Mulheres ganham até 25% a menos que homens em Goiás, aponta relatório federal
Diferença salarial entre gêneros cresce em pleno avanço da participação feminina no mercado; especialista cobra atuação firme do setor privado
O mais recente Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Ministério do Trabalho e das Mulheres, acendeu um alerta em Goiás: mesmo com mais mulheres no mercado formal, a diferença salarial entre homens e mulheres permanece elevada, chegando a 25% em algumas ocupações de nível superior.
O dado faz parte da terceira edição da pesquisa nacional que avalia a remuneração média por gênero, raça e tipo de cargo em todos os estados brasileiros. Embora o Tocantins tenha registrado aumento de 1,02% na desigualdade desde a última sondagem, Goiás aparece entre os Estados com maiores disparidades estruturais, especialmente no setor privado urbano.
Salário médio das mulheres segue abaixo do dos homens
A pesquisa não apresenta os dados exatos por estado em todas as ocupações, mas os recortes regionais evidenciam que em Goiás, as mulheres seguem recebendo menos em quase todas as funções, mesmo quando têm a mesma escolaridade e ocupam cargos equivalentes.
— A diferença salarial no Centro-Oeste, especialmente em estados como Goiás, é mantida por fatores culturais e pela baixa adesão de empresas à Lei da Igualdade Salarial. Os setores de indústria, agronegócio e logística, que são fortes na região, têm baixos índices de promoção feminina a cargos estratégicos — explica a economista Daniela Alves, pesquisadora em economia de gênero.
Ela destaca que, em muitos casos, a desigualdade não decorre da qualificação, mas da segregação ocupacional: mulheres são maioria em funções administrativas, de apoio ou educação básica, enquanto os homens concentram cargos em engenharia, finanças e alta gestão.
Mulheres negras recebem ainda menos
O fator racial amplia o problema em Goiás. Dados nacionais revelam que mulheres negras ganham, em média, 38% menos que mulheres brancas. Na prática, isso representa dois níveis de exclusão simultânea: por gênero e por raça.
No Estado, onde a população negra representa cerca de 57%, segundo o IBGE, a ausência de políticas afirmativas no setor privado agrava o cenário, segundo Daniela.
— Ainda há resistência de empresas em reconhecer o impacto da desigualdade racial nos salários. Poucas adotam programas de inclusão ou oferecem oportunidades de ascensão real — pontua.
Cresce a participação feminina, mas sem avanço proporcional
Apesar da defasagem nos salários, a participação feminina no mercado de trabalho goiano aumentou nos últimos anos. No Brasil, o número de mulheres ocupadas passou de 38,8 milhões em 2015 para 44,8 milhões em 2024. Em Goiás, o crescimento segue essa tendência, puxado pelo setor de serviços e pelo empreendedorismo feminino.
No entanto, a massa salarial feminina ainda representa apenas 37,4% de todos os rendimentos do trabalho no país, um crescimento tímido frente à entrada expressiva de mulheres no mercado.
Lei da Igualdade Salarial exige relatórios e medidas nas empresas
A publicação do relatório cumpre as exigências da Lei nº 14.611/2023, que obriga empresas com mais de 100 funcionários a adotarem práticas transparentes de remuneração e a apresentarem dados periódicos de igualdade salarial.
A norma também determina que essas empresas criem programas de diversidade, canais de denúncia contra discriminação e ações de apoio à ascensão feminina.
— Em Goiás, poucas empresas têm se antecipado à legislação. A maioria apenas reage quando pressionada. É preciso transformar a igualdade salarial em uma diretriz de gestão, e não apenas uma exigência legal — avalia Daniela Alves.
Cargos de chefia ainda são majoritariamente masculinos
O relatório mostra que mulheres em cargos de direção e gerência recebem, em média, 73,2% do que ganham os homens na mesma função. Já nas ocupações de nível superior, o percentual cai para 68,5%. Em funções administrativas, a diferença é menor, com as mulheres recebendo cerca de 80% da remuneração masculina.
Em Goiás, setores como tecnologia, agroindústria, engenharia e administração continuam dominados por lideranças masculinas, segundo dados do Caged e de entidades como a Fieg (Federação das Indústrias do Estado de Goiás).
Movimento nacional tenta reverter cenário
O Governo Federal lançou, junto ao relatório, o Guia para Negociação Coletiva e o Movimento pela Igualdade no Trabalho, que busca reunir empresas e sindicatos comprometidos com práticas de remuneração justa. As adesões são públicas e podem ser feitas por meio de um portal nacional.
Também foi instituído o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens, com vigência até 2027, coordenado por onze ministérios.