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Com federação, Caiado se projeta como nome viável da direita e mira 2026: “Uma virada na política do País”

Aliança entre União Brasil e Progressistas amplia peso legislativo e pode consolidar terceira via conservadora; especialistas veem estratégia para isolar bolsonarismo e tensionar Planalto

A formalização da federação entre o União Brasil e o Progressistas, nesta terça-feira (29), marca um dos movimentos mais relevantes da política institucional em 2025. Batizada de Federação União Progressista, a aliança cria a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 109 parlamentares, além de 14 senadores — um bloco que, segundo seus idealizadores, nasce com força para disputar a Presidência da República em 2026.

No centro desse arranjo está o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que tem se movimentado publicamente como pré-candidato ao Palácio do Planalto e que definiu a federação como “uma virada na política do País”, em carta aberta publicada nas redes sociais.

“É chegada a hora de colocarmos mãos à obra. Pensar numa postura de afastamento do Governo Federal, que não consegue atender aos anseios do nosso povo”, escreveu o goiano, em tom oposicionista ao governo Lula.

A solenidade de oficialização ocorre na Câmara dos Deputados e conta com a presença do senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, e de Antonio Rueda, comandante do União Brasil.


Bloco conservador tenta furar polarização PT x Bolsonaro

O movimento federativo — previsto na Emenda Constitucional nº 97/2017, que limita coligações e impõe cláusula de barreira — vem sendo interpretado por analistas como tentativa de reestruturar a direita moderada, ainda fragmentada desde 2018.

Para o cientista político Mauro Bittencourt, o gesto tem ambição presidencial clara:

“Caiado tenta se consolidar como nome palatável para o eleitor conservador que não se vê mais representado pelo bolsonarismo clássico. A federação cria musculatura institucional e retórica para isso”.

O avanço da federação ocorre também em meio à dificuldade do União Brasil de unificar suas correntes internas e após sinais de enfraquecimento da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no Sudeste.


Consolidação legislativa e disputa pelos fundos eleitorais

Além da leitura eleitoral, há cálculo financeiro e partidário. A federação permite que União e Progressistas unifiquem fundo eleitoral e tempo de TV, com potencial de ultrapassar o PT em exposição midiática na campanha de 2026. Juntas, as legendas somam mais de R$ 1 bilhão em fundo público entre 2024 e 2026.

Na avaliação da socióloga e pesquisadora eleitoral Daniela Vasconcellos, o movimento é pragmático:

“A federação é uma resposta técnica à pulverização de partidos, mas também uma manobra de sobrevivência. Eles unem quadros políticos experientes e com estrutura nas bases, especialmente no Norte e Centro-Oeste, com forte capilaridade no Legislativo”.

A expectativa entre os articuladores da federação é garantir protagonismo em ao menos 15 estados, com palanques competitivos para governador, senador e deputados federais. Caiado cita explicitamente esse objetivo na carta: “É fundamental que, a partir de agora, trabalhemos com respeito e diálogo entre os diretórios”.


Caiado assume posição de porta-voz da direita institucional

A fala do governador goiano carrega um duplo recado: descolamento do bolsonarismo e distanciamento do lulismo. Desde o início do segundo mandato de Lula, Caiado tem evitado confrontos diretos com o presidente, mas endureceu o tom nos últimos meses, sobretudo após as críticas do Planalto à pauta fiscal defendida pelos estados.

Segundo o analista político Lucas Faria, que acompanha tendências de centro-direita, o gesto de Caiado é uma construção de longo prazo:

“Ele vem preparando esse discurso há pelo menos dois anos. A federação agora oferece a ele um palanque partidário coeso e numeroso, coisa rara hoje no Brasil. O desafio será manter essa unidade até 2026”.

A carta divulgada por Caiado reforça seu tom de pré-candidato: “Com humildade, coloco-me à disposição para ser uma alternativa que represente a mudança que tanto desejamos”, afirma.


Risco de implosão e disputa interna já se desenham

Apesar da euforia inicial, lideranças ouvidas reservadamente pela Folha reconhecem que a fusão entre PP e União é, por enquanto, frágil. A heterogeneidade ideológica, as disputas regionais e a possível candidatura do próprio PP com outro nome — como Arthur Lira ou Ciro Nogueira — podem esvaziar o projeto de Caiado.

O futuro da federação dependerá de como ela lidará com esses conflitos internos e da capacidade do goiano de se apresentar como síntese entre ruralistas, liberais e conservadores religiosos, hoje em disputa no mesmo campo político.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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