Mãe reclama de modelo de ensino híbrido adotado pela Prefeitura de Aparecida
Durante uma live transmitida no Instagram do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), no último domingo, 15, uma mãe, que se apresentou como Adriana, denunciou para o gestor que os professores e coordenadores da rede municipal não estão oferecendo suporte pedagógico aos alunos que estão em Regime de Aulas Não Presenciais. Segundo ela, os educadores compartilham as atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVAP), no entanto, não explicam o conteúdo às crianças. Ela conta que cada turma possui grupo de apoio paralelo para pais e discentes em um aplicativo de mensagens, porém nem por lá as atividades estão sendo esclarecidas, cabendo aos responsáveis essa atribuição. Os educadores rebatem as críticas e atribuem os transtornos à gestão. A prefeitura adotou o modelo híbrido desde o dia 9 de julho deste ano, de revezamento de alunos, com 30% da capacidade das unidades escolares.
A mãe explicou ao prefeito que tanto os alunos quanto os pais estão com dificuldades para manter diálogo com os professores para elucidações de dúvidas pedagógicas. “Tanto é, Gustavo, que até o grupo em si, os alunos não conseguem tirar dúvidas do que está acontecendo. Eu entrei em contato com a escola e eles me disseram que não adianta ligar na Secretaria de Educação, e está feio o caso. Como que a criança vai ter no mês quatro dias de aula com explicações e os demais dias fechados, sendo que só os professores podem mandar as coisas e os alunos não tiram dúvidas? Nós mães é que estamos dando aula. Eu acho que os salários dos professores deveriam ser para nós e não para eles”, cobrou a mãe.
No vídeo, a mãe pede ao prefeito Gustavo uma explicação, que prontamente respondeu a ela que iria cobrar do titular da pasta, professor Divino Gustavo. “Vou cobrar do secretário de Educação uma explicação sobre esse problema. Muitas crianças não tiveram nesse momento nenhum aprendizado, além do social. Muitas crianças estão passando por vulnerabilidade, inclusive muitas delas foram molestadas sexualmente. O problema é que afetou o psicológico dos menores. Então, devagarzinho estão voltando as aulas”, respondeu o prefeito para a mulher no vídeo.
Nos comentários do Instagram, a professora Marildes Martins rebateu as críticas feitas pela mãe e garantiu que a equipe pedagógica municipal preza pelo respeito e compreensão com as crianças. “Temos como essencial o respeito, a compreensão e o carinho com as nossas crianças, por sua vez, com as famílias, prezamos e fazemos questão de destacar estas características. Neste período caótico, onde tivemos que adentrar a esse universo da tecnologia, tornou-se comum o uso das máquinas, do celular e, por via deles, acessar as plataformas, aplicativos, links, entre outros. Ser professora a distância, não poder receber o abraço da criança, o carinho da família, fez se necessário tornar-se íntimos das redes sociais.”
Ela destaca que os funcionários estão se ajustando para atender a população do município. “Somos responsáveis por cada ato que provoca ou promove o crescimento, desenvolvimento acadêmico e/ou evolução da criança, então, cabe a nós ajustar, rever, refazer ou recomeçar, e é exatamente isso que estamos fazendo, nos adequando, recorrendo a todos os recursos possíveis, abrindo mão da privacidade, do descanso em família e, muitas vezes, reinventando, para melhor atender. Os meses foram passando e muitas mudanças foram inseridas em nossa rotina pedagógica, das quais, não negamos atender e o que parecia impossível já é uma realidade que tende a perdurar. Deixo aqui meu repúdio e total apoio aos profissionais da educação, em especial aos professores. É inaceitável sermos atacados e caluniados”, desabafa.
A professora Poliana Fernandes Ribeiro faz coro com a colega e diz que não está sendo possível atender os alunos que estão estudando presencial e remotamente com qualidade simultaneamente, devido ao excesso de serviço. “Ganhar salário de professor para colaborar na educação do próprio filho? Sou professora da rede e estou trabalhando presencialmente atendendo as crianças do grupo do escalonamento determinado pelo Ministério da Educação Nacional e regional. Nas sextas-feiras atendemos os grupos. Pois não é possível fazer dois trabalhos ao mesmo tempo. Porque não exige do prefeito um professor só para tirar dúvidas no grupo do WhatsApp? Enquanto estamos trabalhando na sala de aula. Para falar mal do trabalho dos professores, primeiro é necessário entender de educação”, escreveu.
Falta de assistência
A educadora Leandra Moura Cruz afirmou na rede social que ficou indignada com o prefeito Gustavo Mendanha por ele não reconhecer o trabalho que vem sendo realizado pelos profissionais de educação do município. “Gustavo Mendanha, por mais que eu tenha uma admiração pelo senhor, sobre tudo que vem fazendo por Aparecida, lhe digo com propriedade de fala: o senhor está totalmente por fora do trabalho que vem sendo feito pelos professores e gestores das escolas de Aparecida. Venha conhecer o nosso trabalho, porque se o senhor conhecesse, o senhor nos defenderia na mesma hora quando recebeu a crítica daquela mãe. Esteja mais a par do que estamos fazendo. Estamos trabalhando dobrado durante essa pandemia”, reclama.
A seguidora Ludmilla Guerra atribui a reclamação da mãe à própria gestão do prefeito Gustavo Mendanha. “Senhor prefeito, por que não explicou para essa mãe que as reclamações dela são fruto da sua política pública? Foi determinação do seu secretário? Que você nunca perguntou aos professores qual seria a melhor estratégia…. Infelizmente tem um monte de mãe que quer apenas um depósito para o filho”, pontua na rede social.
Ao Diário de Aparecida, o presidente da Regional de Aparecida do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Valdeci Português de Sousa, criticou a prefeitura pelos transtornos. Segundo ele, foi a própria Secretaria Municipal de Educação do município (SME) que excluiu os pais dos grupos de apoio pedagógico. O professor reconhece que os educadores estão sobrecarregados de atividades após a adoção do sistema híbrido nas unidades de ensino.
“A carga de atividades já estava cheia só com o sistema remoto. Após a adoção do híbrido, dobrou, por conta disso está causando muito desgaste para a categoria. Não tem nada de tranquilidade, está todo mundo preocupado. Pode ter sido tranquilo por não ter aglomeração, mas o momento é de muita angústia e preocupação. A gestão determinou a volta e os servidores acataram por não ter outra alternativa, mas todos estão com medo”, disse o sindicalista.
Secretaria minimiza problema e destaca que cumpre as exigências
Por nota, a SME esclarece que vem cumprindo os protocolos estabelecidos para o retorno presencial e de forma escalonada, para o atendimento de até 30% de cada sala, para os alunos matriculados na unidade de ensino.
“A SME, em reuniões com os gestores para melhor atendimento tanto de responsáveis como do corpo docente, optou pelo seguinte formato. O planejamento das aulas presenciais e remotas são feitas (sic) a partir do mesmo conteúdo. Todas as aulas são postadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVAP), com detalhes para a execução das atividades, com roteiro semanal, links para vídeos e as orientações para que os alunos possam executar as mesmas”, diz o comunicado.
De acordo com a pasta, de segunda a quinta-feira ocorrem as aulas presenciais para os grupos de alunos definidos pela direção da instituição. Nesses dias, os alunos que não fazem parte do grupo presencial e estão no rodízio executam as atividades postadas no AVAP. Na sexta-feira, as unidades de ensino estão organizando plantões de dúvidas, além de corrigir e enviar as devolutivas sobre as atividades realizadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem. (Eduardo Marques / [email protected] )