Quando um político é alvo de denúncias ou investigações, a sua primeira reação é apelar para a esfarrapadíssima desculpa de que se trata de “perseguição política” e de que está sendo vítima de uma “armação” para atingir a sua imagem como homem público. É o que sempre aconteceu no Brasil, país onde hoje a corrupção é uma praga que simplesmente parece não ter remédio.
Assim, mais uma vez, assistimos nesta semana a um novo exemplo dessa estratégia de fuga, agora a propósito das responsabilidades inerentes a um cargo da importância que tem o de prefeito do segundo município mais populoso de Goiás. Não foi outra a conduta do sr. Gustavo Mendanha, que amealhou no currículo, em um ano, quatro operações policiais que apuram corrupção na sua gestão – a Falso Positivo 1 e 2, a Fator R, essas três a cargo da Polícia Civil do Estado de Goiás, e a Parasitas, coordenada pela Polícia Federal.
Como sempre, Mendanha se esconde a cada divulgação de novos inquéritos sobre os malfeitos flagrados na sua administração. Não diz uma só palavra e se cala, mas manda seus acólitos espalharem a versão surrada de que tudo não passa de mera “perseguição política” – justificativa que menospreza descobertas importantes das operações, como nota fiscais superfaturadas, pagamentos por serviços não prestados e até mesmo a esposa do secretário municipal de Fazenda, André Rosa, flagrada despachando exames laboratoriais no Hospital Municipal a preços 10 vezes superiores aos de mercado e, o que é pior, para uma empresa de que ela é sócia oculta.
Além do vexame de assistir ao triste espetáculo do seu principal auxiliar, o titular da pasta da Fazenda André Rosa, com a casa vasculhada por agentes da Polícia Civil, cumprindo mandado expedido pelo Poder Judiciário, Mendanha se depara também com a citação, no contexto da Operação Parasitas Fase 2, do seu irmão Danilo Melo Mendanha – presença rotineira nos bastidores do poder em Aparecida, visto com frequência “despachando” na sala ao lado do gabinete de André Rosa na Cidade Administrativa, mesmo sem ser funcionário do município.
Para o prefeito de Aparecida, sempre é tudo invenção dos adversários, que estariam manipulando instituições como a Polícia Civil, o Ministério Público e a própria Justiça para prejudicar a sua imagem. A mesma coisa diziam os governos do PSDB, que foram acumulando casos de corrupção até que, em 2018, tomou um basta do eleitorado e teve os seus principais nomes varridos da história política estadual. Não é difícil antever que o futuro do sr. Mendanha será parecido, na medida em que continuar acreditando que é intocável e que pode mandar e desmandar sem ser incomodado. O tempo haverá de nos mostrar.