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Sob o comando de José Eliton, PSDB perde quadros e aprofunda isolamento

Durante 20 anos, entre 1998 e 2018, o PSDB foi o partido que dominou a política goiana, ganhando quatro eleições para governador com Marconi Perillo e mais uma tendo Alcides Rodrigues, do então aliado PP, como preposto. Foi um período de glórias. Marconi era considerado como um semideus, mas a enxurrada de escândalos envolvendo o governo de Goiás naquela época e o desfecho, que trouxe fatos policiais graves e até a prisão por 24 horas do ex-governador tucano, praticamente aniquilaram a legenda.

Nas urnas de 2018, José Eliton, como candidato a governador, ficou em 3º lugar. Marconi, pior ainda: disputando uma das duas vagas disponíveis para o Senado, despencou para o 5º lugar. Em Goiânia e em Aparecida, maiores colégios eleitorais do Estado, foi humilhado com o 6º lugar, atrás até do desconhecido e inexperiente emedebista Agenor Mariano, agora aspirante a uma carreira de cantor profissional.

As eleições municipais de 2020 enterraram ainda mais o PSDB. De mais de 77 prefeituras, caiu para 21, dos quais, vários já deixaram a sigla. Esmagado pela derrota, o presidente estadual Jânio Darrot, que conseguiu eleger o seu sucessor em Trindade, mas recorrendo a um candidato de outro partido (Marden Jr, do Patriota), renunciou ao cargo e se desfiliou para fugir dos desgastes e tentar viabilizar, em outra agremiação, a quimera de se candidatar a governador.

Beijando a lona, restou ao PSDB goiano escalar para a sua direção o que sobrou: José Eliton, tido como o coveiro do partido depois dos seus 20 anos de poder, com a sua falta de habilidade para articular, ausência de traquejo para a política e estilo autoritário de relacionamento, sem falar na retórica empolada e excessivamente baseada em um jogo vazio de palavras que pode funcionar nos tribunais (é advogado eleitoralista), mas não dá resultado como instrumento de afirmação de liderança.

Um deputado estadual tucano, que guarda mágoas profundas de como foi tratado pelo ex-vice e ex-governador, observa que entregar o PSDB à direção de José Eliton foi uma espécie de suicídio de Marconi – embora entendendo que não havia alternativas. “Podem anotar: em um ano, o partido vai estar mais fraco do que é hoje. Antes tivesse sido o Jardel Sebba, que é outro inconsequente, mas pelo menos tem conteúdo político”, aposta esse parlamentar – que parece estar coberto de razão.

Vejamos: com José Eliton na presidência, o PSDB perdeu Jânio Darrot, vários prefeitos e agora assiste à debandada do deputado estadual Francisco de Oliveira, um dos ícones dos bons tempos do partido. Chiquinho, como está conhecido, está de malas prontas para a base de apoio ao governador Ronaldo Caiado, depois de concluir que não tem a menor chance de se reeleger caso continue vestindo a surrada camisa azul e amarela dos tucanos, que José Eliton, com a sua indisposição para o diálogo, não conseguiu recuperar.

Deve sair também o único deputado federal do PSDB estadual, Célio Silveira, outro que não tolera ouvir o nome de José Eliton e que já concluiu que, pela legenda, não teria a menor condição de ganhar um novo mandato na Câmara.

Enquanto isso, aboletado no seu luxuoso escritório de advocacia, o presidente estadual do PSDB planta entrevistas e declarações, nas quais exerce o seu caudaloso palavrório e constrói sofismas para justificar a sua desastrada condução do partido. É um chato. Ele tem a convicção de que não foi um dos grandes responsáveis pelo naufrágio do Titanic tucano em 2018, e, ao contrário, julga-se como uma vítima dos erros e equívocos cometidos por Marconi em seus sucessivos governos – herança calamitosa que caiu no seu colo ao se tornar candidato a governador em 2018, costuma justificar.

A criatura que traiu o criador

Sem Ronaldo Caiado, José Eliton não existiria. Seria, no máximo, um discreto advogado eleitoralista sem grandes feitos profissionais no seu currículo e um fazendeiro de porte médio na região de Posse, no Nordeste Goiano.

Em 2010, no acordo com o PSDB, Caiado indicou José Eliton para compor a chapa de Marconi Perillo na posição de vice. Como se sabe, Marconi venceu. E José Eliton, em menos de quatro meses, saiu da posição de zero absoluto para um dos cargos mais valorizados da política estadual.

Mas não demorou para a traição da criatura ao criador. No pleito seguinte, em 2014, Caiado disputou e ganhou a senatoria já com José Eliton fazendo oposição ao seu nome, apoiando a candidatura de Vilmar Rocha pela chapa da reeleição de Marconi. Como se sabe, Caiado foi o vencedor.

Além de trair quem o colocou para começar por cima na política, José Eliton, na campanha de 2014, aceitou o triste papel de atacar e tentar desgastar a candidatura de Caiado. A essa altura, ele já tinha também abandonado o DEM para iniciar um ziguezague partidário, passando pelo PP, para finalmente chegar à filiação ao PSDB.

A incoerência, na política, cobra um preço caro. Ao abandonar suas origens e passar a se subordinar aos interesses de Marconi, ele perdeu o capital mais valioso que tinha, qual seja a sua biografia, e se apequenou nos desvãos do oportunismo barato. Deixou de ser quem era para tentar se transformar em quem nunca seria. Virou pó.

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