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Vacinação abaixo de 25% amplia pressão sobre hospitais e expõe falha coletiva na prevenção à gripe em Goiás

Com baixa adesão à vacina contra influenza, internações evitáveis voltam a ocupar leitos de alta complexidade no HMAP

Apenas uma em cada cinco pessoas do grupo prioritário em Goiás tomou a vacina contra a gripe em 2025. O dado, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, revela um cenário que vai além da hesitação vacinal: trata-se de um risco direto à sustentabilidade do sistema público hospitalar.

No Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia – Iris Rezende Machado (HMAP), referência em alta complexidade e gerido pelo Einstein, o impacto já é visível. Entre os pacientes internados com diagnóstico de influenza nos últimos seis meses, 60% fazem parte do público com recomendação formal de vacinação. Dos 14 pacientes que se enquadravam nesse critério, apenas um havia recebido a dose anual, segundo levantamento do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia da unidade.

“Estamos lidando com casos graves de uma doença que poderia ser evitada com uma dose gratuita de vacina”, alerta a infectologista Priscilla Swadda. “O mais preocupante é que muitos desses pacientes fazem parte de grupos vulneráveis, como idosos e crianças pequenas. A consequência é uma pressão desnecessária sobre uma rede já exigida.”

Além do risco individual, a hospitalização por influenza gera efeito em cadeia no sistema. Em cada caso internado, há necessidade de quarto exclusivo, equipe dedicada, equipamentos de proteção e vigilância epidemiológica reforçada — o que compromete a ocupação de leitos e o atendimento a outras urgências. O HMAP, que conta com 235 leitos operacionais e 49 de UTI, precisa reorganizar recursos diante de demandas previsíveis, mas negligenciadas pela baixa adesão à vacinação.

A vacina contra a gripe passou a integrar o Calendário Nacional de Vacinação desde 2024 e está disponível o ano inteiro para os grupos prioritários. Ainda assim, a cobertura em Goiás é de apenas 20,21%, distante da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde. Em 2023, o índice foi de 48% — já considerado insatisfatório.

A influenza pode evoluir rapidamente para quadros como pneumonia, insuficiência respiratória e óbito, especialmente em pacientes com comorbidades como diabetes, asma ou doenças cardíacas. A imunização anual é necessária devido às constantes mutações do vírus. A cada temporada, uma nova formulação é produzida com base nas cepas em circulação no hemisfério sul.

O HMAP foi inaugurado em 2018 e, desde 2022, é gerido pelo Einstein — sendo a primeira operação do hospital fora do estado de São Paulo. Com área superior a 17 mil metros quadrados, a unidade abriga 10 salas de cirurgia e oferece atendimento especializado em múltiplas frentes, de cirurgias bariátricas à hemodinâmica. Em menos de um ano de gestão, a taxa de mortalidade caiu de 15,33% para 3,6%, e o tempo médio de internação foi reduzido de 9,5 para 5 dias.

Para os especialistas, a vacina segue como a estratégia mais eficaz — e menos onerosa — para conter uma doença que, a cada ano, desafia os serviços de saúde. “É uma equação simples: mais vacina, menos internação. Menos vacina, mais sobrecarga. E estamos vendo a escolha errada se repetir”, conclui Swadda.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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