Pedro Lucas nas Comunicações: aposta de Lula para conectar escolas, modernizar Correios e reforçar base no Congresso
Novo ministro das Comunicações, Pedro Lucas assume com foco em conectividade, modernização dos Correios e ampliação da base aliada de Lula.
Com a exoneração de Juscelino Filho, envolvido em denúncias de desvio de emendas parlamentares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou nesta segunda-feira o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil–MA) para o comando do Ministério das Comunicações. A troca visa não apenas conter o desgaste político causado pelas investigações da Polícia Federal, mas também recompor a base governista na Câmara e destravar programas de infraestrutura digital no país.
Conectividade nas escolas: desafio estrutural e orçamentário
De acordo com o último Censo Escolar, mais de 6,7 milhões de alunos frequentam escolas sem conexão adequada à internet. Em áreas rurais, quase metade das unidades de ensino ainda não possui acesso a redes de fibra ótica ou satélite. O Ministério das Comunicações pretende, até o final de 2025, conectar 35 mil escolas públicas, o que representaria um aumento de 103% em relação à cobertura atual.
“A falta de conectividade impede o Brasil de garantir igualdade de condições no ensino básico. Esse gargalo digital afeta, sobretudo, os estudantes do Norte e do Centro-Oeste”, avalia Patrícia Noronha, pesquisadora do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.
O orçamento da pasta prevê R$ 2,4 bilhões para 2025 no programa Wi-Fi Brasil, que será ampliado com apoio de operadoras privadas via contratos de PPP. Técnicos ouvidos pela reportagem informaram que Goiás, Tocantins e Paráestão entre os estados prioritários para a nova fase da política de inclusão digital.
União Brasil ganha força com nomeação e amplia margem do Planalto
O União Brasil, partido de Pedro Lucas, tem hoje 59 deputados federais e vinha pressionando por maior protagonismo no governo. A nomeação do novo ministro atende à ala moderada da legenda e pode agregar até 17 votos consistentes à base de Lula nas votações mais sensíveis.
Segundo levantamento da consultoria Arko Advice, a base governista na Câmara pode chegar agora a 330 votos, garantindo maioria simples para aprovação de projetos ordinários.
“Essa é uma típica movimentação do presidencialismo de coalizão. A diferença é que Pedro Lucas tem perfil de entrega técnica e baixa rejeição, o que o torna uma aposta de bom retorno político e funcional”, avalia o cientista político José Tavares, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e analista da Insight Política.
Correios sob pressão: estatal enfrenta concorrência agressiva
Apesar de ter encerrado 2023 com superávit de R$ 540 milhões, os Correios seguem perdendo espaço no setor logístico nacional. Entre 2020 e 2024, a fatia da empresa no mercado de e-commerce caiu de 42% para 31%, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).
Pedro Lucas anunciou que pretende lançar um pacote de modernização logística com seis hubs regionais, sendo um deles no Centro-Oeste. A meta é ampliar a capacidade de triagem e distribuição usando tecnologia de inteligência artificial e acordos com startups regionais.
“O Brasil depende de uma logística moderna para integrar os polos de consumo e produção. Se os Correios não se reinventarem, perderão relevância até em regiões onde ainda são monopolistas”, analisa o economista Otávio Barreto, consultor em infraestrutura do setor público e ex-diretor da EPL.
Radiodifusão pública e regionalização da EBC
Outro eixo da nova gestão é a reformulação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A atual estrutura será reavaliada para priorizar conteúdos educativos e culturais, com descentralização da produção e ênfase nas identidades regionais.
“Pedro Lucas tem interesse em tornar a EBC mais eficiente e conectada com a realidade das escolas e universidades. O foco será criar conteúdo útil, principalmente para formação cidadã e combate à desinformação”, destaca a jornalista e pesquisadora em mídia pública Márcia Moreira, autora do livro Radiodifusão e Desenvolvimento no Brasil.
Perfil do novo ministro
Engenheiro civil e deputado federal em segundo mandato, Pedro Lucas Fernandes tem 35 anos e foi líder do União Brasil na Câmara entre 2023 e 2025. Filho do ex-deputado Pedro Fernandes, ganhou destaque como articulador da bancada do Maranhão e relator de projetos nas áreas de infraestrutura e comunicação.
Discreto, porém atuante, Pedro Lucas é considerado um nome de perfil técnico-político, condição ideal para o atual momento do Ministério das Comunicações, que exige capacidade de execução e negociação parlamentar.
Planos para os 180 primeiros dias
A equipe de transição liderada pela secretária-executiva Sônia Faustino Mendes já iniciou o mapeamento de prioridades para os seis primeiros meses de gestão. Entre as metas anunciadas:
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Conexão de 18 mil novas escolas públicas à internet;
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Implantação de 1.500 quilômetros de fibra ótica em regiões isoladas;
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Lançamento de seis polos logísticos dos Correios com PPPs;
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Modernização de centros de triagem automatizados em cinco capitais;
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Reestruturação da programação da EBC com foco em conteúdo educacional.
Análise final
A nomeação de Pedro Lucas representa, simultaneamente, uma resposta à crise política e um sinal de ambição estrutural do governo Lula. Ao escolher um nome com trânsito partidário e vocação técnica, o Planalto tenta alavancar programas-chave de inclusão digital e logística postal — áreas estratégicas para o desenvolvimento regional e para a competitividade econômica do país.
“Não é apenas uma troca de nome. É uma tentativa de reposicionar o Ministério das Comunicações como ferramenta de Estado, não só de governo”, afirma Isabela Rios, mestre em Políticas Públicas pela FGV e consultora legislativa do Congresso.