Notícias

Sufocado por quase 50 processos, Marconi ainda não conseguiu espaço para ressurgir

Falar em Tempo Novo, o mote que levou Marconi Perillo a vencer quatro eleições para o governo do Estado e passar 18 anos mandando como um semideus na política goiana, é uma absoluta impossibilidade hoje: as novas gerações, que compõem a maioria do eleitorado em Goiás, não sabem o que a expressão significou um dia e só conhecem a sucessão de escândalos que levou à queda do PSDB e à morte política da sua maior liderança estadual.
Marconi busca um caminho para a ressurreição, mas esbarra no desinteresse dos partidos políticos em se aliar com a legenda tucana, receosos dos desgastes eleitorais que isso vai trazer. Ao mesmo tempo, abalado por fatos marcantes como a sua prisão em 2018, mesmo que por 24 horas, perdeu completamente o chamado perfil majoritário e só pode aspirar a concorrer a um mandato proporcional, como o de deputado federal, muito pouco para quem já foi governador e senador – em alguns momentos influindo nos principais acontecimentos da política nacional.
E isso – deputado federal – se não tiver a sua inelegibilidade declarada com uma condenação em 2º grau em qualquer um dos quase 50 processos cíveis e criminais a que responde, indo desde improbidade administrativa até casos mais graves, como a prática de Caixa 2 e 3 e recebimento de propinas para favorecer empreiteiras em contratos com o governo nos seus mandatos.
A situação do ex-governador é desesperadora. Segundo o articulista político Divino Olavo, Marconi trilhará um caminho com mais pedregulhos pontiagudos do que flores e muitas incertezas. A primeira é o aguardado desfecho de uma ação na Justiça Eleitoral em que ele já foi condenado em 1ª instância. Caso haja a confirmação da sentença em 2ª instância, o ex-governador estará automaticamente incurso na Lei da Ficha Limpa e, consequentemente, impedido de disputar eleição. Claro, não se deve descartar, também, a possibilidade da ocorrência de outras condenações nas demais ações que tramitam contra ele no Poder Judiciário.
Fora da esfera judicial, Marconi terá que conviver com o risco latente da síndrome do candidato que recebe muitos votos e perde a eleição porque o partido não atinge o quociente eleitoral. Há dois exemplos clássicos na história contemporânea do Estado: um, o do ex-governador Ary Valadão (PDS), em 1986, e outro, o do radialista Jorge Kajuru, em 2014. Último do ciclo de governadores nomeados do regime militar em Goiás, Ary Valadão perdeu a eleição de deputado federal em 1986, mesmo tendo sido recordista de votos, porque os sufrágios obtidos pelo seu partido na época não atingiram o quociente eleitoral. Jorge Kajuru concorreu para esse mesmo cargo, de deputado federal, em 2014, e também não se elegeu, mesmo diante da grande votação que recebeu.
O quociente eleitoral é calculado da seguinte forma: soma-se o número de votos válidos dados na eleição para o mandato em questão, no caso, para deputado federal, e aí se divide pelo número de vagas. O resultado é a legenda necessária para aquele determinado cargo. A cada vez que o partido obtiver o número de votos do quociente, dá-se a ele o direito a uma cadeira. Mas se não obtiver a soma de votos do quociente, não terá direito a nenhuma vaga, mesmo que um dos seus candidatos seja o mais votado da eleição, o que ocorreu com Ary Valadão e Jorge Kajuru.
O risco que Marconi correrá decorre do fato de que o número de prefeitos eleitos pelo PSDB em 2020 ficou aquém do esperado e, pior ainda, da debandada em curso: dos 21 eleitos, a maioria está mudando de legenda. A maior parte das cidades, poucas, onde os tucanos venceram a eleição, são pequenas. Como a atual legislação eleitoral não permite que se façam coligações para a eleição proporcional, isso significa que, para conseguir eleger um ou mais deputados federais, um partido necessitará de muitos votos, mas muitos votos mesmo. Cada sigla necessitará de uma chapa competitiva com vários candidatos buscando votos. O que não parece ser o caso do PSDB.

Tucano se concentra em picuinhas e esquece propostas para o Estado

O ex-governador Marconi Perillo especializou-se em promover picuinhas para tentar desgastar o governador Ronaldo Caiado, a quem atribui todas as mazelas que passou a enfrentar na sua carreira política desde a surra que tomou nas urnas em 2018, quando ficou em 5º lugar na disputa por uma das duas vagas para o Senado por Goiás.
É um erro. De alguém que governou o Estado por quatro mandatos, ou 16 anos, o mínimo que se esperava é que tivesse a preocupação de discutir propostas para o futuro e questões atinentes aos desafios que se apresentam para as goianas e os goianos na economia, na cultura, no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus e na sociedade em geral.
Marconi, depois de um ano e meio desde a derrota eleitoral, ficou sem postar nas redes sociais, mergulhado em um silêncio profundo e de vez em quando justificando como obrigação da sua mudança para São Paulo, onde trabalharia como consultor da Companhia Siderúrgica Nacional e estaria, por contrato, proibido de exercer atividades políticas.
Mas isso é conversa fiada. Tanto que ele voltou à atividade em seus perfis no Instagram, Facebook e Twitter, esmerando-se em disparar críticas contra Caiado – que até hoje nunca tomou conhecimento da atividade oposicionista do ex-governador e também nunca deu qualquer resposta a ele.
O PSDB, maior partido de Goiás durante quase duas décadas, virou pó de traque. E Marconi foi junto. O eleitorado desenvolveu uma ojeriza radical aos tucanos, hoje identificados com situações negativas como a corrupção e o caos administrativo e financeiro do Estado. Dessas cinzas não vai ser fácil – talvez impossível – ressurgir um dia.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo