Após CPI das Apostas, Virgínia Fonseca perde 600 mil seguidores e acende alerta sobre publicidade de jogos online

A influenciadora e apresentadora Virgínia Fonseca perdeu cerca de 600 mil seguidores no Instagram após prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas, no Senado. A queda brusca de engajamento veio na esteira da revelação de que vídeos publicados por ela, simulando ganhos em plataformas de apostas, eram encenados com contas fornecidas pelas próprias empresas — sem uso de dinheiro real.

Durante a sessão, Virgínia foi questionada pela relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), e admitiu que as imagens em que aparece jogando foram gravadas com perfis promocionais, criados exclusivamente para influenciadores. “Eles mandam o login e a senha. É a conta para publicidade”, afirmou. “A demo é uma conta de demonstração específica.” A influenciadora disse ainda que seguiu as orientações do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).

A CPI, presidida pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO), apura se influenciadores digitais estariam recebendo comissões proporcionais às perdas de usuários que acessam as plataformas por meio de links patrocinados. Virgínia negou essa prática e afirmou que seu contrato com a empresa Esportes da Sorte previa apenas pagamento fixo, com possibilidade de bonificação caso os lucros da empresa dobrassem — o que, segundo ela, “nunca aconteceu”.

A relatora classificou o modelo de remuneração como “caixa da desgraça alheia” e alertou para os riscos sociais e psicológicos da banalização dos jogos. “Estamos diante de um problema de saúde pública. A publicidade direcionada por celebridades transforma seguidores em alvos de consumo altamente vulneráveis”, afirmou Thronicke.

Reação nas redes e perda de capital simbólico

Com mais de 53 milhões de seguidores antes da audiência, Virgínia sofreu uma queda expressiva em sua base de fãs após o depoimento. Nas redes, a reação foi imediata. “Te acompanhava desde o começo, mas você se perdeu quando a ganância tomou conta”, escreveu uma seguidora. Outra comentou: “Enriqueceu às custas dos pobres”, em uma publicação com mais de 12 mil curtidas.

A influenciadora tentou rebater parte das críticas ao afirmar que sempre alertou seu público sobre os riscos das apostas. “Eu sempre deixo claro que é um jogo, que pode ganhar e pode perder”, disse. Acrescentou ainda que orienta seguidores a não jogarem caso tenham histórico de vício ou sejam menores de idade — público oficialmente proibido nas plataformas.

Debate sobre regulação ganha força no Congresso

O depoimento repercutiu entre parlamentares da base e da oposição, que passaram a discutir uma proposta de regulamentação mais rigorosa para a publicidade em plataformas de apostas. Entre as sugestões está a proibição de vídeos encenados que simulem ganhos, bem como a exigência de transparência nos contratos entre influenciadores e operadoras.

Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o episódio envolvendo Virgínia reacendeu, no Planalto e no Congresso, o debate sobre os limites da liberdade comercial no ambiente digital. “Não se trata de censura, mas de responsabilidade. A publicidade hoje ultrapassa o marketing tradicional. Ela mexe com a saúde mental e com o endividamento de famílias inteiras”, disse um integrante da base governista sob reserva.

A CPI segue em andamento e outras celebridades digitais devem ser convocadas nos próximos dias. A expectativa é de que, ao final dos trabalhos, o colegiado apresente um pacote de recomendações para o Legislativo, o Conar e os órgãos reguladores do setor de apostas.