Política

Campanha de Bolsonaro ocupa as ruas, ninguém vê veículos ou adeptos de Lula

Nas grandes cidades do Estado, veículos desfilam em grande número com material de propaganda da reeleição do presidente, enquanto não se vê nenhum com adesivos do candidato do PT

Pickup cabine dupla fantasiada com material de campanha de Bolsonaro, flagrada nas ruas de Goiânia por um grande jornal da capital

Um fenômeno pode ser observado nas ruas de Goiânia, Aparecida e outras grandes cidades do Estado: não há carros ou pessoas portando adesivos ou qualquer tipo de propaganda relacionada a candidatura de Lula (PT), mas, ao mesmo, vê por todo lado veículos e pessoas com as cores, slogans, nome ou o número de Bolsonaro.

 

O PT desistiu de tentar convencer até mesmo seus militantes mais fiéis a mostrar a propaganda de Lula. Segundo o Jornal Opção, um dirigente do partido em Goiás admitiu: “Está realmente difícil convencer até mesmo militantes a se mostrar nas ruas em Goiânia com o material de Lula. As pessoas do nosso lado estão com medo.”

 

E é verdade. Se tudo se desse proporcionalmente ao que visualmente se apresenta na capital goiana, por exemplo, desde as semanas que antecederam o 2º turno, Jair Bolsonaro (PL) teria no mínimo 15 vezes mais votos do que Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O resultado geral, no entanto, mostrou Bolsonaro com 450 mil votos a mais que Lula.

 

Ou seja, não foram números massacrantes, configurando uma vantagem em torno de 10 pontos, que a movimentação nas ruas sugeria ser bem maior. Para tirar a prova, basta ver o número de carros adesivados (ou com a bandeira nacional, que foi, de certa forma, “confiscada” pela candidatura do presidente à reeleição) em circulação, ou estendidas nas janelas de apartamentos.

 

Um importante jornal de Goiânia fez um teste, nesta semana: em um percurso de 40 quilômetros por bairros centrais e também da periferia, foi avistado apenas um veículo com propaganda para o petista, no Setor Perim, região de Campinas. Mesmo assim, era um adesivo (no para-brisas traseiro) ainda do 1º turno, com a foto do presidenciável junto a outros dois candidatos a deputado do PT em Goiás.

 

Automóveis com Bolsonaro? Entre bandeiras expostas em antenas ou esticadas no capô dos carros, nada menos que 25 veículos. Ou seja, conclui o jornal: Goiânia é, sim, bolsonarista, mas visualmente aparenta ser muito mais do que realmente é. Para os petistas, isso se deve ao fator medo.

 

Apoiadores de Lula têm receio cada vez maior de expor sua opção política, principalmente em seus automóveis. A questão é evitar discussões e outros tipos de intimidação nas ruas, haja vista que o próprio trânsito já é um fator estressante por si mesmo.

 

Na verdade, não há “opção” pela discrição: o que pode estar acontecendo, na verdade, é um tipo de coação. Na visão dos apoiadores da candidatura de Lula, bolsonaristas são violentos – ou, pelo menos, “estão” muito violentos – e é melhor não dar motivo para qualquer confronto. Teme-se encontrar sujeitos agressivos, truculentos e, não raro, portadores de armas de fogo.

 

Não usar bandeiras, adesivos ou propagandas no carro por falta de material sempre foi algo que a militância petista enfrentou em Goiânia, já que os diretórios estadual e municipal do partido não são nem nunca foram exatamente os preferidos pela cúpula nacional. O dado novo que essas eleições trazem é triste: muita gente vai votar em seu candidato sem ter coragem, mesmo tendo vontade, de se apresentar como eleitor.

 

É mais uma prova que deixa muito claro – e talvez fique mais claro ainda nas próximas duas semanas – de que estas eleições presidenciais passam longe da normalidade. Só não vê quem não quer.

 

Lula: vitória no 1º turno e liderança nas pesquisas no 2º, mesmo sem campanha nas ruas

 

Esquerda cria um novo modelo de “maioria silenciosa” no Brasil

 

“Maioria silenciosa” é um conceito político em desuso, mas muito mencionado nos Estados Unidos na época de Guerra Fria, entre o final dos anos 40 e os anos 80, quando caiu o Muro de Berlim. Mas, na situação atual do Brasil, voltou a ser sentido. A esquerda nacional recolheu as armas na presente eleição presidencial – adesivos, bandeiras, cartazes, a cor vermelha e qualquer símbolo que identifique a preferência do Lula – e se recolheu à discrição.

 

Não quer dizer que perdeu a força. Ao contrário, a esquerda venceu a eleição do 1º turno, quando Lula da Silva contabilizou 6,2 milhões de votos a mais do que Jair Bolsonaro. No 2º turno, que será resolvido daqui a 10 dias, as pesquisas mostram que nada mudou e que o candidato petista até aumentou a sua vantagem, hoje calculada pelos principais institutos como próxima a 10 milhões de votos.

 

Essa é a nova “maioria silenciosa”, um segmento majoritário da população que não faz barulho, não adesiva seus carros e evita discutir política em público. Porém, discretamente, trabalha com quietude pelo seu representante no pleito presidencial e dá a ele a maioria dos sufrágios.

 

Bolsonaristas não entendem essa nova realidade. Mesmo com as pesquisas adversas, eles usavam a mobilização visual das ruas para atestar que o presidente seria reeleito no 1º turno. O próprio Bolsonaro caiu nesse logro, afirmando repetidamente que seus eventos juntavam tanta gente que não seria possível ele não vencer logo em 2 de outubro com mais de 60% dos votos.

 

Não chegou nem perto disso e terminou a apuração com alguns décimos a mais do que 43%, enquanto seu adversário crava 5 pontos a mais e levava o troféu do 1º turno com 48 vírgula qualquer coisa por cento dos votos.

 

Carros adesivados estão cada vez mais fora de moda

 

A eleição presidencial deste ano aprofundou um fenômeno que já vinha crescendo nos últimos anos no país, em especial nas grandes cidades do Estado de Goiás: o número reduzido de veículos nas ruas ostentando adesivos de campanha, seja para deputado, seja para governador, senador ou presidente.

 

Mesmo com a absoluta predominância de carros com algum tipo de material visual a favor de Bolsonaro, pode-se notar que são poucos. A maioria esmagadora prefere não identificar a sua preferência política. Um dos motivos, explica um especialista em eleições, é a elevada qualidade dos adesivos, que atingiram nível de perfeição quanto ao material colante que utilizam – difícil de ser removido e muitas vezes impondo estragos à pintura ou ao vidro dos carros.

 

São tão eficazes que exigem até mão de obra especializada para serem afixados. É por isso que surgiu o adesivaço, com as campanhas promovendo mobilizações nas quais “técnicos” usam equipamento específico e aplicam os anúncios plastificados nos veículos.

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