Aparecida é a única grande cidade a desobedecer ao decreto estadual e colocar sua população em risco
Da Redação
Aparecida é a única grande cidade do Estado a desobedecer ao decreto estadual que instituiu a partir desta quarta, 17, o sistema 14 x 14 de fechamento do comércio, indústria e serviços, como medida de prevenção contra a propagação do novo coronavírus.
Pelo decreto do governador Ronaldo Caiado (DEM), todos municípios situados em zonas de calamidade sanitária – na qual somente a região Nordeste não se enquadra, no momento – devem fechar as portas por 14 dias, reabrindo nos 14 dias seguintes e assim consecutivamente até o arrefecimento da pandemia. O lockdown já está valendo.
O prefeito Gustavo Mendanha (MDB), pressionado pelos empresários aparecidenses, que têm maioria no Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19, resolveu flexibilizar o funcionamento das atividades econômicas não essenciais em Aparecida – que se encontra com o sistema de Saúde colapsado, sem leitos de UTI e de enfermaria para atender aos pacientes em estado grave ou não da doença.
Mendanha alega que o sistema de escalonamento intermitente por regiões alcança o mesmo objetivo que o modelo 14 x 14 adotado pelo resto do Estado, afirmação da qual especialistas discordam. Mais ainda no caso da conurbação do município com Goiânia, que exigiria o que o secretário estadual de Saúde Ismael Alexandrino chamou de “unicidade” de reação diante da ferocidade da 2ª onda da Covid-19 em Goiás e de resto em todo o país.
A procura pelo sistema de ônibus em Aparecida, segundo dados da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo – RMTC subiu com a flexibilização determinada por Mendanha, sinal inequívoco de que aumentaram as aglomerações e o contato entre os moradores do município.
Ismael Alexandrino disse ao Jornal Opção que o não alinhamento de ações entre Goiânia e Aparecida enfraquece o combate à pandemia na região metropolitana, a mais populosa do Estado. Enquanto o prefeito Rogério Cruz optou pelo sistema 14 x 14, o seu colega Gustavo Mendanha tomou um rumo diferente, ignorando as estreitas conexões entre as duas cidades.
A visão dos especialistas é a de que Aparecida e Goiânia compõem um núcleo urbano comum. “A população tem livre trânsito de lá para cá, daqui para lá, e neste momento, a gente entende que isso trará dificuldades. Esses próximos 14 dias serão muito críticos”, justificou o secretário Ismael Alexandrino, reiterando que “o ideal seria que houvesse unicidade de ações entre as cidades, para garantir que a repercussão daqui 14 dias venha a ser positiva e a situação da saúde pública em abril mais amena.”
Mendanha entra em choque com Rogério Cruz e prefeitos
O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha (MDB) vive um momento de estremecimento com o seu colega de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), isso depois que os dois se encontraram, em fevereiro, e prometeram criar uma agenda de parcerias entre as duas cidades.
O motivo do desentendimento é a “traição” de Mendanha, que acertou com Cruz a adoção de medidas de lockdown pelas duas prefeituras, mas depois, sem prévio aviso, mudou de posição e decidiu flexibilizar o funcionamento do comércio, indústria e serviços em Aparecida, enquanto Goiânia permaneceu com a suspensão dessas atividades por 14 dias, prorrogados por mais 14 e agora ainda aderiu ao modelo 14 x 14, adotado em todo o Estado com o decreto do governador Ronaldo Caiado.
Mendanha foi pressionado por empresários e pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás – FIEG Sandro Mabel. Para fugir dos desgastes, resolveu optar por medidas que, na prática, atendem aos interesses das classes produtoras aparecidenses e de Goiás.
Apesar de ainda manter boa relação com o MDB, o prefeito de Goiânia se decepcionou com integrantes do partido diante dos decretos publicados por ele próprio e por Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida de Goiânia, na tarde do último sábado, 13.
A expectativa não só de Rogério Cruz, como de outros prefeitos, como Carlão da Fox, de Goianira, era a de que haveria uma ação conjunta e consensual entre os municípios, em especial no caso de Goiânia, que é conurbada com Aparecida, na tentativa de frear a contaminação pelo coronavírus.
Na época, Aparecida já vivia escassez de leitos enquanto a capital tinha situação um pouco mais confortável, com índice de ocupação na faixa dos 70%.
Tendo em vista a proximidade das duas cidades e da gestão compartilhada de leitos, Rogério Cruz aceitou o desafio de endurecer as regras, mesmo sabendo que a medida se tornaria impopular e poderia lhe causar desgastes. A surpresa veio quando, na tarde do último sábado, 13, o prefeito de Aparecida baixou um decreto mais flexível com escalonamento das atividades comerciais por macrozonas na cidade.
“A decisão de Mendanha aumentou a pressão de populares e líderes empresariais em cima de Rogério Cruz que acabou por assumir o estresse do endurecimento das regras sozinho”, reclamou um dos assessores do prefeito de Goiânia, acrescentando: “Se medidas mais restritivas foram adotadas em Goiânia, a cidade vizinha, conurbada — no fundo, a capital e Aparecida são uma única cidade —, não pode adotar medidas mais liberais. Não dá para salvar vidas em Goiânia sem salvá-las no município ao lado.”