Crescem denúncias de agressão às nascentes em Aparecida de Goiânia
Avanços imobiliários em Áreas de Preservação Permanente (APA), numa cidade apregoada pela sua atual gestão como sustentável, têm sido alvo de várias denúncias que estão sob investigação na Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema), a exemplo do aterramento do brejo localizado no Setor Garavelo Park, ao lado do Anel Viário, onde há nascentes e vastas espécies de buritis.
Um ato de agressão à nascente está exposto nas redes sociais, e foi enviado também à redação do Diário de Aparecida. Trata-se de uma nascente do Córrego Pindaíba que está sendo aterrada a olhos vistos no Jardim Buriti Sereno, na Rua Lopes Quintas. Segundo a reclamação, o fato vem ocorrendo continuamente há mais de um ano. Em um dos vídeos é possível ver um caminhão empurrando entulhos para dentro da nascente.
Resposta da prefeitura
Acionamos a Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) e indagamos o que está sendo feito para a proteção e limpeza das nascentes no município. Veja a seguir a nota, na íntegra, enviada pela prefeitura ao DA.
“A Secretaria de Meio Ambiente de Aparecida de Goiânia (Semma), por meio da Diretoria de Educação Ambiental, explica que o município está executando o projeto ‘Ações Ambientais Integradas’, com o objetivo de estabelecer um cronograma de ações preventivas e de proteção de áreas ambientais da cidade.
A Secretaria informa que monitora, constantemente, com ações fiscalizatórias as áreas públicas e privadas com nascentes da cidade no sentido de promover sustentabilidade e coibir situações de poluição, desmatamento e ocupação irregular em áreas de preservação ambiental. Em relação à denúncia, a Semma explica ainda que uma equipe de fiscalização será encaminhada até o local para fazer um novo levantamento e avaliar as condições do córrego.”
“Estamos destruindo nossa fonte de vida”, afirma Juliano Cardoso
Em uma entrevista concedida à Rádio Bandeirantes em Goiânia, o superintendente da Defesa Civil do município, o técnico ambiental e ativista Juliano Cardoso, explicou que o quantitativo de água hoje é o mesmo que tinha no período Jurássico, correspondente a 154 milhões de anos atrás, época de formação do planeta. Afirmou em seguida que, de forma técnica, a crise hídrica não existe, e sim a falta de gestão de água e ambiental, agravada pelo entupimento e aterramento, verdadeiro assassinato de fontes de água.
Ele expressou que a falta de água está diretamente ligada à destruição das matas, córregos, nascentes, mananciais, ribeirões, rios, que são fornecedores diretos de água à população. As respostas para as poucas chuvas se referem à pouca penetração do solo, que não realimenta nascentes e lençóis freáticos, devido à destruição da fábrica de água da natureza feita pelo próprio homem.
“Quando o período é de muita chuva, com muita água nas ruas e avenidas transbordando, o povo acredita que isso resulta em mananciais cheios. Isso não se confirma. Essa água faz o seguinte percurso: galeria pluvial, córrego, rio e mar. Então, essa água que deveria ficar no cerrado para alimentar as nascentes vai direto para o mar. Lá no mar, além de se misturar e virar água salgada, ela sofre um processo que passa do estado líquido para o gasoso, converte-se em nuvens, e se precipita como chuva. Só que essa chuva não retorna para o continente, porque o homem alterou todo o ciclo hidrológico do planeta. O cerrado é o berço das águas da América do Sul. Ou seja, estamos destruindo nossa fonte de vida”, detalhou em entrevista radiofônica.
“Precisamos de atitudes políticas e não de falácias e mentiras”, diz o técnico ambiental
O cerrado goiano é um dos biomas mais antigos que há nas Américas. Ao longo do ciclo evolutivo, o cerrado aprendeu a conviver com o fogo. Porém, o incêndio ocasionado pelo homem todos os anos no mesmo período vem destruindo e impedindo a regeneração da vegetação. Ainda em entrevista, Juliano Cardoso explicou que, quando ocorrem incêndios naturais com descargas atmosféricas chamadas de raios seguidos de chuva, esse fenômeno é o que controla o incêndio provocado pela própria natureza.
“Já o incêndio ocasionado pelos homens não vem de maneira controlada, este destrói a vegetação, empobrece o solo, causa doenças respiratórias, polui o ar, causa prejuízo para toda a sociedade e ao segmento econômico. Será que há reversão? Se nós formos menos brasileiros e mais cidadãos do mundo, acredito que podemos mediar essa situação, que está em cenário gravíssimo. Precisamos de atitudes políticas e não de falácias e mentiras que são levadas à população e não tentar curar câncer com Dipirona”, enfatizou. (Por Ana Paula Arantes / [email protected])