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Preço dos hortigranjeiros sobe em Goiás e acende alerta entre feirantes e consumidores

Batata-doce, alface e tomate acumulam alta no atacado; feirantes relatam retração nas vendas e consumo desacelera na Grande Goiânia

A Ceasa de Goiânia — maior entreposto de hortigranjeiros do Centro-Oeste — registrou aumentos significativos nos preços de itens básicos nas últimas semanas, com impacto direto sobre o varejo popular. Dados levantados até o início de abril mostram, por exemplo, a batata-doce chegando a R$ 2,54/kg, a alface a R$ 27,00 a dúzia e o tomate a R$ 8,00/kg, refletindo um cenário de pressão sobre feirantes e consumidores em todo o estado.

De acordo com apuração do Diário de Aparecida, os reajustes não se limitam a um ou dois produtos. Praticamente todos os hortifrútis de maior giro — como couve, pepino, cenoura, beterraba e mandioca — registraram algum grau de elevação no preço desde fevereiro. Essa tendência acompanha o final do período chuvoso e o início da transição para o cultivo de outono, época marcada por menor produtividade e aumento no custo de irrigação.

Feirantes expostos à margem mínima

Na Feira do Garavelo, em Aparecida de Goiânia, os relatos de dificuldade se repetem. Com o consumidor comprando menos e o custo da mercadoria em alta, as margens de lucro estão cada vez mais apertadas.

“Tem dia que eu volto com quase metade da mercadoria. Se aumento o preço, ninguém compra. Se abaixo, não cubro nem o que gastei”, diz Agnaldo Rodrigues, que trabalha com hortaliças há quase duas décadas. Ele afirma que a batata-doce, um dos produtos de maior saída, encareceu mais de 40% em dois meses, afetando diretamente o volume de vendas.

Na feira do Cruzeiro do Sul, a vendedora Márcia Nunes confirma a dificuldade. “A gente montava a banca com o dobro de produto. Agora tem que reduzir tudo. Tomate, então, ficou artigo de luxo.”

Dados confirmam a percepção

A análise dos dados nacionais obtidos pelo Diário de Aparecida mostra que a Ceasa de Goiânia está entre os centros de distribuição com preços medianos mais elevados para determinados hortigranjeiros no mês de março. O alface, por exemplo, foi cotado em R$ 27,00 a dúzia, contra R$ 16,67 em Brasília e R$ 12,00 em Salvador. Já o tomate, que bateu R$ 8,00/kg em Goiânia, teve média de R$ 5,56 em Campinas e R$ 4,15 em Recife.

Esses números ajudam a entender por que os feirantes relatam retração nas vendas. O consumidor está substituindo alimentos, reduzindo volume ou simplesmente deixando de comprar.

Efeitos no consumo e no prato

Para a economista Camila Prado, consultada com exclusividade pela reportagem, o padrão de consumo da população goiana está se ajustando rapidamente. “As famílias estão optando por legumes e frutas que mantiveram estabilidade, como chuchu e cenoura. Mas mesmo esses começaram a subir em abril”, afirma.

Camila alerta que a percepção de inflação no hortifrúti costuma ser imediata. “Quando o alface sai de R$ 15,00 para R$ 27,00, ele deixa de ser prioridade no carrinho de compras. E com isso há perda nutricional também. Quem mais sofre é a população de baixa renda.”

Logística e clima explicam parte da alta

Os aumentos não são exclusivos de Goiás, mas o estado sente mais fortemente os efeitos da entressafra devido à dependência de abastecimento de outras regiões — como o Sul de Minas — e à instabilidade da produção local em pequenas propriedades.

Para o engenheiro agrônomo André Vilela, consultor em cadeias produtivas alimentares, ouvido exclusivamente pela reportagem, a explicação está no desequilíbrio entre oferta e demanda. “Quando há quebra na produção em outros polos, Goiás precisa absorver a lacuna. Mas o custo do frete e a falta de infraestrutura elevam o preço ao consumidor final.”

Segundo ele, o fortalecimento da agricultura familiar próxima aos grandes centros urbanos seria uma forma de contornar a volatilidade de preços. “Mas ainda há entraves de crédito, logística e escoamento.”

Expectativas para os próximos meses

A previsão de uma safra mais robusta a partir de maio pode aliviar parte da pressão, segundo a analista de mercado Flávia Cardoso, que acompanha as variações semanais de preços. “Já notamos recuo no preço do pepino e da cenoura. Com a entrada da produção de folhosas de municípios como Hidrolândia e Nerópolis, o alface pode voltar à média de R$ 18,00 até o fim de maio”, diz.

Para o consumidor, a orientação é seguir diversificando a alimentação e substituindo itens de maior peso no orçamento. “Buscar feiras de bairros e compras coletivas também ajuda a equilibrar o impacto mensal.”

Fernanda Cappellesso

Olá! Sou uma jornalista com 20 anos de experiência, apaixonada pelo poder transformador da comunicação. Atuando como publicitária e assessora de imprensa, tenho dedicado minha carreira a conectar histórias e pessoas, abordando temas que vão desde política e cultura até o fascinante mundo do turismo.

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