Religiões afro-brasileiras reúnem 1,2 mil pessoas em Aparecida de Goiânia
Décimo Festejo Afro-brasileiro em Louvor a Seu Tranca Ruas das Almas reuniu mais de 150 sacerdotes de diversas tradições afro-brasileiras no Estado de Goiás como Umbanda, Quimbanda, Candomblé de Keto, Candomblé de Angola, Candomblé de Jeje, Jurema, Omoloko, Terecô, Batuque e outros Cultos de Nações
Aparecida de Goiânia foi palco, na noite deste sábado (20), de umas das maiores giras já realizadas no Brasil, um encontro histórico de quase 100 terreiros de 20 municípios goianos, mais de mil médiuns e 150 sacerdotes de religiões afro-brasileiras. Um encontro para celebrar Seu Tranca Ruas das Almas e fortalecer a luta e o respeito à liberdade religiosa.
Com a presença de representantes de diversas tradições afro-brasileiras como Umbanda, Quimbanda, Candomblé de Keto, Candomblé de Angola, Candomblé de Jeje, Jurema, Omoloko, Terecô, Batuque e outros Cultos de Nações, o evento também contou com representantes do Governo de Goiás, Prefeitura de Aparecida de Goiânia, das Câmaras Municipais de Goiânia e de Aparecida, da Polícia Civil, Defensoria Pública, dentre outros órgãos e instituições engajadas na defesa da liberdade religiosa.
Realizado desde 2014, o festejo de Tranca Rua das Almas busca o louvor aos guardiões, principalmente da linhagem de Exu, que é uma linhagem muito antiga, já presente no culto anterior à Umbanda, chamado Cabula, com Tata Tranca Ruas. Na Macumba Carioca, no final do século XIX, também já aparece a figura de Tranca Ruas. “O festejo ganhou uma grande projeção, no sentido de união e fortalecimento das tradições afro-brasileiras no Estado de Goiás”, explica o idealizar do festejo, sacerdote Mestre André, sobre a gira com o Povo de Rua e Pombagiras.
“Buscamos criar uma grande força no sentido do enfrentamento, do combate ao racismo religioso. Mostrando que cultuamos os nossos sagrados, nossos ancestrais, que são espíritos de nossos antepassados, que viveram e que, hoje, manifestam em médiuns para poder trazer sua mensagem, orientação, mostrando caminhos melhores e, também, atendendo em problemas relacionados aos desequilíbrios, tanto físicos quanto espirituais e mentais”, detalha o sacerdote Mestre André.
A festa também conscientiza sobre a divindade Exu e sua errada associação com o diabo cristão, presente desde o período em que os africanos foram forçados à servidão no Brasil. “Na verdade, Exu é uma divindade amoral, não existe o mal ou o bem para Exu. A cultura religiosa africana não tem em seu culto uma força sobrenatural suprema do mal, como tem na doutrina religiosa do credo judaico-cristão”, aponta o idealizador do festejo.
“Uma associação preconceituosa, discriminatória, que inicia em uma estrutura de racismo. Na verdade, esses são espíritos que vêm para ajudar as pessoas, auxiliar na abertura de caminhos, nos negócios, na saúde, com orientações e conselhos. Eles são executores da justiça kármica. Por isso, não existe bem e mal, existe justiça. Exu estabelece o equilíbrio, ele é o mediador. É aquele que leva as mensagens dos homens para o mundo espiritual sagrado. Exu tem o poder da comunicação”, completa o sacerdote.
Mãe Iva da Cabana dos Pretos Velhos, de 93 anos, sendo mais de 60 deles dedicado à Umbanda, é uma das participantes do evento. “Eu venho porque é uma festa muito bonita para os nossos guias. Temos kardecistas, umbandistas, espiritualistas, todos aqui reunidos”, diz a sacerdotisa. “Eu também sigo o catolicismo e kardecismo, trabalho com as ervas e benzimentos desde os 7 anos”, conclui Mãe Iva, que está à frente do terreiro localizado no Setor Pedro Ludovico Teixeira, em Goiânia.
O sacerdote Luiz, que fundou o Templo Escola Centelha Divina, em Orizona, destaca que a participação maciça no evento mostra a unidade das comunidades de terreiro. “É cada vez mais forte, as pessoas saindo da sombra e vindo para a rua mostrar que o povo do terreiro tem força. Que nós não somos uma religião escondida, que também podemos comungar a nossa religião como qualquer outra”, destaca o sacerdote do único terreiro de Umbanda de seu município.
“Muitas pessoas não entendem, eles julgam. Mas, a cada dia, nós vamos rompendo barreiras. Com os nossos projetos sociais, os atendimentos da Casa e interação com outros grupos religiosos. Cada vez mais, a gente vai rompendo o preconceito religioso”, finaliza o sacerdote Luiz, que saiu de Orizona, cerca de 150 km da capital, para prestigiar o Festejo de Seu Tranca Ruas das Almas, em Aparecida de Goiânia.
Da Redação