Estudo aponta que alimentação saudável é uma importante aliada na prevenção do câncer
Manter uma alimentação rica e equilibrada e se atentar a outros fatores de risco, como a obesidade e o sedentarismo, são fundamentais para diminuir as chances do desenvolvimento de câncer
O Dia Mundial do Combate ao Câncer, datado no dia 8 de abril pela Organização Mundial da Saúde (OMS), chama a atenção para a prevenção de uma das doenças que mais atingem a humanidade. Segundo dados da organização, é estimado que os diagnósticos de câncer tenham um aumento de 77% até 2050, totalizando mais de 35 milhões de pacientes oncológicos. Por conta disso, especialistas utilizam a data para destacar formas de prevenção da doença.
O câncer é uma doença multifatorial, ou seja, em que diversos fatores se somam para combinar na enfermidade. Alguns desses fatores podem ser não modificáveis, como herança genética (responsável por 10% dos cânceres), mas grande parte deles estão relacionados a estilo de vida, como fumar, beber, o sedentarismo, a obesidade e a alimentação ruim, explica o médico oncologista clínico Augusto Rodrigues de Araújo Neto, que faz parte da equipe do Instituto de Hematologia de Goiânia (IHG).
A alimentação na prevenção do câncer
Estudos realizados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que ter uma alimentação saudável pode ser um fator determinante na prevenção ao câncer. Segundo dados do instituto, cerca de 30% dos casos oncológicos no Brasil podem ser prevenidos com uma alimentação de qualidade.
No mundo de hoje, é muito comum que o estresse e a ansiedade sejam descontados em comidas de fácil acesso e rápido preparo, como fast-foods, comidas congeladas e ultraprocessados, que fragilizam o sistema imunológico e aumentam as chances de incidências de enfermidades, conforme estudos do Ministério da Saúde.
“Antes de mais nada, pensar em alimentação saudável é fundamental, porque estamos falando de melhor consumo de macro e micronutrientes, fontes melhores de carboidratos, de proteína e de gordura de qualidade, essenciais na prevenção tanto do câncer quanto de outras doenças crônicas”, explica a nutricionista oncológica Lays Serafim Ribeiro, do IHG. Segundo a especialista, alimentos ruins funcionam como um gatilho para o desenvolvimento de doenças.
De acordo com o Inca, a alimentação pode estar relacionada com diversos tipos de câncer, como o câncer de boca, de faringe e laringe, estômago, esôfago, fígado e rim. Além disso, a obesidade, que vem se mostrando outro fator relevante no desenvolvimento de câncer, pode ser uma consequência direta do consumo desequilibrado de alimentos ruins.
O fator sobrepeso
Considerada uma epidemia do mundo atual, além do câncer, a obesidade pode estar relacionada a várias comorbidades, como diabetes, pressão alta e, principalmente, doenças cardiovasculares, como indica a médica nutróloga, Aline Longatti. “A obesidade aumenta o risco de câncer por causar um estado de inflamação crônica no corpo. Ela aumenta muito os níveis de determinados hormônios, o que pode levar a mutações genéticas e a multiplicação de células doentes”, explica. Apenas no Brasil, 13 em cada 100 casos de câncer são atribuídos ao sobrepeso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
“Nessas situações, o indicado é o consumo de alimentos anti-inflamatórios, já que estamos tratando de uma doença que causa inflamação”, recomenda Aline Longatti. Segundo ela, o ideal é que haja a desinflamação da gordura com alimentos de origem vegetal, como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e leguminosas, além de evitar alimentos processados e ultraprocessados. A médica aponta que uma boa recomendação geral é evitar alimentos que precisam ser desembalados, e não descascados, pois se afastam daquilo que é mais natural.
Cuidados durante o tratamento oncológico
Para além da prevenção do câncer, uma boa alimentação é essencial durante o tratamento após o diagnóstico da doença. Isso porque, de acordo com dados da OMS, cerca de 40% a 80% de todos os casos diagnosticados desenvolvem algum grau de desnutrição durante a doença. Lays Serafim explica que isso se deve porque é comum que os pacientes sintam menos fome do que antes do surgimento da doença. “Alimentação também é remédio”, afirma. “No tratamento oncológico, é preciso entender que o que se come influencia muito, positiva ou negativamente.”
A nutricionista conta que o ideal é que sejam feitas de 5 a 6 refeições diariamente, com o fracionamento da alimentação, e que o momento de consumo de alimentos precisa ser feito com calma e atenção para ter melhor absorção dos nutrientes e digestão. “Se for possível, sente-se à mesa e dedique o momento apenas para sua alimentação”, indica. Também é recomendado o não consumo de líquidos junto com as refeições e de alimentos industrializados que tenham longas listas de ingredientes.
O paciente oncológico deve priorizar ingredientes mais naturais inclusive no preparo de refeições, optando por azeite de oliva, óleo de girassol, de milho ou se soja, ao invés de gorduras de animais, que concentram maiores taxas de gordura saturada, considerada ruim para a saúde humana. A inclusão de castanhas, sementes, leite e derivados, e manter equilíbrio no consumo de carne vermelha, que deve ser consumida de 2 a 3 vezes por semana apenas, também ajudam no controle da inflamação e na absorção de nutrientes importantes.
Durante o tratamento do câncer, a obesidade também deve ser controlada; além de prejudicar o tratamento, a obesidade pode aumentar as chances de reincidência da doença. Para isso, melancia, goiaba, frutas vermelhas e roxas, como açaí, morango, uvas pretas, que são ricos em antioxidantes, auxiliam a fazer esse controle. Alimentos com vitamina C, como acerola, abacaxi, laranja, limão e abóbora também são bons na prevenção do câncer, explica Aline Longatti. “Muitos alimentos podem auxiliar nesse processo, mas cada um com suas propriedades específicas. O importante é que se busque uma alimentação mais natural, se possível orgânica, evitando insumos, pesticidas e processados”, comenta a médica Aline Longatti.
Assistência médica
O Dia Mundial do Combate ao Câncer reforça a importância da prevenção do câncer, mas também de outras doenças, afirma Augusto Rodrigues. O médico chama a atenção para a necessária adesão às vacinas disponíveis, como a vacinação do HPV, disponível no calendário do Ministério da Saúde, e que está associada com uma redução muito importante no número de câncer de colo de útero, de pênis e de canal anal. O hábito de rastrear possíveis doenças e agir sempre com prevenção vai favorecer um estilo de vida mais saudável, aponta ele.