Petistas de Goiás rechaçam aproximação com os tucanos
Único deputado federal do partido de Lula no Estado, Rubens Otoni diz que o encontro de Lula com o ex-governador não passa de “fake news”
Helton Lenine
Único representante do PT goiano na Câmara dos Deputados, Rubens Otoni nega aproximação de seu partido com o PSDB do ex-governador Marconi Perillo. “Essa conversa do Marconi com o Lula é fake news. Não tem isso. Não tem conversa do PSDB com o PT nacional e muito menos aqui em Goiás. Esse diálogo não existe. É uma tentativa de confundir o quadro político”, afirmou Otoni à coluna Giro, de O Popular.
O petista reage ao suposto encontro entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Marconi Perillo, que teria ocorrido em novembro, em São Paulo, e também refuta a possibilidade de aproximação de seu partido com o PSDB. Segundo ele, a conversa confirmada por tucanos e petistas nunca existiu e não passa de “tentativa de confundir”. “Essa conversa do Marconi com o Lula é fake news. Não tem isso. Não tem conversa do PSDB com o PT nacional e muito menos aqui em Goiás. Esse diálogo não existe. É uma tentativa de confundir o quadro político”, disse o parlamentar.
Otoni continua apontando para o desenho de caminhos opostos nos cenários estadual e nacional. “A tendência que tem é a de o PSDB ter candidato a governador e o PT também. O PSDB tem candidato a presidente (João Doria, governador de São Paulo) e é um candidato que definiu o Lula como principal adversário. Foi isso que a imprensa nacional noticiou nos últimos dias”, finaliza.
Mas Lula abriu um leque de conversações com lideranças nacionais do PSDB, entre elas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira e o ex-governador Marconi Perillo, além do ex-governador Geraldo Alckmin, cotado para vice-presidente em sua chapa.
O encontro Lula/Marconi só vazou para a mídia, agora, com confirmação de Aloysio Nunes Pereira à CNN Brasil. O ex-senador tucano foi o intermediário do encontro do ex-presidente com o ex-governador goiano. Perillo não comentou ainda a conversa reservada que teve com Lula e tem evitado contatos com jornalistas para tratar dessa pauta.
Ano passado, o ex-governador goiano teve encontro com Geraldo Alckmin, quando admitiu aliar-se a Lula, através até de uma filiação ao PSB, o que implicaria em deixar o ninho tucano. Perillo admite disputar o governo de Goiás ou mesmo vaga ao Senado nas eleições deste ano. Ele afastou a possibilidade de enfrentar as urnas como concorrente à Câmara Federal. O ex-governador José Eliton, que está licenciado da presidência do PSDB goiano, admitiu, ano passado, a aliança do seu partido com o PT lulista. De imediato, Marconi reagiu: “PSDB e PT são como água e óleo, não se misturam.”
Nos 16 anos em que o PSDB ocupou o poder em Goiás, o PT sempre fez oposição, não aceitando o aceno do Palácio das Esmeraldas para qualquer aproximação política. Por isso, a conversa de Marconi e Lula repercutiu negativamente junto às lideranças municipais do PSDB.
“Não temos interesse em aliança com o PT aqui no interior, mesmo porque é um partido que não tem votos. De 246 prefeitos, o PT só elegeu três em 2020”, diz um influente gestor municipal petista. Já lideranças petistas sustentam que os desgastes dos governos do PSDB em Goiás ainda repercutem junto ao eleitorado, principalmente em relação às denúncias de corrupção que pipocaram, por exemplo, na antiga Agetop, Codego e Saneago.
Divergências começaram com o escândalo do “mensalão”, que aconteceu em 2005
O ex-governador Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, disse, em 2012, durante a sessão em que depôs à CPI do Cachoeira, que nunca imaginou que ter dado um aviso o tornaria objeto de “tanto ódio e tanta perseguição”. Ele fazia referência ao episódio do mensalão, esquema de compra de votos no Congresso Nacional para favorecer o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Desde a eclosão do escândalo, em 2005, quando era senador, Perillo diz ter avisado Lula sobre a existência do esquema e que, apesar disso, o então presidente não tomou providências. “Eu nunca imaginei que o fato de eu ter dado um aviso geraria na minha vida tanto ódio e tanta perseguição”, declarou, ao responder a uma indagação do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) sobre o fato de o governador, que antes acusava, agora ser alvo de questionamento.
Lula foi apontado por opositores como um dos principais responsáveis por estimular a criação da CPI do Cachoeira, já que o bicheiro é de Goiás e teria influência na administração de Marconi Perillo, o que o governador nega. Segundo o blog de Cristiana Lôbo, à época, na sua origem, a comissão foi apelidada de “CPI da Vingança”, como forma de reação contra os denunciantes do mensalão.
Antes do questionamento de Luiz Sérgio, o deputado Filipe Pereira (PSC-RJ) também havia provocado Perillo ao comparar o caso de Carlinhos Cachoeira com o mensalão. Marconi Perillo (PSDB), afirmou, em 2006, em depoimento à Polícia Federal, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia da existência do mensalão, mesada que teria sido paga a partidos parlamentares em troca de apoio ao governo.
O depoimento foi determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dentro do inquérito em que 40 parlamentares e autoridades do governo Lula estão denunciados por corrupção, uso de caixa 2 e formação de quadrilha. Indagado se o presidente tinha conhecimento do esquema, Perillo foi enfático: “Eu o avisei”, disse.
Perillo reafirmou o teor de declaração, dada por escrito ao Conselho de Ética da Câmara, segundo a qual o deputado Sandro Mabel (PL) ofereceu à deputada Raquel Teixeira (PSDB) mesada de R$ 30 mil e bônus de R$ 1 milhão para que ela deixasse o partido e entrasse na base do governo.