Falta de oposição em Aparecida só traz prejuízos para o município
Não existe oposição em Aparecida. Nenhum partido político ativo e nenhum vereador ousam confrontar o prefeito Gustavo Mendanha. Nenhuma liderança de algum porte, também. A unanimidade em torno do nome de Mendanha é total e absoluta.
O que explica esse fenômeno? Seria o atual prefeito um gestor consagrado, que livrou Aparecida de todo e qualquer problema e transformou a cidade em um paraíso na terra? O que estaria por trás dessa “unanimidade” enganosa, mesmo diante do acúmulo de desafios sem solução, ignorados por uma gestão que investe pesado no marketing para projetar Mendanha na política estadual?
A inexistência de oposição em Aparecida é fácil de explicar: Mendanha “comprou” o apoio de praticamente todos os partidos e de todas as lideranças de expressão do município. É assim que ele foi reeleito para mais um mandato com mais de 95% dos votos válidos e aparentemente assumiu a posição de gestor mais bem aprovado de toda a história aparecidense, o que está longe da verdade.
Por trás da “unanimidade” construída pelo atual prefeito encontra-se o poder de fogo da máquina da prefeitura e dos seus cofres. Centenas de cargos comissionados foram e continuam sendo distribuídos a aliados, ex-vereadores, indicados por vereadores e apadrinhados dos partidos. Mais de 20 legendas têm representantes não só no secretariado de Gustavo Mendanha, como também na infinidade de funções que foram criadas sem a menor necessidade, apenas para garantir o apoio da classe política através de nomeações para salários elevados, muitos sob a suspeita de não prestar nenhum expediente diário.
Em tempos de pandemia e da sua influência negativa sobre o mercado de trabalho, o desemprego não existe entre os políticos de Aparecida. Antes de assumir o 2º mandato, Gustavo Mendanha aprovou na Câmara uma “reforma administrativa” que institucionalizou mais oito secretarias, subindo o número total para 27, aumentando o organograma de cada um com secretarias executivas, superintendências e diretorias. Para que se tenha ideia, a Prefeitura de São Paulo, o maior município brasileiro, conta com apenas 25 pastas, apesar da sua população de 12,5 milhões de pessoas, enquanto Aparecida tem 600 mil habitantes.
O Diário de Aparecida já mostrou que todos os presidentes de partidos políticos de Aparecida, com raras exceções, estão agasalhados no secretariado de Gustavo Mendanha. Isso inclui até os antagônicos PT e PSDB. O petista Adriano Mantovani é secretário de Relações Institucionais, enquanto o tucano Vanilson Bueno é o titular da Secretaria de Ação Integrada. Ninguém ficou de fora. Candidatos a vereador que não foram eleitos também lotam a folha de pagamento da prefeitura. E também pastores evangélicos, em especial da Igreja Esperança, do pastor Romeu Ivo, que influencia a gestão de Gustavo Mendanha e esparramou membros da igreja em postos chave da prefeitura. O pastor Jeferson Ferreira, da Esperança, é o secretário do Trabalho, enquanto outro pastor, Avelino Marinho, é o secretário de Cultura. Quanto aos presidentes municipais dos partidos, não há nenhum que não esteja diretamente contemplado na folha de pagamento de Aparecida.
Isso não é bom para o município. Custa milhões por mês e onera o caixa em troca de… nada. Muitos dos nomeados não têm sala ou sequer mesa para trabalhar. Mas estão na folha de pagamento, enquanto Aparecida carece de soluções para problemas que o prefeito não consegue resolver, como a falta de vagas para as crianças na rede municipal de educação infantil por falta de Cmei’s onde elas possam ser acolhidas. A ausência de oposição, portanto, custa caro para Aparecida.
Politicagem afastada por Maguito voltou com a gestão de Mendanha
Nos dois mandatos do prefeito Maguito Vilela, antecessor de Gustavo Mendanha, Aparecida foi administrada sem a concessão exagerada de cargos para indicados dos partidos políticos. Algumas nomeações aconteceram, mas dentro do aceitável. Maguito, dentro do estilo que o caracterizou quando foi governador de Goiás, deu preferência para quadros técnicos e segurou a folha de pagamento em limites compatíveis com a necessidade de dar alguma profissionalização para a sua gestão.
E conseguiu. A sua gestão inscreveu-se como uma das melhores da história de Aparecida, ao lado, por exemplo, da administração de Ademir Menezes ou de Norberto Teixeira, o primeiro prefeito a projetar o município no cenário estadual. Maguito foi longe, construindo obras como o hospital municipal e abrindo as avenidas do Eixo Norte-Sul, além da implantação dos polos industriais que revolucionaram a economia aparecidense.
Para conseguir resultados tão expressivos, o falecido emedebista usou a sua autoridade para afastar a “politicagem” da prefeitura, ou seja, deu um chega-pra-lá nas lideranças miúdas que só visavam a satisfação dos seus interesses pessoais e, até então, comprometiam grande parte da folha de pessoal do município. É por isso que Maguito queria, para a sua sucessão, o seu secretário de Articulação Institucional Euler Morais, um técnico gabaritado, e não Gustavo Mendanha, que foi imposto pelo pai, Léo Mendanha, mediante a ameaça de um racha no MDB que poderia comprometer as chances do partido na eleição.
Com Mendanha na prefeitura, a “velha política” reassumiu rapidamente as rédeas do poder em Aparecida, passou a se fartar dos cargos municipais e voltou a mandar. A pouca oposição que existia rapidamente desapareceu.