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Goiânia: derrubada de 86 árvores causa polêmica e reacende discussão sobre plano diretor e alagamentos na capital 

Especialistas dizem que derrubada das árvores pode agravar e intensificar  alagamentos em  toda a extensão do córrego 

Como relatamos ontem na matériaMudanças climáticas e verticalização aumentam pontos de alagamento em Goiânia”, feita especialmente para a edição impressa da sexta-feira, 24 de fevereiro, Goiânia, capital de Goiás, vê anualmente o número de áreas que sofrem alagamentos na cidade crescer. Entre os motivos apresentados pelos dois especialistas ouvidos na matéria estão mudanças climáticas, adensamento populacional, falta de áreas verdes e derrubada de árvores,

Um exemplo dessa questão foram as chuvas intensas da sexta-feira, 24 de fevereiro, que deixaram alagados muitos pontos da cidade. Ou a tempestade da terça-feira, 21 de fevereiro, na qual muitos pontos da cidade ficaram completamente alagados.  Entre eles destaca-se o transbordamento do Lago das Rosas, que transbordou e invadiu a avenida Anhanguera, levando inclusive os pedalinhos para o meio da rua.

Neste momento que a capital de Goiás busca respostas para solucionar estes problemas e que especialistas como o Engenheiro Civil e Conselheiro do Crea-GO, Henrique Toledo Santiago,  que destaca que é preciso investimento para atualização do sistema de água pluvial, principalmente nos bairros que estão recebendo grande verticalização, chamou a atenção dos moradores da capital o desmatamento de 86 árvores de 15 espécies na avenida 136, no setor Sul.

De acordo com Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de Goiás (CAU) que fez uma denúncia ao Ministério Público sobre a derrubada das árvores,  a permissão da Prefeitura de Goiânia concedida ao Grupo IS Marista,  comprador do terreno em 2022,  viola a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/1998).  A entidade diz na denúncia que,  segundo a lei, por se tratar de região de nascentes, o terreno está em Área de Preservação Permanente (APP).

O CAU explicou, por meio de nota à imprensa, que o Plano Diretor da cidade, que está em vigor desde setembro de 2022 não considera o local como APP, e sim como Área de Ocupação Sustentável (AOS). Nesse local, só  podem ser edificadas construções de até 12 metros de altura.

O Conselho de Arquitetura se posicionou contrário a autorização emitida pela Prefeitura, e destacou que os já tradicionais problemas de drenagem em Goiânia tendem a se agravar ainda mais.  Segundo o órgão, o  aumento da área impermeabilizada na região das nascentes do córrego dos Buritis é crescente e nos últimos 20 anos, o encontro das ruas 87 e 132, no setor Sul, se tornou um ponto de represamento severo de águas pluviais nos meses de chuva, colocando em risco quem transita pelo local.

Ainda de acordo com o CAU, no decorrer da história de Goiânia, a contínua ocupação em áreas muito próximas ao córrego e sua completa canalização, também resultaram na desconfiguração dos pontos de afloramento das nascentes.  A instituição explicou que a impermeabilização, somada à drenagem de lençol freático executada nas edificações vizinhas à nascente, pode além disso comprometer a integridade e o abastecimento do próprio córrego dos Buritis, podendo levar ao seu desaparecimento.

 O engenheiro agrônomo e Conselheiro do Conselho de Engenharia e Agronomia de Goiás,  Antônio Pasqualetto, destaca que a derrubada das árvores pode tornar a região mais quente e seca 
 O engenheiro agrônomo e Conselheiro do Conselho de Engenharia e Agronomia de Goiás,  Antônio Pasqualetto, destaca que a derrubada das árvores pode tornar a região mais quente e seca 

O posicionamento do CAU é compartilhado pelo engenheiro agrônomo e Conselheiro do Conselho de Engenharia e Agronomia de Goiás,  Antônio Pasqualetto, que explicou que e a derrubada das árvores é preocupante porque pode gerar problemas graves resultantes da perda de vegetação e permeabilização do solo. Segundo ele, é  possível  que aconteça a  ampliação e aumento da intensidade dos  alagamentos na região  da construção e ao longo de todo o caminho percorrido pelo  Córrego dos Buritis. 

