Última “obra” de Iris foi viabilizar a aliança entre o MDB e Caiado
Mesmo aposentado da política, ex-governador e ex-prefeito atuou para antecipar a chapa Caiado a governador e Daniel Vilela vice, que esvaziou a oposição em Goiás
O ex-governador e ex-prefeito Iris Rezende fez política, aquilo que mais gostava, até os últimos momentos em que isso foi possível na sua vida. Mesmo após encerrar seu último mandato como prefeito de Goiânia, o emedebista continuou, longe dos holofotes, a exercer um papel que tende a ser decisivo nas eleições de 2022, independentemente do resultado das urnas.
Sua atuação pela aproximação do governador Ronaldo Caiado (DEM, em fase de fusão com o PSL para criar o União Brasil) com o presidente do MDB em Goiás, Daniel Vilela, foi fundamental. Palacianos e correligionários relatam que Iris foi o “grande fiador” da aliança que deve marcar a disputa de 2022, de um jeito ou de outro, atuando principalmente na transposição de desconfianças mútuas entre Caiado e Daniel, que se enfrentaram em 2018.
Como o próprio filho de Maguito Vilela, agora pré-candidato a vice-governador, confirmou, o ex-prefeito “foi incisivo” em relação à junção entre DEM e MDB. Iris foi o pai de uma mexida no tabuleiro que também ajuda a dar contornos à oposição. A união antecipada acelerou a desfiliação do agora ex-emedebista Gustavo Mendanha (sem partido) e, consequentemente, o processo de consolidação do prefeito de Aparecida como o principal adversário de Caiado na corrida pelo Palácio das Esmeraldas.
Em entrevista ao jornal O Popular, ano passado, Iris surpreendeu ao afirmar que “como o governador Ronaldo Caiado estava indo bem na administração, porque não reelegê-lo em 2022. “Caiado faz um bom governo, tem apoio popular, é honesto, por que não conquistar um novo mandato de governador”, garantiu na época Iris.
Desde então, mesmo depois de anunciar que não concorreria à reeleição para a prefeitura de Goiânia e que buscaria a “aposentadoria política”, Iris continuou atuar nos bastidores, principalmente contra a candidatura própria do MDB ao governo de Goiás em 2022 e a favor, consequentemente, de uma aliança com o DEM caiadista.
Inicialmente, a aposta do Palácio das Esmeraldas era de que o próprio Iris Rezende poderia integrar a chapa majoritária, ao lado de Ronaldo Caiado, como candidato ao Senado. Inicialmente, o emedebista admitiu voltar ao cenário político como candidato, mas, com o passar dos meses, desistiu. Ele próprio comunicou ao governador a sua decisão de não mais disputar mandato eletivo.
“Não é sua hora, aguarde 2026”, o conselho que não foi ouvido
Após transferir o cargo de prefeito de Goiânia para Rogério Cruz, em 1º de janeiro deste ano, Iris Rezende retomou a sua agenda de audiências em seu escritório no setor Marista, em Goiânia, para receber autoridades, parlamentares, prefeitos, lideranças políticas e populares. Ele teve de janeiro a julho deste ano inúmeros encontros com Daniel Vilela, presidente estadual do MDB, e, em todos os momentos, pregou a antecipação do anúncio do apoio do partido à aliança com o DEM de Ronaldo Caiado às eleições do ano que vem. Em conversas com o governador, Iris defendeu a presença de um representante do MDB – no caso, Daniel Vilela – na chapa com Caiado, seja como concorrente a vice-governador seja como postulante a senador.
O governador surpreendeu, ao antecipar o anúncio do acordo com o MDB e, logo em seguida, confirmar a escolha de Daniel como candidato a vice-governador. Em visita ao prefeito de Aparecida, ano passado, Iris foi taxativo a Gustavo Mendanha: não é hora de entrar na disputa pelo Palácio das Esmeraldas. E aconselhou o jovem até então emedebista: espere as eleições de 2026 para dar um “passo mais ousado” na política goiana. Iris morreu exercitando o que sempre fez em 62 anos de vida política: aconselhando os companheiros do MDB a agir com “cautela e prudência” nas decisões políticas. Mas Mendanha não o ouviu.