“Não precisamos de nenhuma cartinha”, diz Bolsonaro sobre manifesto a favor da democracia
Mais de 100 entidades brasileiras assinaram o documento articulado pela Fiesp.
A Federação das Indústrias do Estadão de São Paulo (Fiesp) organizou o manifesto a favor da democracia e do sistema eleitoral, que foi publicado nessa quinta-feira (4), nos principais jornais do Brasil (leia adiante). Mais de 100 entidades brasileiras assinaram o manifesto, tais como Câmara Americana de Comércio (Amcham) — que, segundo a assessoria, representa um terço do PIB do Brasil — e a Fundação Fernando Henrique Cardoso. Outras organizações ligadas à questões ambientais, como a Greenpeace e a WWF também assinaram o documento.
Diante da grande adesão por parte das entidades, outras formas de manifestação começam a ser articuladas a partir do manifesto. Na próxima quinta-feira (11), dois eventos relacionados ao tema e organizados pela Fiesp irão acontecer na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), para manifestar a defesa do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Superior Eleitoral e do respeito ao Estado de Direito.
Na última quarta (3), a Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, que reúne mais de 300 empresas relacionadas ao agronegócio divulgou também uma nota a favor do sistema eleitoral brasileiro e da democracia.
No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro comentou de forma implícita o movimento, em tom de ironia:
“CARTA DE MANIFESTO EM FAVOR DA DEMOCRACIA
‘Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia.’
Assinado: Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil.”, escreveu.
O presidente também criticou a iniciativa durante convenção nacional do PP no último dia 27.
“Defendemos a democracia. Não precisamos de nenhuma cartinha para falar que defendemos a democracia. Não precisamos, então, de apoio ou de sinalização de quem quer que seja para mostrar que o nosso caminho é a democracia, a liberdade, é o respeito à Constituição.”
No entanto, Bolsonaro foi convidado pela Fiesp a comparecer aos eventos no dia 11 e assinar a carta. No entanto, foi aconselhado por interlocutores a não fazê-lo. O motivo seria os recentes ataques que Bolsonaro fez ao manifesto pela democracia, além do fato de que temem que o presidente seja alvo de protestos durante o evento.
Outros candidatos à presidência, como Ciro Gomes (PDT) e Felipe D’Ávila (Novo) assinaram a carta. Lula (PT) deve visitar a Fiesp no próximo dia 9 para fazer a assinatura.
Leia a carta completa:
“Em defesa da democracia e da justiça
No ano do bicentenário da Independência, reiteramos nosso compromisso inarredável com a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a Constituição.
Quando do transcurso do centenário, os modernistas lançaram, com a Semana de 22, um movimento cultural que, apontando caminhos para uma arte com características brasileiras, ajudou a moldar uma identidade genuinamente nacional.
Hoje, mais uma vez, somos instigados a identificar caminhos que consolidem nossa jornada em direção à vontade de nossa gente, que é a independência suprema que uma nação pode alcançar. A estabilidade democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições indispensáveis para o Brasil superar os seus principais desafios. Esse é o sentido maior do 7 de Setembro neste ano.
Nossa democracia tem dado provas seguidas de robustez. Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas, tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas, superando essas mazelas pela força de nossas instituições.
Elas foram sólidas o suficiente para garantir a execução de governos de diferentes espectros políticos. Sem se abalarem com as litanias dos que ultrapassam os limites razoáveis das críticas construtivas, são as nossas instituições que continuam garantindo o avanço civilizatório da sociedade brasileira.
É importante que os Poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – promovam, de forma independente e harmônica, as mudanças essenciais para o desenvolvimento do Brasil.
As entidades da sociedade civil e os cidadãos que subscrevem este ato destacam o papel do Judiciário brasileiro, em especial do Supremo Tribunal Federal, guardião último da Constituição, e do Tribunal Superior Eleitoral, que tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições respeitadas internacionalmente, e de todos os magistrados, reconhecendo o seu inestimável papel, ao longo de nossa
história, como poder pacificador de desacordos e instância de proteção dos direitos fundamentais.
A todos que exercem a nobre função jurisdicional no país, prestamos nossas homenagens neste momento em que o destino nos cobra equilíbrio, tolerância, civilidade e visão de futuro.
Queremos um país próspero, justo e solidário, guiado pelos princípios republicanos expressos na Constituição, à qual todos nos curvamos, confiantes na vontade superior da democracia. Ela se fortalece com união, reformando o que exige reparos, não destruindo; somando as esperanças por um Brasil altivo e pacífico, não subtraindo-as com slogans e divisionismos que ameaçam a paz e o desenvolvimento almejados.
Todos os que subscrevem este ato reiteram seu compromisso inabalável com as instituições e as regras basilares do Estado Democrático de Direito, constitutivas da própria soberania do povo brasileiro que, na data simbólica da fundação dos cursos jurídicos no Brasil, em 11 de agosto, estamos a celebrar.”