Entre os pontos preocupantes, que estão na lista de pontos críticos de alagamentos em vias públicas de Goiânia – que foi elaborada pela defesa civil da cidade, destacam-se a Rua 87 com Avenida Cora Coralina e Rua 132, no Setor Marista; além da Avenida Assis Chateaubriand, na região próxima ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

Pasqualeto explicou ainda que o solo permeável permite a absorção da água, mas que em locais onde há construção, a água passa a correr mais rápido e isso pode levar ao aumento da intensidade das enxurradas. O engenheiro agrônomo explicou ainda que as árvores são muito importantes para  diminuir o impacto da gota da chuva no solo. Segundo ele, quando a chuva bate na planta, ela cai no chão com menor impacto e tem maior chance de absorção, pois rola mais devagar.

Outro fator apontado por Pasqualeto que pode ser prejudicial à região com a subtração das árvores é o aumento da temperatura do microclima. ” Se você for a um parque vai ver como aquela região é mais úmida e fresca. Isso acontece devido a existência das árvores. Quando elas são retiradas, nosso clima,  que já apresenta escala desértica em algumas regiões do ano,  tende a ficar mais seco e quente.

Grupo responsável pelo terreno diz que todas as ações estão sendo executadas dentro da legalidade 

Igor Sebba, diretor do  Grupo IS Marista, responsável pelo terreno da Av. 136, em Goiânia, explicou alguns pontos sobre o caso.De acordo com ele, as árvores que estavam no local não eram árvores nativas. Todas eram árvores que já haviam sido plantadas anteriormente e, que muitas delas, já estavam caindo sobre os muros, durante as chuvas.

Segundo ele, essas árvores foram plantadas para fazer sombra para um campo de futebol que havia no local. “Como elas eram podadas apenas pelo lado de dentro, quem passava pela rua tinha a impressão que era um bosque fechado de árvores, mas, na verdade, elas estavam lá para fazer sombra para o campo de futebol”, explicou.

Imagem fornecida pelo empreendedor mostrando que havia um campo de futebol no local e as árvores estavam às margens.
Imagem fornecida pelo empreendedor mostrando que havia um campo de futebol no local e as árvores estavam às margens.

O empresário destacou ainda que  o Grupo IS Marista tem todas as autorizações e fez toda a documentação de acordo com o que pede o novo Plano Diretor de Goiânia. Ele destacou que o início do trabalho foi autorizado na última semana de janeiro, quando o novo Plano Diretor já estava em vigor. 

Igor esclareceu ainda que o local não é uma Área de Proteção Permanente (APP), que são locais que estão até 100 metros às margens das nascentes de água.  “A nascente está há 350 metros e fica no Clube dos Oficiais. A essa distância ela está totalmente fora do raio de qualquer legislação para nascente”, explicou.

Mapa fornecido pela construtora mostra que nascente de água está há 354 metros do terreno e das árvores que foram derrubadas
Mapa fornecido pela construtora mostra que nascente de água está há 354 metros do terreno e das árvores que foram derrubadas

Sobre a “supressão das árvores”, que é o termo técnico para a derrubada, ele destacou que todo o trabalho foi feito dentro de toda a legalidade e seguindo todas as orientações da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA). “Antes de iniciar fizemos inclusive a compensação ambiental com  a doação de 3150 árvores para a AMMA. Eles pediram 3040 e nós doamos 100 árvores a mais para fazer a compensação ambiental para a prefeitura. Essas mudas a prefeitura de Goiânia vai plantar em áreas degradadas do município”, explicou.

De acordo com ele, não será levantado no local um edifício. “Vamos construir no futuro, uma obra horizontal, de baixo impacto e sustentável, respeitando todo o regramento municipal e ambiental proposto pelos órgãos competentes que vai somar para a região e que vai arrancar elogios”, contou.

Igor disse ainda que ainda será definido o que será implantado no local, mas que o Grupo IS Marista estuda a possibilidade de um mercado saudável ou de um empório. O empreendedor revelou ainda que, o grupo estuda a possibilidade de, antes de iniciar a obra, montar quadras esportivas de areia no local para que a população possa usufruir gratuitamente de esportes como beach tennis, futevolei, volei de areia etc. “É preciso destacar que ainda estamos estudando tudo, não temos nem projeto pronto”, explicou.

Sobre o Ministério Público Estadual estar averiguando a questão, Igor disse que o grupo está tranquilo e acredita que será benéfico. “Está tudo dentro da legalidade”, pontuou.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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