço no seu secretariado para nomes do Republicanos e da Igreja Universal. Essa tendência ficou clara no esforço que o prefeito fez para manter as igrejas e templos abertos em Goiânia, mesmo tendo sido ele o responsável pela decretação do lockdown que fechou as atividades não essenciais na capital por 14 dias e nesta semana foi prorrogado por mais 14 dias. 

Por ação do Ministério Público Estadual junto ao Poder Judiciário, as igrejas e templos foram fechadas novamente, com a suspensão de todos os cultos – uma derrota para Cruz, que não teve respaldo da maioria dos seus secretários na tentativa de manter as religiões em funcionamento em Goiânia. Contribui também para o clima de incerteza dentro do MDB o sumiço do presidente estadual do partido Daniel Vilela, que tem circulado pouco, provavelmente ainda sob o impacto do falecimento do pai.

Consta que, ainda nesta semana, Daniel será recebido por Rogério Cruz exatamente para discutir a troca de nomes no secretariado. Um parlamentar do Republicanos, em off, disse ao Diário de Aparecida que o MDB exagerou na época em que a equipe da prefeitura foi montada, ocupando todas as vagas, tanto as de menor quanto as de mais importância e não deixando nenhuma fatia de poder real para o prefeito, seu partido e sua igreja. “Ele está cercado, vigiado 24 horas por dia, o ambiente no Paço Municipal não é bom”, disse essa fonte.

“É natural que o prefeito, que agora é o Rogério, tenha pessoas de confiança em postos estratégicos, mas, também, é importante considerar que o nosso partido foi vitorioso nas eleições, tem quadros qualificados e que a equipe tem apresentado resultados”, declarou Daniel Vilela a O Popular, antecipando o clima de tensão que deverá permear a sua reunião o chefe do Executivo Municipal.  “Esperamos que ele converse e justifique as possíveis mudanças”, acrescentou.

Já deputados estaduais do MDB como Paulo Cézar Martins, Henrique Arantes e Humberto Aidar não escondem a irritação com a “minirreforma administrativa”, que, segundo eles, pode ser o início da marcha para o rompimento do prefeito com o partido que chefiou a coligação em que ele foi eleito vice. Eles lamentam que, em menos de três meses, Rogério Cruz já mostre sinais de que vai se desligar dos compromissos firmados com Maguito Vilela e Daniel Vilela, na campanha, já que o MDB foi o vencedor das eleições do ano passado na capital. (HL)

Foto: Arquivo / Divulgação

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