Aparecida

Maioria do MDB não aceita Mendanha usar o partido para se vingar de Caiado

O leque de opções para o futuro político do prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, está cada vez mais reduzido: dentro do MDB, ele é uma voz isolada na tentativa de transformar seus ressentimentos pessoais contra o governador Ronaldo Caiado em uma dissidência em relação à maioria esmagadora do partido que quer uma aliança com o DEM e tem horror à ideia suicida de uma candidatura própria ao Palácio das Esmeraldas, depois de seis derrotas consecutivas da legenda desde 1998.

Mendanha cometeu o erro de desfraldar uma bandeira oposicionista sem antes se preocupar com ideias e propostas para Goiás, constituindo, ainda que minimamente, um projeto alternativo de poder para 2022. Isso o enfraqueceu: toda a classe política estadual sabe que o seu motor é o ódio a Caiado em razão do apoio que o governador deu a uma adversária na disputa pela Prefeitura de Aparecida na eleição do ano passado e também por culpar Caiado pelas operações da Polícia Civil que investigam corrupção na gestão municipal.

Caiado não tem responsabilidade alguma pela ação policial, que decorreu de denúncias levadas diretamente ao Ministério Público – e ainda mais quando as equipes de agentes, em uma busca e apreensão autorizada pelo Poder Judiciário no hospital municipal, encontraram a mulher do secretário da Fazenda, André Rosa, encaminhando exames laboratoriais superfaturados em até 1.000%.

André Rosa e a esposa, intimados a depor, compareceram perante o delegado que preside o inquérito, mas invocaram o direito constitucional de não produzir provas contra si próprios e se calaram. Para muitos, foi uma admissão de culpa. Mendanha manteve o secretário indiciado e preferiu alegar perseguição, aumentando ainda mais a sua mágoa com o governador.

Todo mundo no MDB sabe disso e ninguém quer servir de marionete para qualquer vingança do prefeito aparecidense contra Caiado. Daí, o isolamento de Mendanha. Ele, depois de viajar pelos municípios, anunciou que 80% dos prefeitos do partido estariam a favor de lançar um nome emedebista em 2022 para enfrentar a reeleição do governador. Poucos dias depois, o vexame: 27 dos 28 gestores municipais do partido assinaram uma carta anunciando apoio a uma aliança com o DEM. Mendanha, o 28º, foi o único que não assinou. Ficou como mentiroso.

Outra desconfiança que paira sobre Mendanha diz respeito à sua capacidade para liderar um movimento de âmbito estadual, quando ele continua restrito a Aparecida – sendo um ilustre desconhecido fora das fronteiras do município. A soma de fatores como a inexperiência, a imaturidade, a ausência de um projeto ou um escopo consistente em matéria de ideias e propostas e a baixíssima penetração fora de Aparecida compõem um quadro de desânimo, sem falar no poderoso efeito de atração que a liderança do governador Ronaldo Caiado exerce e sua proximidade cada vez maior com os condutores maiores do MDB, o presidente estadual Daniel Vilela e o ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende.

Se quiser dar prosseguimento à sua prosopopeia contra Caiado, não resta a Mendanha outra saída a não ser desfiliar-se do MDB e procurar a companhia de gente como o presidente da Fieg, Sandro Mabel, o ex-governador Marconi Perillo – lembrando que o ex-prefeito Jânio Darrot, de Trindade, não quer proximidade e já disse que não acredita que o prefeito de Aparecida, fora do poder, sobreviva por 5 minutos na política estadual. “Sem o poder da caneta, ele não é nada”, diagnosticou Darrot.

27 prefeitos emedebistas, pró-aliança com o DEM, farão uma última tentativa

Sob a liderança do prefeito de Campos Verdes, Haroldo Naves, que também é presidente da Federação Goiana dos Municípios, os 27 prefeitos do MDB que declararam apoio à reeleição do governador Ronaldo Caiado e indicaram o presidente estadual do partido, Daniel Vilela, para figurar na chapa com o DEM como candidato a vice, vão fazer uma última tentativa para agregar o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, ao grupo: uma visita para deixar claro que o caminho é a unidade da legenda, que não pode ser usada por adversários de Caiado que têm os seus objetivos próprios e não têm compromisso com o MDB.

O partido tem 28 prefeitos em Goiás. Mendanha é o único que não assinou o manifesto divulgado há menos de um mês, em que os gestores municipais da legenda fecharam questão em torno do posicionamento da sigla em 2022 – que, segundo eles, deve ser a favor de mais um mandato para Caiado. O documento caiu como uma bomba sobre a cabeça de Mendanha, que apregoava aos quatro ventos que 80% dos seus colegas seriam a favor do lançamento de um nome próprio do MDB na eleição do ano que vem.

Desmentido, o prefeito aparecidense se calou. Mas continuou se mexendo, porém fora do partido. Passou a articular com o ex-governador Marconi Perillo, que designou o ex-presidente da Assembleia e ex-prefeito de Catalão Jardel Sebba como interlocutor entre os dois – ciente dos desgastes que um encontro com Marconi poderia trazer, Mendanha tem evitado aparecer publicamente ao lado do tucano-mor de Goiás.

Um e outro – Marconi e Mendanha – são ressentidos com Caiado. Mas fazer política com base em mágoas pessoais e não em parâmetros sociais e políticos costuma não dar certo. Esse é o equívoco que está tragando Mendanha e o deixando cada vez mais isolado dentro do MDB e, de resto, em meio à classe política estadual, onde a oposição a Caiado é um assunto mais sério do que simplesmente a mera expressão de rancores individuais.

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