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Retaliação da China dispara dólar a R$ 5,82 e derruba Ibovespa: entenda os impactos no Brasil

Dólar dispara a R$ 5,82 e Ibovespa cai após China retaliar tarifas de Trump. Especialista analisa impactos no Brasil e risco de recessão global.

A intensificação das tensões comerciais entre Estados Unidos e China voltou a provocar abalos nos mercados globais. Nesta sexta-feira (4), o dólar comercial disparou 3,16% e atingiu R$ 5,82 — maior cotação nominal desde a pandemia. Ao mesmo tempo, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, recuou mais de 3%, puxado pela fuga de capitais estrangeiros e pela aversão ao risco generalizada.

O movimento foi deflagrado pela resposta de Pequim ao chamado “tarifaço” de Donald Trump, que anunciou no início da semana tarifas adicionais de 34% sobre bens chineses de alta tecnologia, elevando a carga total para 54%. Em reação, o governo chinês anunciou nesta manhã medidas equivalentes sobre produtos norte-americanos e impôs restrições à exportação de terras raras — insumos estratégicos para a produção global de chips, baterias, equipamentos médicos e tecnologias de defesa.

Pressão inflacionária e risco sistêmico

“O que vemos é o ressurgimento de uma guerra comercial que pode ter efeitos sistêmicos sobre a economia global”, analisa o economista e professor da FGV, Ricardo Chagas. Segundo ele, o aumento nas tarifas eleva o custo de produção, encarece bens de consumo e tende a pressionar a inflação em escala internacional.

“Esses metais raros são fundamentais para a cadeia produtiva de alta tecnologia. A China domina mais de 60% da oferta global desses insumos. Qualquer restrição gera gargalos que afetam preços e cadeias logísticas no mundo inteiro”, destaca Chagas.

De acordo com dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), cerca de US$ 11 bilhões em ativos foram retirados de mercados emergentes desde o início da semana, com o Brasil entre os mais afetados. O real está entre as moedas que mais se desvalorizaram no cenário global — um movimento que, segundo analistas, deve persistir enquanto a incerteza comercial perdurar.

Impacto direto no Brasil

O aumento do dólar tem repercussões diretas na economia brasileira. O encarecimento da moeda americana eleva os custos de importação de combustíveis, fertilizantes, componentes industriais e alimentos, pressionando a inflação. Em paralelo, o aumento do custo de financiamento externo encarece o crédito e afeta a capacidade de investimento de empresas e do setor público.

“O dólar a R$ 5,82 é um alerta claro de que o Brasil está vulnerável aos choques externos. Isso piora as expectativas do mercado, afeta o câmbio, e pode levar o Banco Central a rever sua política de cortes na taxa de juros”, avalia Chagas.

A reação do mercado brasileiro também reflete o aumento do risco-país. O CDS (Credit Default Swap), espécie de termômetro do risco de calote soberano, subiu 18 pontos-base e voltou ao patamar de 190 pontos, maior nível em 13 meses.

Repercussão global

O temor de uma recessão global foi agravado pela forte queda das bolsas mundiais. Em Tóquio, o índice Nikkei recuou 2,87%; na Europa, Frankfurt perdeu 5,1% e Paris, 6,3%. Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 operavam em queda de aproximadamente 3% no meio da tarde, afetados pela perspectiva de aumento nos custos de produção e menor rentabilidade para multinacionais.

O cenário remete aos episódios de 2018-2019, quando uma escalada tarifária semelhante entre os mesmos países gerou desaceleração no comércio internacional e afetou os fluxos de capital global. A diferença agora, segundo os especialistas, é a maior dependência tecnológica do Ocidente em relação às terras raras chinesas.

Setores mais afetados

No Brasil, empresas do setor de tecnologia, montadoras e companhias aéreas estão entre as mais impactadas. As ações da Embraer caíram 4,2% no pregão desta sexta-feira; a Weg, exportadora de equipamentos industriais, recuou 5,8%; e a Petrobras perdeu 3,7%, em meio à expectativa de alta nos preços dos combustíveis importados.

O setor agrícola também pode sentir os efeitos, ainda que indiretamente. Caso a recessão global se confirme, os preços das commodities podem ser afetados, reduzindo o superávit comercial brasileiro e pressionando o câmbio.

O que diz Trump

Em publicação na plataforma Truth Social, o ex-presidente Donald Trump comentou a retaliação chinesa com ironia. “A China jogou errado. Eles entraram em pânico — a única coisa que não podiam fazer”, escreveu. Trump também voltou a encorajar investimentos nos EUA, afirmando que “este é um ótimo momento para ficar rico”.

Analistas avaliam que a retórica de Trump visa reforçar seu posicionamento protecionista às vésperas das eleições presidenciais norte-americanas, onde ele aparece como um dos favoritos entre os republicanos.

E agora, Brasil?

O governo brasileiro acompanha com preocupação o cenário internacional. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou comentar diretamente os efeitos da disputa comercial, mas fontes da equipe econômica afirmam que há receio de que o dólar ultrapasse os R$ 6,00 nos próximos dias.

“Esse tipo de turbulência global exige resposta coordenada. O Brasil pode mitigar parte dos impactos com reservas cambiais, mas se a guerra comercial escalar, teremos reflexos fortes no crescimento e na inflação”, diz Chagas.

Cenário à frente

Especialistas concordam que o momento exige cautela. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reúne-se nas próximas semanas e pode revisar seu cronograma de cortes na taxa Selic, diante do novo risco inflacionário trazido pela disparada do dólar.

Enquanto isso, empresas buscam se proteger com hedge cambial e adiamento de projetos de exportação e importação. O mercado deve seguir volátil, à espera de novos desdobramentos entre Washington e Pequim.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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