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Em Goiânia, projeto transforma resíduos têxteis em colchas e reforça nova visão sobre a moda

Iniciativa do Clube de Costura resgata o valor social do trabalho manual e é reconhecida pelo Prêmio Goiás Sustentável 2024.

Na contramão da lógica tradicional da indústria da moda, que ainda gera toneladas de resíduos anualmente, um projeto nascido em Goiânia propõe um caminho alternativo: transformar o que seria descartado em acolhimento humano e fortalecimento comunitário.

Criado em 2024 no Clube de Costura, projeto institucional do Mega Moda Shopping, o Projeto Colcha de Retalhosressignifica materiais têxteis inutilizados para confeccionar colchas destinadas a populações em situação de vulnerabilidade social.

Ao longo de seu primeiro ano, foram reaproveitados cerca de 200 metros de retalhos, convertidos em quase 100 colchas. O impacto da ação ultrapassa o viés ambiental: o projeto também promove encontros intergeracionais, capacita voluntários na prática da costura manual e resgata a cultura do fazer artesanal como instrumento de solidariedade.


Costurar para resistir: o viés social e comunitário

Mais do que uma solução para o descarte têxtil, a iniciativa aposta na costura como meio de mobilização social.

O projeto é baseado em três pilares:

  • Social: as colchas são entregues a comunidades vulneráveis, promovendo conforto e dignidade;

  • Ambiental: o reaproveitamento de resíduos combate o desperdício na indústria da moda;

  • Comunitário: voluntários e voluntárias, sem exigência de formação profissional, se unem para colaborar com o projeto.

A força simbólica das peças vai além da utilidade: elas se tornam manifestações materiais de cuidado coletivo em uma sociedade marcada pela velocidade do consumo descartável.


Reconhecimento e impacto ambiental

Em 2024, o Projeto Colcha de Retalhos foi agraciado com o 1º lugar na categoria Atividade Empresarial do Prêmio Goiás Sustentável, organizado pelo Governo do Estado. A premiação destacou a capacidade da iniciativa de reduzir o descarte têxtil e de fomentar práticas cidadãs no setor de moda popular.

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Brasil produz cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano. Iniciativas locais como a do Clube de Costura mostram que pequenas ações, quando articuladas com planejamento social e ambiental, podem gerar impacto real.


Além do lucro: a moda como plataforma de transformação

Tradicionalmente associada ao consumo rápido e à obsolescência programada, a indústria da moda tem sido, nas últimas décadas, alvo de críticas por seus impactos ambientais e sociais.

Movimentos como o slow fashion — que prega o consumo consciente, a valorização do artesanal e a transparência nos processos produtivos — ganham força em diferentes partes do mundo. A iniciativa em Goiânia, nesse contexto, se insere como uma experiência concreta de moda com responsabilidade, especialmente em um dos principais polos atacadistas do Brasil, a Região da 44.

Mais do que atender demandas de mercado, o projeto busca reverter paradigmas: trata-se de enxergar o resíduo não como sobra, mas como matéria-prima de novas possibilidades humanas e sociais.


Cultura do retalho: um resgate de saberes ancestrais

O conceito de unir pedaços de tecido para criar novas peças remonta a práticas populares e tradicionais, muito antes da industrialização da moda. As colchas de retalhos, popularizadas no Brasil e em outros países, sempre foram símbolo de resiliência comunitária e de transmissão de saberes entre gerações.

Ao reatualizar essa prática dentro de um centro de compras contemporâneo, o Clube de Costura reintegra a cultura artesanal ao circuito urbano da moda, promovendo um diálogo entre tradição e inovação.


O futuro da moda sustentável em Goiás

O sucesso do Projeto Colcha de Retalhos lança perspectivas para a ampliação de práticas de sustentabilidade no setor têxtil local.

Em uma época em que consumidores estão cada vez mais atentos à origem e ao impacto dos produtos que consomem, projetos que unem responsabilidade social, ambiental e comunitária tendem a se tornar referência, inclusive do ponto de vista estratégico para marcas que desejam construir reputações mais sólidas.

Na prática, ações como essa contribuem não apenas para minimizar os impactos ambientais imediatos, mas também para construir uma nova narrativa sobre o que significa produzir e consumir moda no século XXI.O Clube de Costura, ao articular costura artesanal, reaproveitamento de materiais e ação comunitária, vai além da estética e se consolida como um agente de transformação social em Goiânia. Em tempos de crise climática e desigualdade, sua experiência reafirma que moda também pode — e deve — ser uma plataforma para cidadania.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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