Desafio do MDB é superar seis derrotas seguidas e recuperar o tempo perdido
A iminente decisão do MDB de Daniel Vilela e de Iris Rezende de aliar-se ao DEM do governador Ronaldo Caiado para enfrentar as eleições de 2022, abrindo mão do lançamento de um candidato próprio, pode contribuir com soerguimento da legenda em Goiás, abalada com sucessivas derrotas majoritárias desde 1998.
A tese de candidatura própria ao Palácio das Esmeraldas, defendida por um reduzido grupo de emedebistas, como o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, o ex-deputado federal Sandro Mabel e o deputado estadual Paulo Cezar Martins, segundo analistas, aprofundaria ainda mais a fragilidade do partido.
Desde 1998, o MDB perdeu 6 eleições sucessivas para o governo de Goiás: Iris Rezende, 3 vezes (1998, 2010 e 204), Maguito Vilela, 2 vezes (2002 e 2006) e Daniel Vilela (2018). Para o Senado, nesse período, apenas uma vitória: Maguito Vilela (1998).
Sem um nome competitivo para governador – Daniel Vilela e Gustavo Mendanha não aparecem bem nas pesquisas – e com a representação parlamentar reduzida, pois conta com apenas um senador, nenhum deputado federal e apenas 4 deputados estaduais, o MDB precisa dar uma “sacudida” nas eleições de 2022, aliando-se ao governo estadual, dizem os especialistas políticos. “É hora de dar um passo atrás, para dar 3 à frente nas eleições de 2026”, sustenta o ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende.
Para agravar ainda mais a situação do MDB goiano, caiu o número de prefeitos de uma eleição para outra: em 2016, o partido conseguiu conquistar 43 prefeituras, mas esse número foi reduzido para 29, em 2020, em um universo de 246 chefias do poder municipal. A expulsão e saída de 5 prefeitos em 2019 – Adib Elias (Catalão), Paulo do Vale (Rio Verde), Ernesto Roller (Formosa), Renato de Castro (Goianésia) e Fausto Mariano (Turvânia) debilitaram ainda mais o MDB.
Todos foram reeleitos em suas cidades (Roller não se recandidatou, mas seu candidato venceu), mostrando força eleitoral. Ernesto Roller, ex-prefeito de Formosa, uma das poucas cidades do Entorno do Distrito Federal a ter experimentado uma gestão emedebista, se desfiliou da legenda após Daniel combater a permanência do grupo que optou por Caiado para vencer o marconismo.
Renato Castro, prefeito de Goianésia que também apoiou Caiado, é outro dissidente que sofreu na pele a retaliação da cúpula emedebista: foi impedido de disputar as eleições do ano passado, embora liderasse todas as pesquisas. Até agora, o saldo é negativo para Daniel Vilela, ex-candidato ao Palácio das Esmeraldas em 2018 e atual presidente do partido: a sigla elegeu apenas três deputados estaduais. Na Legislatura anterior, sem Daniel, conquistou oito cadeiras na Assembleia Legislativa de Goiás. Antes do comando de Daniel, a legenda tinha dois deputados federais. Após o enfrentamento das urnas, em 2018, o MDB goiano ficou sem representantes em Brasília.
O partido tem hoje um senador – Luís do Carmo – que assumiu graças à renúncia do titular Ronaldo Caiado para assumir o governo de Goiás. Mas o alerta que fica é um marco: pela primeira vez o MDB goiano não elegeu um único deputado federal. Nem mesmo na ditadura o partido deixou de ter representantes em Brasília. E isso não significa pouco: os prefeitos emedebistas perdem ao não terem emendas orçamentárias, que são indicadas por parlamentares alinhados – geralmente dos mesmos partidos.
A autocrítica está sendo feita por influentes líderes emedebistas, sob o argumento de que insistir com candidatura própria, sem possibilidade de sucesso eleitoral em 2018, é prosseguir com a fragilização da legenda em Goiás. A hora, dizem os emedebistas, é de reconquistar espaços no Congresso Nacional e Assembleia Legislativa, preparar a legenda para o pleito municipal de 2024 e lançar candidato a governador em 2026.
Iris e Daniel: chance de reconstrução passa pela aproximação com Caiado
As duas principais lideranças políticas do MDB, principal partido de oposição em Goiás – Daniel Vilela e Iris Rezende – conduzem a legenda em direção à aliança com o DEM do governador Ronaldo Caiado cientes do risco de um novo fiasco eleitoral caso o partido insista em lançar candidatura própria ao Palácio das Esmeraldas, após seis derrotas consecutivas.
Daniel e Iris ressaltam que o MDB precisa se reestruturar no interior – tem apenas 28 prefeitos, 45 diretórios e 80 comissões provisórias em um total de 246 municípios – para, nas eleições de 2022, conquistar cadeiras de deputado federal e estadual e, assim, partir para 2026 preparado para o embate à sucessão governamental.
Emedebistas experientes sustentam: lançar candidato a governador apenas por lançar, sem chance de vitória, seria apenas repetir a sequência de derrotas das eleições de 1998, 2002, 2016, 2010, 2014 e 2018. Lembram que as pesquisas de opinião pública apontam amplo favoritismo do governador Ronaldo Caiado para a reeleição em 2022 e que o bom senso recomenda aliança com o DEM.
Iris Rezende e Daniel Vilela, que divergiam da condução do MDB até 2020, agora estão aliados na tarefa de reconstrução do partido. O ex-prefeito e o presidente do MDB de Goiás e filho de Maguito sentam à mesa, semanalmente, para discutir os rumos do partido. Por isso, Daniel Vilela, Iris Rezende e os 27 prefeitos do MDB vão tentar convencer o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha de que não é o momento de lançar candidatura própria a governador.
Após receber carta dos prefeitos, recomendando aliança MDB/DEM, Daniel Vilela vai agora iniciar consultas aos presidentes de diretórios e comissões provisórias para, em seguida, tomar a decisão que emergir da maioria dos quadros partidários. Levantamentos preliminares mostram que 80% dos presidentes de diretórios e comissões provisórias do MDB acompanham a posição dos prefeitos: aliança com o DEM e apoio à reeleição do governador Ronaldo Caiado.
O senador Luiz do Carmo, que deve concorrer à reeleição ou à Câmara Federal, atua ao lado de Daniel e Iris pelo respaldo a Caiado. Desde as eleições de 2018, Luiz do Carmo integra o bloco emedebista que segue no apoio ao democrata. Dos quatro deputados estaduais, três estão afinados com Daniel, Iris e Luiz do Carmo: Bruno Peixoto, Humberto Aidar e Henrique Arantes: “O MDB age com responsabilidade ao preparar-se para estimular o crescimento da legenda, deixando para 2026 o lançamento de nome próprio a governador. Estar ao lado de Caiado em 2022 é o melhor caminho para o partido”, diz Bruno Peixoto.
Henrique Arantes, que trocou o PTB pelo MDB, acompanha a liderança de Daniel Vilela e respalda a decisão de aliança com o DEM de Ronaldo Caiado. “Sou disciplinado. A maioria quer respaldar o presidente Daniel Vilela e por isso estamos ao seu lado”. Humberto Aidar também aprova a coligação MDB/DEM: “Temos que pensar no crescimento do MDB e o melhor caminho é o de estar ao lado de Caiado nas eleições do ano que vem.” (H.L.)