Cuidados Paliativos ajudam a lidar melhor com o envelhecimento e o adoecimento
Especialidade, que prevê abordagem multidisplinar e visa à qualidade de vida do paciente, é alvo de desinformação
Uma boa parte das pessoas teme envelhecer. O futuro do Brasil, porém, é ser um país com grande proporção de pessoas idosas. Segundo o IBGE, o número de idosos vai ultrapassar o de jovens em 2031, quando haverá 42,3 milhões de jovens (0-14 anos) e 43,3 milhões de idosos (60 anos e mais), ou seja, 102,3 idosos para cada 100 jovens. Em 2055, a projeção é de 202 idosos para cada 100 jovens.
Nesse cenário, a maioria de nós terá algo incurável na vida, ou mais de uma doença, então é preciso estar preparado para uma mudança de paradigma. “A evolução dos tratamentos, por exemplo, já permite conviver com o câncer, que deixou de ser uma doença aguda para tornar-se crônica. Mais pessoas serão beneficiadas com Cuidados Paliativos no futuro, pois a hospitalização nem sempre reverte em benefício para o paciente”, analisa o geriatra Douglas Crispim, presidente da ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos).
Ainda cercada de tabus, a área de Cuidados Paliativos se dedica a garantir mais qualidade de vida aos pacientes com doenças graves e eventualmente irreversíveis, de preferência o mais precocemente possível, a partir do diagnóstico, o que irá garantir melhores resultados. A especialidade é multidisciplinar e visa aliviar os sintomas físicos e emocionais, tanto do paciente quanto da família.
Entretanto, a desinformação sobre o que são Cuidados Paliativos e a própria dificuldade do brasileiro em lidar com o envelhecimento e o adoecimento ficaram evidentes recentemente na CPI da Covid, nos depoimentos dos parlamentares e dos profissionais da área médica.
Diante disso, Crispim defende levar informação de forma leve e acessível aos meios de comunicação, para atingir todas as faixas sociais. “Tanto é urgente capacitar médicos e enfermeiros para essa nova realidade, quanto conscientizar pacientes e famílias sobre os benefícios e objetivos dessa abordagem, já que o envelhecimento da população é uma tendência irreversível no Brasil”, reforça.
“Cuidados Paliativos não podem ser considerados apenas quando o paciente se encontra moribundo e exaurido pelo uso de medidas invasivas prolongadas em um leito de terapia intensiva; tampouco deve ser indicado com o intuito de economizar gastos, ou de abreviar a vida dos pacientes; além disso, jamais deve ser um tratamento imposto pela equipe médica, sem consentimento do paciente e/ou de seus familiares”, explica Crispim.
Essa abordagem inclui não utilizar procedimentos agressivos se não houver a possibilidade de reversão da doença, o que traria ainda mais sofrimento ao paciente. “O envelhecimento e o adoecimento colocam a pessoa em contato com o que é essencial para ela. E isso ressignifica a vida para muitos. Trabalhamos para que a sociedade tenha a oportunidade de aprender, antes de chegar a essa fase da vida”, diz o especialista.
Com mais de uma década de atuação em Cuidados Paliativos, o geriatra destaca a rotina positiva com os pacientes, independentemente da idade e dos níveis de adoecimento. “Não devemos esquecer que se trata de seres humanos, que realizam seus desejos, enfrentam suas dificuldades e precisam ter sua dignidade e qualidade de vida preservadas até o fim”, conclui Crispim.