Jackson Abrão entrevista Mendanha: mentiras, defesa de Marconi e clichês
Fraqueza intelectual do prefeito mostra que, se quiser se transformar em liderança estadual, precisa estudar e ler mais
Da edição impressa
O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha foi o entrevistado desta semana do apresentador Jackson Abrão, que recebe personalidades da política todas as segundas-feiras para uma conversa de no máximo 20 minutos e depois posta o vídeo no portal de O Popular.
Embora se portando como um jornalista que não questiona, mas apenas coloca temas suavizados e sem pressionar os convidados, Jackson Abrão ofereceu a Mendanha a oportunidade de discorrer sobre os seus últimos passos – a desfiliação do MDB e o rompimento com o seu antigo “irmão” Daniel Vilela – e falar um pouco sobre o futuro.
Mendanha não conseguiu aproveitar os 20 minutos disponíveis e terminou antes, aos 18min30seg. De um modo geral, a sua entrevista foi uma combinação rara de mentiras e de clichês demagógicos, sem falar na surpreendente defesa que fez do ex-governador Marconi Perillo.
O ponto alto foi quando Jackson Abrão perguntou sobre as propostas que Mendanha, vindo a ser candidato ao governo do Estado, coisa que ele não admitiu na entrevista, teria para Goiás e para a sua população. As respostas foram um show de lugares-comuns e chavões. Mendanha pretende “ouvir” os goianos em todos os cantos do Estado, para “pensar” Goiás e definir projetos como casa própria para todos, água e energia pelos municípios afora, criar incentivos para que empresas gerem empregos, dialogar com os professores e “voltar” com os programas sociais, ponto no qual elogiou o Renda Cidadã implantado pelos governos de Marconi.
Tudo isso de uma forma tosca e sem detalhamento, apenas generalidades. Não só falando a Jackson Abrão, mas em seus discursos, lives e entrevistas, Mendanha tornou-se conhecido por não ter ideias ou propostas para Goiás. Até hoje, ele nunca formulou nenhuma. Aliás, nem para Aparecida. Nas campanhas para os dois mandatos que conquistou, registrou na Justiça Eleitoral planos de governo de poucas páginas (o do ano passado tinha nove páginas, incluída a capa), mas cujos itens principais não cumpriu até hoje.
“Pensar” Goiás foi o que ele mais repetiu, como um papagaio. O que isso significa? “Voltar” os programas sociais é outra enganação. Mendanha deveria saber que o Renda Cidadã de Marconi pagava uma mixaria, entre R$ 70 e 100 reais, por mês, que os seus beneficiários aos poucos foram deixando de sacar. Quando o governador Ronaldo Caiado assumiu, ele encontrou uma montanha de dinheiro depositada nos bancos, sem que os interessados aparecessem para pegar. Havia problemas também com o cadastro.
Caiado substituiu o Renda Cidadã, fracassado, pelo Mães de Goiás, que destina renda mensal de R$ 250 mensais para mulheres chefes de família. O programa já começou e caminha para chegar a 100 mil favorecidas. Mendanha, na verdade, está propondo um retrocesso, maneira disfarçada que encontrou para defender Marconi – com o qual tem planos conjuntos para a eleição de 2022.
O prefeito reconheceu sua relação “respeitosa” com Marconi e insinuou que não há nada demais nessa convivência, lembrando que há ex-marconistas participando do governo Caiado, como o secretário da Indústria & Comércio José Vitti. Realidade. Porém, como ele mesmo disse, são “ex-marconistas”. O prefixo “ex”, no caso, é fundamental.
Dentre as mentiras de Mendanha na entrevista, sobressaiu-se a que versou sobre a polêmica do ICMS. Ele afirmou que Caiado, na campanha de 2018, prometeu abaixar o imposto. Não é verdade. O governador nunca fez esse compromisso. O que é fato é que ele, bem antes, criticou o aumento do ICMS cobrado pelos governos de Marconi sobre os combustíveis. Recentemente, reconheceu que deu essa opinião sem conhecer a verdadeira situação financeira do Estado, muito pior do que ele imaginava.
O que ressalta dessa edição do Jackson Abrão Entrevista é que Mendanha, se quiser disputar o governo de Goiás um dia, precisa melhorar muito. E ler e se informar melhor sobre o Estado.