Preços voltam a disparar no Brasil durante governo de Jair Bolsonaro
Rico ou pobre, a população aparecidense está cercada de inflação por todos os lados. A alta de preços dos alimentos básicos, que vinha castigando as famílias de menor renda desde o ano passado, continua mostrando a sua cara ao longo de 2021, fruto da política do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O preço da carne, por exemplo, passa de R$ 40 o quilo e subiu o equivalente a quatro vezes a inflação geral, que acumula alta de 8,99% em 12 meses até julho último, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O óleo de soja, o principal vilão do custo de vida, já beira R$ 8 o litro e aumentou cerca de nove vezes a inflação geral no mesmo período.
A tendência é de que o aumento de preços continue. Puxado pelo aumento da energia elétrica, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial do mês, ficou em 0,89% em agosto. Esse resultado é o maior para um mês de agosto desde 2002, época do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando atingiu 1,00%. A inflação acumulada em 12 meses chegou à marca de dois dígitos em quatro capitais do País no IPCA-15 de agosto: Porto Alegre (10,37%), Goiânia (10,67%), Fortaleza (11,37%) e Curitiba (11,43%). Em 2021, o indicador acumula alta de 5,81% e nos últimos 12 meses, de 9,30%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na última quarta-feira, 25.
Vale ressaltar que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) difere do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apenas no período de coleta, que abrange, em geral, do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência e na abrangência geográfica. Atualmente a população-objetivo do IPCA-15 abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, residentes em 11 áreas urbanas das regiões de abrangência do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC), que são: regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e do município de Goiânia.
Com aumento de 5,00%, a energia elétrica exerceu o maior impacto individual no resultado, sendo responsável por 0,23 ponto percentual no índice do mês. No contexto da crise hídrica, a bandeira tarifária vermelha patamar 2 vigorou nos meses de julho e agosto. Além disso, a partir de 1º de julho, houve reajuste de 52% no valor adicional da bandeira, que passou a cobrar R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos (frente a R$ 6,243 em junho). Desse grupo, o preço mais visível para o brasileiro de maior renda aparece na bomba de gasolina, com o litro vendido a até R$ 7. Para os mais pobres, o preço de referência é o gás de cozinha, cujo valor do botijão beira hoje R$ 100 e acumula alta de cerca de 30% em 12 meses.
A segunda maior contribuição para o IPCA-15 de agosto veio dos transportes, com aumento de 1,11%, seguido por alimentação e bebidas (1,02%). A única queda foi em saúde e cuidados pessoais (-0,29%). No grupo dos transportes, os preços dos combustíveis (2,02%) aceleraram em relação a julho (0,38%). A principal contribuição (0,12 p.p.) veio da gasolina (2,05%), cuja variação acumulada nos últimos 12 meses foi de 39,52%. Também subiram os preços do etanol (2,19%) e do óleo diesel (1,37%), enquanto o gás veicular registrou queda de 0,51%.
Por outro lado, houve deflação no grupo saúde e cuidados pessoais (-0,29%), que contribuiu com -0,04 p.p. no índice geral. Isso se deve sobretudo à queda nos preços dos itens de higiene pessoal (-0,67%), produtos farmacêuticos (-0,48%) e plano de saúde (-0,11%). Todas as áreas pesquisadas apresentaram inflação em agosto. O menor resultado ocorreu em Belo Horizonte (0,40%), influenciado pela queda das passagens aéreas (-20,05%) e taxa de água e esgoto (-6,40%). Já a maior variação foi registrada em Goiânia (1,34%), onde pesaram as altas da gasolina (6,31%) e da energia elétrica (3,60%).
Inflação democrática
Ao Diário de Aparecida, o economista e coordenador do Centro de Pesquisas Econômicas e Mercadológicas (Cepem) do Centro Universitário Alves Faria (Unialfa), Aurélio Troncoso, pontuou que “a inflação deste ano está mais ‘democrática’: atinge ricos e pobres”. Ele explica que enquanto a carestia batia nos alimentos, os mais pobres eram os mais afetados, porque consomem mais esses itens. Enquanto isso, as famílias mais abastadas não tinham a percepção, na mesma intensidade, de que a inflação tinha disparado.
Impedido de gastar com serviços, de circular de carro e de viajar de avião por causa da pandemia, o estrato social de maior renda viu muitos preços de produtos e serviços que consumia estacionados ou até em queda por causa do isolamento social. Com isso, os ricos conseguiram poupar. Mas o que se vê neste ano é que a pressão de preços se espalhou. A desvalorização do câmbio, que turbinou as cotações em reais do petróleo e dos combustíveis, e a crise hídrica, que afetou a geração de energia e as tarifas e reduziu a produção agrícola, fizeram a inflação tomar outro rumo.
“Agora a inflação é percebida por todos”, diz Troncoso. A alta do preço do arroz, prato básico que pesa no bolso do brasileiro comum, foi 39,69% em 12 meses até julho. Esse aumento praticamente se equipara ao avanço do preço da gasolina no mesmo período, de 39,65%, que é consumida pela população de maior renda. (Por Eduardo Marques / [email protected])