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Caiado se distancia de Bolsonaro e critica Lula: “Não sou preposto de ninguém. O próximo presidente tem que ter independência moral”

Em entrevista à BBC, governador de Goiás refirma identidade própria na direita e diz que não aceitará tutelas políticas. Ele também atacou proposta do governo de taxar os super-ricos e defendeu ações da polícia em Goiás

A dois dias do lançamento oficial de sua pré-candidatura à Presidência da República, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), reforçou seu discurso de independência política e se posicionou como uma alternativa à polarização entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista concedida à BBC News Brasil em Salvador, onde lançou sua pré-campanha na sexta-feira (4), Caiado foi enfático: “Não sou preposto de ninguém. O próximo presidente tem que ter independência moral.”

A declaração sinaliza um movimento claro de diferenciação em relação a Bolsonaro, com quem compartilhou palanque em 2018, mas de quem se afastou nos últimos anos. Sem citar diretamente o ex-presidente, Caiado evita confrontos públicos diretos, mas deixa claro que pretende disputar o eleitorado conservador com identidade própria.

“Eu nunca precisei de tutores para exercer meu mandato. Tenho mais de 40 anos de vida pública, sempre combati o PT com firmeza, sem jamais abrir mão da responsabilidade e da democracia”, disse.

Discurso próprio dentro da direita

Ao flertar com eleitores bolsonaristas, sem se alinhar diretamente a Bolsonaro, Caiado tenta se consolidar como o nome viável de uma direita institucional. Ele combina discurso duro contra o crime com uma defesa enfática da autonomia entre os poderes e da estabilidade democrática.

“A eleição de 2026 vai exigir mais do que carisma e polarização. O Brasil precisa de um presidente que conheça o país, que tenha histórico de gestão e que não seja refém de grupos políticos ou interesses pessoais”, afirmou durante a entrevista.

Segundo o cientista político Leonardo Barreto, a estratégia de Caiado é clara: disputar o eleitorado bolsonarista órfão, mas sem se contaminar pelas acusações que rondam o ex-presidente. “Ele quer ser visto como o sucessor natural da direita, mas com credenciais próprias, sobretudo na segurança pública e na gestão fiscal.”

Crítica à taxação dos super-ricos

Caiado também criticou o plano do governo federal de taxar os super-ricos para compensar a perda de arrecadação com a nova isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Segundo o Ministério da Fazenda, cerca de 141 mil brasileiros seriam atingidos com a nova medida, que inclui acionistas de grandes empresas, investidores e empresários com altos patrimônios.

A fortuna de Caiado, declarada ao Tribunal Superior Eleitoral em 2022, é de aproximadamente R$ 25 milhões, com origem em rebanhos, fazendas e negócios familiares. Ainda assim, o governador atacou a proposta.

“Acho que é um ato populista no momento em que ele [o governo Lula] está gastando desenfreadamente. Não se equilibra contas públicas com medidas de apelo fácil e impacto mínimo. É preciso responsabilidade”, afirmou.

Para a economista Fernanda Schwantes, o projeto do governo tem impacto simbólico, mas ainda precisa ser detalhado. “Trata-se mais de um gesto político do que de uma solução estrutural. O discurso de Caiado encontra eco em segmentos do setor produtivo que temem aumento da carga tributária sem contrapartida na redução de gastos.”

Segurança pública como bandeira

Outro tema abordado por Caiado foi a segurança pública — área em que o governador goiano tem investido politicamente desde o início do mandato. Questionado sobre os altos índices de letalidade policial em Goiás, ele respondeu com firmeza.

“Quando o crime é confrontado com a polícia, quem é que morreu nesse enfrentamento? A tropa do Estado é preparada para o confronto. E é por isso que Goiás é hoje um dos estados mais seguros do país”, argumentou.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 indicam que Goiás é o terceiro estado com maior taxa de mortes causadas por policiais em serviço. Apesar disso, o estado também figura entre os que mais reduziram índices de homicídios e roubos nos últimos quatro anos.

A especialista em segurança pública Cláudia Amorim observa que a estratégia de enfrentamento direto ao crime é controversa, mas eficiente na lógica eleitoral. “Caiado fala para um público que quer resultado, ainda que com custo social elevado. Ele capitaliza essa narrativa de combate frontal ao crime como poucos no Brasil hoje.”

De candidato do interior a presidenciável

Ronaldo Caiado iniciou sua trajetória política nacional como candidato à Presidência ainda em 1989, quando era um jovem representante do agronegócio e fundador da União Democrática Ruralista (UDR). Na ocasião, ficou em décimo lugar, com menos de 1% dos votos.

“Naquela época, eu era visto como o candidato do interior. Hoje, continuo com orgulho das minhas raízes, mas sou um gestor reconhecido nacionalmente, com trabalho em educação, saúde, infraestrutura e segurança. Evoluí como homem público”, disse.

Agora, em 2025, Caiado tenta ocupar um novo espaço: o do presidenciável com experiência administrativa, histórico de oposição ao PT e independência política em relação ao bolsonarismo. A estratégia inclui ampliação de sua imagem no Nordeste, como evidenciado pelo lançamento da pré-campanha em Salvador, além de agendas previstas em estados do Sudeste e Norte nas próximas semanas.

Caminho até 2026

Ronaldo Caiado aposta na combinação de segurança, gestão e conservadorismo para se viabilizar como nome nacional. Seu partido, o União Brasil, ainda não formalizou alianças, mas a pré-campanha já conta com apoio de prefeitos, deputados estaduais e lideranças empresariais — especialmente no Centro-Oeste e no agronegócio.

“Estou pronto para enfrentar esse desafio. O Brasil precisa de um presidente que governe para todos, sem populismo, sem tutelas e com coragem para tomar decisões difíceis”, concluiu.

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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